(Por Rodrigo
Damasio)
Essa questão é
aparentemente simples, existem várias fontes de doutrina que poderiam servir de
amparo para esse tipo de reflexão e muitos santos já falaram disso. Eu vou me
amparar um pouco nisso tudo, mas vou falar muito mais de mim, se vocês não se
importarem.
Esse
questionamento foi tema de uma pregação que eu assisti há um tempo atrás, e o
pregador começou por me colocar um fato que eu jamais tinha notado: o estado
natural de intimidade do ser humano com Deus era tão grande que nós éramos
capazes de escutar os passos de Deus (cf. Gên. 3, 8). Acho que de toda a
pregação, aquilo foi o que ficou na minha cabeça, que na minha verdadeira
natureza, na minha verdadeira identidade, eu seria capaz de ser íntimo de Deus.
Segurem esse fato um pouquinho.
Um pouco mais adiante na minha até
hoje curta caminhada eu me deparei com a obra Jesus de Nazaré de Joseph Ratzinger
(Bento XVI), e nela ele mostrava o detalhe que eu julguei como o mais marcante
de Jesus: ele estava sempre rezando. Me fogem a memória as passagens exatas da
Sagrada Escritura, mas em vários momentos Jesus aparece orando, indo ao monte
para orar, sempre em oração, e Ratzinger com isso concluía que Jesus era,
durante toda a sua vida, relacional com o Pai através da oração, constantemente
indo ao seu encontro. Desde a eleição dos 12 (Luc. 6, 12-16) a noite no horto
das oliveiras (Luc. 22, 39-46), tudo foi feito em oração. Todas as coisas na
vida de Jesus eram amparadas pela comunhão com o Pai não somente em virtude da
consubstanciação com o divino, mas também do elevar da sua natureza humana
através da oração, deste lugar que Jesus veio nos ofertar como via de comunhão
com o Pai.
Diante dessas duas coisas que expus,
vamos falar um pouco de mim. Hoje eu sou vocacionado na Comunidade Católica
Shalom, trilhando meu caminho nesse ano de 2016, e desde que eu tive minha
experiência com Deus, meu coração inflamado por esse amor, pelas várias coisas
que tinha vivido com Ele, desejava rezar. Mas meus irmãos, é bem obvio que eu
fresquinho da minha efusão, naquela paixão louca por Jesus ia querer rezar né?
Afinal, o coração que por tanto tempo sofreu, facilmente se apega as
consolações que só se tem no coração de Jesus. E eu rezei por um bom tempo por
isso, somente para ser consolado, para ser amado, para me sentir bem. Não era
muito uma relação de amor concreto, mas de um sentimentalismo que buscava o
amor de Deus como forma de compensação a tantas coisas que estavam
desordenadas. Depois dessa pregação que falei no começo do texto e das minhas
leituras de Santa Teresa de Jesus (Teresa d’Ávila), minha oração foi se
transformando, foi amadurecendo, se transformando num lugar não somente de
sentimentos, mas de decisão diária, num lugar não somente de ser amado, mas de
amar e aprender a amar. E tudo isso ia evoluindo e ia me preenchendo, e mesmo
com algumas quedas eu ia percebendo que as coisas em mim iam fundamentalmente
mudando, que de certa maneira eu já não era mais o mesmo, que eu não mais só
falava com Deus, mas que começava a ouvi-lo, até semana retrasada.
Semana retrasada, eu não
simplesmente caí, eu despenquei. Fiquei doente e fui despencando em mim mesmo,
no meu sentimentalismo, nas minhas expectativas sentimentalistas para com a
oração, parando nas minhas limitações, e num passe de mágica, foi como se eu
tivesse de volta no tempo, sentindo os pesos de dependências afetivas, de
comodismos, e simplesmente me perguntando o porquê de todas aquelas mudanças,
de todas as missas, de toda a oração, se eu não via muitas coisas que eu queria
acontecerem, se eu não me via já como queria estar. Tudo isso adentrou em mim
de uma maneira tal que eu simplesmente não conseguia parar para rezar, para
fazer minha lectio, simplesmente me perdi. Mas cada coisa acontece por uma
razão, eu precisava entender novamente o que agora eu vou partilhar com vocês
baseado em tudo que já falei.
Um pregador americano de quem gosto
muito chamado Scott Hann tem uma pregação chamada “A oração como aliança” e
nela ele ia dissertando sobre como na oração, ao mesmo tempo que nós elevamos o
nosso coração a Deus, Ele se abaixa até nós. Isso bateu em mim profundamente
nesse tempo de dificuldades e eu fui me lembrando do porque eu rezo. Eu rezo
porque assim, seguindo o exemplo de Jesus, eu me uno com Ele e com o Pai. Eu
tenho um lugar onde eu não preciso chegar perfeito, mas posso me assumir como
sou, cheio de falhas, de misérias, o pior entre os leprosos. Eu rezo porque ao
me reconhecer a minha condição eu me encontro com alguém que não impõe
condicionalidades, mas que me ama e me convida a amar da mesma maneira. Eu rezo
não para que seja feito o que eu quero, não para que sejam satisfeitas as
minhas vontades e os meus desejos, mas para me conformar a minha verdadeira
natureza e realização que existe somente na união com a vontade de Deus. Eu não
posso rezar para mudar a vontade de Deus, eu não rezo querendo que Ele mude,
mas preciso rezar para mudar a mim! Você tem noção do quão difícil é tentar
fazer as coisas certo depois de 21 anos e 6 dias querendo viver o que era
errado? Eu não consigo sozinho! Eu sou fraco, eu caio, eu sou de barro. Mas na
oração eu me encontro com a única pessoa que pode me limpar, que pode me
ajudar, que pode me mostrar quem eu realmente sou depois de tantas tentativas
de me esconder de mim mesmo e do mundo com meus pecados. Eu rezo porque eu sou
desfigurado, manchado, e reconheço que somente na comunhão com Ele eu posso me
conhecer, adentrar a minha verdade que se encontra escondida na imagem e
semelhança do divino, na santidade. Enfim, rezo porque quero entrar nessa
comunhão com o Pai que Jesus tornou possível, porque preciso, desesperadamente
voltar a ser quem sou, a ouvir os passos de Deus me guiando.
Por fim irmãos, depois dessa
explicação meio longa, queria apenas dizer uma coisa: não seja burro como eu.
Não deixe que a sua sujeira lhe impeça de adentrar o único lugar que pode lhe
purificar. Não se deixe prender pelo que ainda existe de errado em você e muito
menos queira aceitar o seu pecado como a sua verdade, você nasceu para ser
santo! E somente a oração pode voltar a nossa natureza manchada para essa
verdade. A oração nada mais é do que o coração de Deus aberto e derramado em
amor, nada mais é do que a sua casa, sua origem e destino. Nem sempre vai ser
fácil! Afinal, só pode ser limpo quem reconhece a si mesmo como estando sujo,
só quer voltar para casa quem sabe que ainda está longe. Mas a disposição do
coração humano leva ao abaixar do coração de Deus, nos capacita a caminhar,
ainda que com passos curtos, na direção de Deus. Somente no encontro de um
coração verdadeiramente pequeno e humilhado com o coração crucificado e
apaixonado é que o ser humano pode voltar a si mesmo e a sua verdade, se
inserir na dinâmica do eterno, do amor que jorra de Deus e que deseja inundar
os nossos corações. Somente na oração podemos ouvir os passos de Deus, entrar
em comunhão com Ele, e assim ser transfigurados com Ele, aprender a amar e a
viver na concretude da nossa carne, com toda a nossa limitação, o amor santo e
santificante que se torna acessível a nós pelo sacrifício e exemplo do Amado
Jesus.
Único Amor
Única Paz
Único Bem
Que pode saciar meu coração
Plenamente
Fora Te procurei
Foi dentro que Te encontrei
Eu quero me entregar a este amor
Eternamente
Óh infinito Amor!
Eu quero render meu ser, ao Teu ser
Que jorra da Cruz
Em Sangue e Água derramados
Do Teu coração em meu coração
Trocando a morte, em ressurreição
Pulsando em mim
Um novo amor, apaixonado
Apaixonado
(Único
Amor – Comunidade Católica Shalom)
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