Acídia

(Por Mariana Neves)

“Duas tentações frequentes ameaçam a oração: a falta de fé e a acídia, que é uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, que leva ao desânimo”
(CIC 2755)

Olá, irmão em Cristo! Estamos chegando na reta final dos textos sobre as doenças espirituais. Na próxima semana, devido a JMJ (Jornada Mundial da Juventude), iremos dar um intervalo no assunto e daremos prosseguimento na primeira semana de agosto.
Hoje, falaremos a respeito da acídia. Mas o que vem a ser esse nome estranho? Vamos ver em alguns lugares a acídia sendo tratada como preguiça, mas “os Padres espirituais entendem esta palavra como uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração” (CIC 2733), e de acordo com o Papa Emérito Bento XVI, é caracterizada pela falta de esperança.
Todos sofremos em maior ou menor grau a acídia, porém aqueles que chegaram na meia idade sofrem mais. Os Santos Padres chamam este mal de “demônio meridiano” devido o Salmo 91 (“Não temerás o demônio do meio-dia”). Eles fazem essa comparação porque notavam que quando chegava o horário do meio-dia (entre 10h e 14h), era o momento do maior calor, e as pessoas sentiam que as forças diminuíam, sentiam uma certa prostração, e isso também acontece na nossa vida. Quando chegamos na meia idade surge essa falta de energia, a prostração geral. Nos casos graves, as pessoas não têm forças para sair da cama, ou em casos mais graves ainda, sequer têm vontade de fazer coisas simples, como tomar banho. Porém, nos dias atuais, o que acontecia com as pessoas mais velhas, hoje acontece com nossos jovens e crianças.
Podemos confundir acídia com tristeza (texto da semana passada), pois são doenças bem parecidas. Na tristeza, tem-se uma manifestação de desejo frustrado, ou manifestação posterior a ira; já na acídia a manifestação ocorre nas duas realidades: desejo e ira ao mesmo tempo. Como assim? Uma das características da acídia é odiar o que eu tenho e desejar o que não tenho, passando a ter uma certa desilusão por ver aquilo que eu sonhei e não realizei.
É uma doença muito contraditória, porque tem preguiça na hora de rezar, de realizar o seu trabalho, mas se manifesta no extremo ativismo da pessoa que não pode parar quieta. Um fenômeno muito típico da acídia é a vagabundagem, principalmente espiritual, porque a pessoa não consegue se aquietar e busca formas de não se encontrar consigo e acaba negligenciando a sua vocação, dando início às crises vocacionais. E justamente por isso, muitos jovens se encontram diante da falta de decisão vocacional.
O primeiro passo para a cura dessa doença é identifica-la, mas é um pouco complicado porque a acídia gosta de se travestir de virtude. Por estar inquieta, a pessoa dá desculpas para não rezar, cai no ativismo porque a pessoa percebe que está mal consigo e cria um milhão de atividades para não precisar ficar só, tem uma agenda cheia que pode ser uma forma de mascarar o vazio interior que se sente. Ou seja, a acídia causa a morte da nossa vida de oração, porque é na oração que nos encontramos com o que somos, com as nossas misérias.
Resumindo, essas são as características básicas da acídia: atonia da alma, inquietação interior (constante tentação de mudar de lugar), vagabundagem dos pensamentos, ansiedade, mal-estar ao realizar seu próprio trabalho, sensação de vazio, questionar o amor de todos por si (não se sente amada). Inclusive, o acidioso tem a tendência de dizer muito que Deus o abandonou.
E como nos curamos da acídia? A terapia é dividida em duas áreas: remédios da ira e remédios do desejo.
Remédios da ira: É necessário ter paciência e suportar o sofrimento, por mais que a nossa sociedade nos ensine a buscar o conforto e o prazer; é necessário se manter no lugar, evitando a fuga e buscando momentos de solidão para poder se reconciliar consigo; buscar a direção espiritual, porque um diretor pode nos conduzir para que possamos nos curar desse e das outras doenças espirituais; ter perseverança e medida, pois devemos ter a consciência que devemos começar do pequeno, ser simples, ser pequeno; e buscar trabalhos gratuitos, sem ganância e simples.
Remédios do desejo: domínio de si, das paixões e dos desejos através de jejuns, dentro da medida também porque precisamos aprender a exercitar a força de vontade; ter contato com a palavra de Deus, buscando pequenas gotas da palavra de Deus, fazer pequenas jaculatórias; remédio das lágrimas, em que reconheço o meu pecado e choro pelas minhas misérias, ao invés de chorar pelo mal que me está acontecendo; meditação sobre a morte, porque quando tomamos consciência de que não pertencemos a este mundo, voltamos para a realidade e aprendemos a viver; e a oração dos salmos, que são considerados a enciclopédia da alma pois lá encontramos tudo a respeito de nossa alma.
Por fim, a acídia pode ser vista também como dom de Deus. São as dores do parto do nascimento de um homem novo. “Quando a mulher está para dar à luz, sofre porque veio a sua hora. Mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da aflição, por causa da alegria que sente de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós: sem dúvida, agora estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria” (Jo 16, 21-22).
A acídia só tem uma cura: o combate, a luta espiritual perseverante. Rapazes, sejam homens e aguentem firme! Moças, sejamos mulheres de fibra e esperemos em Deus! A nossa força está no Senhor. Confiemos!
Gostaria de ressaltar a importância de buscar a direção espiritual. Acredito que muitos podem se identificar com algumas características e não saber o que fazer de fato. Um pai ou uma mãe espiritual saberão como conduzir nesse caminho de ascese espiritual, ajudando a vencer esses pequenos obstáculos que encontramos na nossa vida espiritual.
Fiquem com Deus e que Nossa Mãe nos auxilie nessa caminhada com Cristo!

“O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo? Quando os malvados me atacam para me devorar vivo, são eles, meus adversários e inimigos, que resvalam e caem. Se todo um exército se acampar contra mim, não temerá meu coração. Se se travar contra mim uma batalha, mesmo assim terei confiança. Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Senhor e contemplar o seu santuário. Assim, no dia mau ele me esconderá na sua tenda, ocultar-me-á no recôndito de seu tabernáculo, sobre um rochedo me erguerá. Mas desde agora ele levanta a minha cabeça acima dos inimigos que me cercam; e oferecerei no tabernáculo sacrifícios de regozijo, com cantos e louvores ao Senhor. Escutai, Senhor, a voz de minha oração, tende piedade de mim e ouvi-me. Fala-vos meu coração, minha face vos busca; a vossa face, ó Senhor, eu a procuro. Não escondais de mim vosso semblante, não afasteis com ira o vosso servo. Vós sois o meu amparo, não me rejeiteis. Nem me abandoneis, ó Deus, meu Salvador. Se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá. Ensinai-me, Senhor, vosso caminho; por causa dos adversários, guiai-me pela senda reta. Não me abandoneis à mercê dos inimigos, contra mim se ergueram violentos e falsos testemunhos. Sei que verei os benefícios do Senhor na terra dos vivos! Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor!”

(Salmo 26)

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