Agostinho, a verdade e a decisão


(Por Rodrigo Damasio)

“A vida feliz é a alegria que provém da verdade” Santo Agostinho

            Amados, confesso ter lutado essa semana para achar algo que pudesse falar de novo e que pudesse animar não só o coração de vocês, mas também o meu, e o meu novo é de certa forma bem antigo, mas ainda assim bastante válido: falemos então um pouco sobre Agostinho.
Acho que dos exemplos de santidade que vi até hoje, um dos que mais me atrai é o de Agostinho de Hipona, precisamente por ele ter sido tão pecador quanto alguém pode ser e ter sido resgatado pela misericórdia infinita de Deus. Agostinho desde sua juventude tinha uma inquietação em sua alma, ele queria saber o que era a verdade. Algo bastante curioso para se querer saber né? Ele não buscava “uma” verdade, mas sim “a” verdade, algo absoluto, coisa que está em falta no nosso mundo que cada vez mais sucumbe ao relativismo.
            Na primeira parte das confissões, vamos assistir ao jovem Agostinho enveredando por todos os caminhos possíveis em sua busca implacável. Ele buscou a verdade na filosofia, na astrologia, no maniqueísmo e em tantos outros lugares. Enquanto buscava, se permitia entorpecer pelos prazeres do mundo, achando que eles também faziam parte da verdade, e cada vez mais se afundava. A corda que segurava Agostinho de se perder de vez era a crença em um Deus, perfeito e imutável, criador de todas as coisas, mas a sua busca se baseava em tentar ver a verdade e buscar a sua felicidade nas criaturas e não no criador. A mente aguçada que Agostinho recebeu como dom de Deus o levava também a ver a incompletude em tudo e a vagar por todos os lugares em uma busca que eventualmente o levaria, não pela sensibilidade, mas pelo intelecto, a Igreja Católica e ao encontro com Deus. Ainda depois do seu encontro com o Pai, Agostinho se debatia entre as alegrias do mundo e a felicidade que existe em Deus, e passou por um processo até ver, depois de ter provado de toda a sorte de alegria e de “verdade”, que somente uma existia.
            A constatação que Agostinho demorou anos para fazer é de certa maneira simples. Ele percebeu que a felicidade e a verdade não eram coisas, mas uma pessoa, a pessoa de Jesus Cristo. Essa percepção foi o ponto de viragem na vida de Agostinho, que decidiu se abandonar nos braços do amor e da misericórdia que a tanto lhe chamavam. Como sempre, vou trazer esse exemplo para nós porque a santidade não é algo que não possa ser a nossa realidade. Vou começar por mim.
Eu antes de Deus era o primeiro a falar que a verdade é uma questão de opinião em determinadas situações, que nada servia para todos da mesma maneira e que não existe algo que seja verdade para todos e por isso buscava qual seria a minha verdade, aquilo em que poria minha fé. Várias coisas já foram titulares da minha fé: a ONU, os direitos humanos e tantos outros princípios e crenças (passei até por um tempo em que achava o Islã algo bastante legal). Acho que não preciso dizer que minha busca sempre batia na parede. Quanto a felicidade, geralmente a encontrava no fundo de um copo de Tequila, em uma noite qualquer, em algum lugar, em conversas impróprias e outras coisas (não vou citar meus prazeres lícitos porque não vem ao caso). Não preciso afirmar que isso não era felicidade.
Eventualmente, eu cansei de procurar em tantos lugares e um relacionamento me levou a querer algo a mais, e esse querer me levou a um retiro onde eu me encontrei com a verdade e a felicidade, ambas em artigos definidos, e em realidade definida pela pessoa de Jesus Cristo. Isso mudou tudo. A percepção do que é real termina por mostrar a falsidade de todas as coisas, mas me encontro em uma situação bastante curiosa que pode também ser a sua. Sabe as tais alegrias que não são felicidade? Eu ainda gosto de algumas. Sabe as “verdades”? Eu ainda estou num processo de encontro cada vez mais profundo com a verdade para me desvencilhar de todas as outras. E sabe do mais? Agostinho também passou por isso. Mas eu quero ressaltar uma necessidade: é preciso dar o passo na direção da verdade.
 É preciso sair do comodismo do relativo para viver o radical, sair da ilusão das imagens e abraçar a realidade. É bem difícil sabe? Você vai recordar as vezes dos velhos prazeres, vai questionar o que não entende, mas uma vez que a verdade foi vista, o seu coração não vai conseguir mais ignorá-la e aí começa o caminho. Não trilhamos esse caminho sozinhos, mas com um Deus amoroso que nos tomou pela mão desde o começo, mas que precisa escutar constantemente, a cada dia e a cada passo que você quer, que você deseja caminhar na verdade e na felicidade.
Escrevi sobre Agostinho e falei um pouco de mim para mostrar como é difícil romper com tantas coisas que já fizeram parte da nossa vida e nos jogar no abismo de Deus, mas todo caminho precisa de um primeiro passo e de passos constantes. Ainda que seja aos poucos, que não seja tudo de uma vez, precisamos nos decidir pela verdade e pela felicidade, nos decidir por Jesus. É muito lindo dizer que o amo e permanecer fora, amor sem decisão é puro sentimentalismo. Fica o convite para vocês e para mim: decidamos AMAR!
 Tenhamos a coragem de nos confiar no amparo da graça de Deus para viver a nova vida de amor, alegria e verdade que existe em Jesus Cristo.
Tenhamos a coragem de buscar a vida feliz da verdade, a vida de cruz e ressurreição que nos propõe o salvador!
Shalom!

Tarde, tão tarde eu te amei
Tão longe de ti andei
Tão longe que me perdi

Fora, tão fora de mim busquei
Tão fora que eu arrisquei
Perder-me de ti

Tarde, tão tarde te amei
Tão longe de ti andei
Tão longe que me perdi

Fora, tão fora de mim busquei
Tão fora que eu arrisquei
Perder-me de ti

Então tua doce voz ouvi
Eu acordei não resisti
Estavas tão dentro e tão fora preso
Brilhaste, agora te vejo

Refrão
Senhor te encontrei, como te deixarei?
Selaste minha alma, tocaste com tua paz meu coração
Senhor te encontrei, como te deixarei?
Selaste minha alma, tocaste com tua paz meu coração
E agora anseio por ti
(Agora Te Vejo – Missionário Shalom)



Comentários