(Por Rodrigo
Damasio)
"A meu ver, a oração não é outra coisa senão
tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama e estar muitas vezes a
sós conversando com Ele". (Santa Teresa d'Ávila)
Amados
irmãos, sendo eu chamado a vocação Shalom, esta companheira que vos trago hoje
eventualmente apareceria em nossas conversas, vamos hoje falar um pouco sobre a
mulher que reformou o Carmelo, santa, doutora da igreja, e antes de tudo alma
amante de Jesus, Teresa d'Ávila. La Santa (como é carinhosamente conhecida por
seus compatriotas espanhóis) carregava desde a sua infância um traço
interessantíssimo em sua alma, uma vontade que desde muito jovem expressava aos
seus pais: a pequena Teresa desejava ver Deus. Esse desejo foi uma constante em
meio às dificuldades enfrentadas com a morte de sua mãe na infância e nos anos
de sua adolescência nos quais chegou a adentrar em vaidades mundanas e por fim
tomou posse de sua vida, resultando na decisão de tomar o hábito como monja
carmelita.
Teresa
é doutora da Igreja principalmente em razão dos seus ensinamentos acerca da
vida de oração, onde através do amor esponsal ela foi capaz de adentrar as
profundidades do coração de Deus e da alma humana, e é sobre a oração de Teresa
que eu quero falar um pouco hoje. La Santa, chegada como era em analogias, vem
nos mostrar os estágios da vida de oração como o cuidado de um jardim. No
começo esse jardim está cheio de ervas daninhas, de pragas e de toda sorte de
coisas ruins, até que depois do nosso encontro com o Divino Amigo, Ele mesmo
começa uma obra de purificação no nosso jardim e vai retirando as coisas ruins
para plantar virtudes. Contudo, nosso amigo espera a nossa ajuda para regar as
plantas que Ele nos deu para cuidar, para cultivar no nosso jardim as mais
belas flores e nós, desejosos como estamos de amar o amado, nos colocamos no
trabalho de regar esse jardim. No primeiro estágio de oração, nós, com muito
esforço, vamos a um poço buscar água. No processo trabalhoso muita da água se
perde na subida do balde e nós chegamos a exaustão para colher pouca água,
fazendo com que nosso jardim sobreviva com muita dificuldade. No segundo
estágio, nosso Divino Amigo nos presenteia com uma roldana, que torna a subida
do balde mais suave e o nosso trabalho menos pesado, mas ainda assim exige
esforço e dedicação, e muitas vezes é também cansativo. No terceiro estágio da
vida de oração, é como se coletássemos a água de um rio, uma fonte constante e
abundante que está a nossa disposição e que faz com que nosso jardim de
virtudes cresça cada vez mais belo. No quarto e último estágio da vida de
oração, o protagonismo do Divino amigo vem mais evidente que nunca, pois ele
mesmo manda chuvas, periódicas e abundantes, para tornar o nosso jardim um
lugar belo e perfumado para o seu descanso.
Falando
um pouco de nós mesmos e de Teresa, vamos dar uma olhada nesses passos. Acho
que uma coisa fundamental que o Divino Amigo precisa deixar claro de começo é
que Ele é o protagonista nessa história. Note que Ele decidiu plantar no seu
jardim, Ele optou por lhe pedir ajuda e em todos os momentos Ele lhe ajuda
(quando não faz misericordiosamente Ele mesmo o trabalho). Isso quer dizer que,
a oração não é algo que você vai decidir ter por forças próprias e ponto, é
algo que você vai desejar por amor, e o Divino Amigo, por desejar estar com
você e contar com a sua ajuda vai lhe conceder, não na sua maneira, mas na que
Ele desejar. A sua função, em todos os momentos é seguir cuidando do jardim,
aproveitando quando houverem as consolações do amigo e trabalhando amorosamente
quando não houver. O primeiro estágio seria aquele nosso começo onde qualquer
20 minutinhos rezando já é difícil, onde sua mente vaga por 1001 obrigações e
outras coisas e a sua concentração parece ser algo distante. Teresa passou
muito tempo por essas bandas, sabia? Por muitos anos ela não conseguia se
concentrar bem ou até mesmo deixava que os seus pecados à impedissem de se
dedicar ao cuidado do seu jardim (o que ela reconhece como tendo sido uma das
grandes provações de sua vida). Eu confesso muitas vezes me encontrar por aqui
também, meio distante, puxando o balde com sofrimento e colhendo pouca água. No
segundo estágio, nosso amigo já percebe o tamanho do esforço que estávamos
fazendo e decide, por misericórdia, nos ajudar, e dá assim momentos de
consolação, como que nos sequestra com a sua presença, mas por tempo limitado,
ainda exigindo que nos esforcemos para nos concentrar. No terceiro estágio, nosso Amigo meio que
assume com o mínimo dos nossos esforços, só precisamos estar ali e deixar acontecer
naturalmente. Nesse estágio é por onde muitos santos andam com frequência e a
presença do Amado começa a ser mais sensível. No quarto estágio (do qual eu
passo BEEEM longe) é onde estão as experiências de habitação com Deus, os
êxtases, e os momentos onde claramente o ser humano é arrebatado pela presença
divina.
Uma
coisa que eu queria deixar claro é: nenhum desses estágios é permanente (vamos
subir e descer durante a vida toda) e nenhum é alcançável sem a determinação do
coração em amar e conhecer a Deus na oração. Não caiamos na tentação de tentar
achar onde estamos nesses estágios, apenas aceitemos as consolações quando
vierem e amemos nas dificuldades. E não caiamos na ilusão de que esse jardim
vai sempre se regar sozinho e que eu sou passivo no meio disso. Deus desejou
fazer dos seres humanos almas esposas do seu filho na oração, mas a
esponsalidade somente existe quando no reconhecimento do amor de Deus nós
empreendemos os nossos esforços para amá-lo. A vida de oração sempre vai exigir
de nós o que Teresa chamava de a "determinada determinação", o amor
ao amado que vai nos levar a cultivar por amor o mais belo jardim e a proclamar
nas palavras de Teresa, que só Deus basta.
Amados,
o cuidado do jardim vai demandar tempo durante toda a sua vida, vamos passar
por secas e por bonanças, mas devemos ter a constante determinação de seguir,
por amor, no trato da obra de Deus em nós. Teresa coloca a oração como o lugar
do nosso encontro com Deus e assim é onde vamos cultivar nossas virtudes para
amar e onde chego no último ponto para vocês. A oração é uma via que se
reconhece pelos frutos na sua vida, na concretude da sua carne se veem os
frutos do seu jardim. Se você ora, mas nada muda em sua vida, olhe mais de
perto o que ainda existe no seu jardim porque você provavelmente está
cultivando um jardim imaginário. Se os seus frutos são bons, mas você não ora,
não dedica tempo ao cuidado do jardim, se pergunte sinceramente por quanto
tempo as tuas forças irão sustentar essas virtudes aparentes. Teresa indica a
oração não somente como via de amor a Deus, mas através dEle como via de
crescimento no serviço do próximo, uma oração que transforma a vida num hino de
amor. É através da oração que nos tornamos almas esposas, sedentas de amar o
Amado e de derramar por Ele, sobre toda a humanidade, os mais suaves perfumes.
É na oração que crescemos na transfiguração com Cristo e que aprendemos a
permitir que suas virtudes sejam pela sua graça concretas em nossas vidas.
Peçamos
a Deus, pela intercessão de Teresa, que possamos nos perder de amor no cuidado
do nosso jardim e do amado para assim podermos nos entregar aos nossos irmãos
em amor.
Nada te perturbe, Nada te espante,
Tudo passa, Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem, Nada lhe falta:
Só Deus basta.
Eleva o pensamento, Ao céu sobe,
Por nada te angusties, Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, Com grande entrega,
E, venha o que vier, Nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã;
Nada tem de estável, Tudo passa.
Deseje às coisas celestes, Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.
Ama-o como merece, Bondade Imensa;
Quem a Deus tem, Mesmo que passe por
momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta.
SÓ DEUS BASTA!
(Santa
Teresa d’Ávila)
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