Evangelho - Mt 18,21-19,1

(Por Bruno Fachi)

“Jesus respondeu: ‘Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 22)

Bom dia amados, que a face de Jesus resplandeça em vossas faces e o amor e a coragem de Maria habitem em seus corações.
Perdão... Palavra pequenininha, mas com um significado tão intenso e uma ação tão difícil não é mesmo?
Eu, você, todos nós que fomos criados pelo mesmo Autor de toda a existência, temos características comuns entre todos, uma fragilidade humana que nos leva a errar, a falhar com o nosso próximo. Se sabemos que todos nós temos a fragilidade em nossa vida, que erramos, a nossa compreensão e tolerância para com os erros de nossos irmãos deve ser algo constante, uma opção para que nossas vidas se tornem melhores. No entanto, há um desafio para que esta felicidade se torne completa: perdoar.
Quantas vezes fomos ofendidos por alguém? Quantas vezes uma palavra de alguém próximo ou não, nos fizeram desanimar? Ou pior, nos fizeram chorar? O sentimento de solidão, de incapacidade, ao ser alimentado em nosso ser, começa a crescer e a raiva, o ódio dos outros começam a florescer dentro de nós. A vontade de vingança começa a ser o projeto de nossa vida, não importando mais nada ao nosso redor, a não ser querer também sintam e sofram o mesmo. A sede de vingança começa a nos cegar, nos impedindo assim de ver as maravilhas que Deus faz ao nosso favor. Estes sentimentos nos distanciam de Deus e nos impedem de sentir Seu perdão, pois estamos cegos.
O perdão é uma característica fundamental da felicidade. É o caminho que todo cristão deve percorrer para viver uma total liberdade. O perdão nos liberta de todo rancor, de toda raiva, de todo ódio. O perdão é sinônimo de amor, pois só aquele que ama é capaz de perdoar. Não há perdão se não houver amor em nossos corações. Deus é amor e amor em abundância!
No evangelho de hoje, Pedro faz a seguinte pergunta a Jesus: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes’? (Mt 18,21). Sete vezes, número generoso para se perdoar alguém não é mesmo? No primeiro erro de uma pessoa conosco, perdoamos facilmente (dependendo do erro); no segundo erro, já ficamos receosos em perdoar, pois se errou novamente conosco julgamos que irá errar novamente, mas criamos forças e perdoamos; porém, quando a pessoa erra conosco uma terceira vez, nós já começamos a nos negar a perdoar, julgando que a mesma nunca irá mudar e sempre irá nos ferir. Mas Pedro, foi generoso nesta quantia não foi? Você perdoaria alguém que errou contigo por mais de sete vezes? Pedro, porém, não recebeu a resposta esperada.
Seguindo esta pergunta “aritmética” de Pedro, Jesus responde a ele no mesmo terreno, que não se deveria perdoar sete vezes, mas sim setenta vezes sete (Mt 18, 22). Seguindo um raciocínio lógico, realizando a operação matemática, isso quer dizer que devemos perdoar nosso irmão que errou conosco até 490 vezes? Na 491º vez que ele errar conosco, podemos nos negar a perdoar, pois é isto que Jesus disse? Podemos então nos vingar dele? Não.
Na Sagrada Escritura, os números possuem um outro sentido em si, além do literal. Por exemplo no que está dizendo a liturgia de hoje, o numeral 7 possui um amplo e magnífico significado, o mesmo significa a perfeição, a plenitude, ou seja, perdoar 7 vezes, seria perdoar sempre. Mas para não houver dúvidas, Jesus eleva a resposta da quantidade de vezes a se perdoar o próximo até a infinidade, perdoar em todas as situações de erro.
Seguindo ainda no evangelho de hoje, Jesus continua a explicar o sentido do perdão com mais uma das suas belas parábolas. Conta a história de um rei que quis acertar as contas com um servo que lhe devia dez mil talentos, iria vender o mesmo e sua família a fim de poder lhe pagar, mas o servo prostrou-se aos seus pés e pediu um novo prazo para o pagamento. O rei cheio de compaixão perdoou-lhe a dívida. Logo mais o servo viu um de seus companheiros que lhe devia cem dinários, apertando seu pescoço cobrou o devia, logo mais seu companheiro caiu e também lhe suplicou um novo prazo, o servo, porém, nada quis ouvir e mandou prendê-lo. Testemunhas contaram ao rei o ocorrido que então chamou seu servo e mandou entrega-lo aos torturadores, por ele ao receber a compaixão de seu senhor, não teve a mesma compaixão de seu companheiro que lhe devia quantia insignificativa perto do que ele devia. O que Jesus quis dizer ao contar esta parábola?
Esta parábola fala da relação dos seres humanos com Deus e com os outros. Podemos nos colocar no lugar dos personagens da parábola, onde a dívida de 10 mil talentos, uma conta impagável, simboliza a situação de qualquer pessoa a quem Deus perdoa por pura graça. Já a atitude mesquinha do servo retrata o coração humano.
Qual deve ser nossa reação diante do próximo?
“O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente.” (Papa Francisco)
A nossa dívida com Deus pelos perdões obtidos pelos nossos pecados não há como pagar. Deus pela sua misericórdia, nos enviou seu único filho para se entregar em uma cruz e nos libertar de todos os pecados, nos amando até o fim. A graça do perdão que Deus nos abre é de uma maneira jamais esperada, porém assim como na parábola, a retira dos corações ruins que negam o perdão ao próximo. Desse modo, o Pai Divino nos dá o exemplo do verdadeiro perdão, ensinando que todos os nossos atos devem ser feitos para restaurar a amizade, a união com o próximo, vivendo eternamente o amor e o perdão que Deus nos concede.
Quem experimenta a misericórdia do Pai não é capaz de calcular os limites do perdão e do amor para com o próximo. Amai eternamente.

Todos os pecados meus e o teus foram cravados no madeiro 
Pois Jesus com seu sangue nos lavou.
Ele se fez cordeiro e recebeu as dores que nos foram impostas
E na cruz com amor nos libertou.
Ele desceu de sua realeza para se fazer sacrifício por nós,
Se aniquilou e se entregou.
E como ovelha muda ao matadouro, 
Não murmurou não reclamou por nada 
E decidido pelas nossas vidas,
Obediente foi até a morte de cruz.
Oh santa cruz, bendita cruz.
Bendita seja a cruz o amor por ela se revelou, 
Nós somos a Igreja da cruz, por isso a exaltamos Senhor.
Não existe mais barreira entre nós, por ela o véu do templo rasgou,
O céu está aberto pra nós, o que era pecado agora é graça sem fim.

(Banda Arkanjos – Santa Cruz)

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