(Por Rodrigo
Damasio)
"Quando Cristo se refere ao 'princípio', pede
aos seus interlocutores que transponham, em certo sentido, o limiar que, no
livro do Gênesis, separa o estado de inocência original e o da pecaminosidade,
iniciado pela queda original" catequese de João Paulo II em 26 de setembro
de 1979
Amados, faremos hoje uma reflexão sobre essa passagem importantíssima do
evangelho que foi ponto de partida para a primeira parte do ciclo de catequeses
de São João Paulo II que ficou conhecido como a "Teologia do Corpo".
A situação inicial é uma comum no evangelho: Jesus sendo posto à prova por
fariseus. Desta vez, nosso Senhor é indagado acerca da questão do divórcio, que
havia sido permitido pela lei de Moisés. O meu convite a refletirmos hoje é
focado em duas partes da passagem.
No versículo 8, Jesus faz referência a dureza do coração do homem e contrapõe essa com a situação do princípio. Teologicamente, essas duas realidades encontram a natureza humana em pontos diferentes, sendo a primeira num status naturae lapsae (estado de natureza decaída) e a segunda num status naturae integrae (estado de natureza íntegra, levando a percepção que vemos na primeira citação: a compreensão da resposta de Jesus e de sua mensagem pedem que nós retornemos ao estado humano de inocência original, da natureza íntegra, ou como Ele mesmo coloca "princípio".
No versículo 8, Jesus faz referência a dureza do coração do homem e contrapõe essa com a situação do princípio. Teologicamente, essas duas realidades encontram a natureza humana em pontos diferentes, sendo a primeira num status naturae lapsae (estado de natureza decaída) e a segunda num status naturae integrae (estado de natureza íntegra, levando a percepção que vemos na primeira citação: a compreensão da resposta de Jesus e de sua mensagem pedem que nós retornemos ao estado humano de inocência original, da natureza íntegra, ou como Ele mesmo coloca "princípio".
Nosso Amado nos chama a transcender a compreensão do matrimônio como um
contrato, como uma mera coabitação (que é própria da natureza manchada pelo
pecado) e retornar ao seu sentido original como uma vocação designada por Deus
para a felicidade do homem. Especialmente nos tempos de hoje, na nossa cultura
do descartável, onde a santidade do matrimônio é cada vez mais corroída pelas
falhas humanas, Jesus quer nos conduzir a olhar a nossa verdade, a verdade de
uma natureza que apesar de manchada, é herdeira da inocência original, da
santidade, e que é chamada a viver o presente não num egoísmo hedonista, mas em
função do eterno.
É difícil ver as coisas assim, né? É tão mais fácil me acomodar no meu pecado,
nos meus momentos de alegria passageiros, viver em função do meu prazer, em
resumo, viver uma vida inteira sem buscar a minha verdadeira natureza, aquilo
que realmente sou. É fácil e cômodo viver de ilusões e mentiras, mas essa não é
a nossa vocação, isso não é quem nós somos!
Essa passagem como um todo tem um cunho profundamente vocacional e
sabiamente o Espírito Santo nos colocou ela nesse mês. As palavras de Jesus são
um pedido para que voltemos a Deus, ao nosso estado de natureza original, e
esse retorno é possível a nós pela cruz e ressurreição de Cristo, mas exige
decisão. Exige que enxerguemos a vocação original, o retorno ao princípio, à
santidade, como nossa meta de vida, para que a partir desse retorno, tudo possa
ser santificado. A natureza decaída não consegue compreender a
indissolubilidade do matrimônio, a beleza do celibato pelo reino, não
compreende nada que vá de encontro as suas noções ilusórias de verdade baseadas
num prazer egoísta, e por isso Jesus nos convida ao retorno, para que pela
santidade, todas as outras realidades sejam vividas em conformidade com a santa
vontade de Deus na qual reside a nossa verdade.
No versículo 11, Jesus começa ainda a expor a diversidade dos estados de
vida dentro da vocação a santidade, falando claramente que nem todos são
chamados a mesma coisa e por isso não compreendem. Na continuação, Ele expõe a
opção daqueles que são chamados a estados de vida que compreendem o celibato,
mas mesmo assim, o princípio, a origem é traçada em qualquer dos casos (matrimônio
ou celibato) para a inocência original. Não estou aqui afirmando
categoricamente que conseguiremos fazer esse retorno a originalidade, mas para
compreender e viver aquilo que Nosso Senhor nos chama, os belos sonhos de Deus
para nossa vida, é necessário a vontade de tentar, auxiliado pela graça de
Deus, fazer esse caminho de retorno ao princípio. Se tivermos a determinação de
buscar sempre a santidade, amparados pela graça e pela misericórdia de Deus,
Ele nos capacitará a viver a realidade do hoje em função do eterno, e assim
trilhar a cada dia a jornada de retorno ao princípio que nos leva aos planos de
Deus, a sua Santa Vontade, e a realização plena e perfeita da nossa natureza.
Por mais que nossa natureza decaída, nossa dureza de coração, torne difícil
a caminhada, lembremos sempre do nosso princípio e destino que está em Deus e
sigamos sempre e com determinação para a casa do Pai, conscientes do nosso
chamado a sermos santos e vivermos em santidade como o Pai! Que Nossa Senhora, que soube
viver de maneira determinada o caminho da santidade na sua vocação e estado de
vida nos conduza pela mão em nosso caminho de retorno!
Shalom!
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