(Por Bruno Fachi)
“Porque muitos são
chamados, e poucos são escolhidos” (Mt 22,14)
“Sinto gotas leves caindo
sobre meu corpo, gotas que rapidamente ganharam peso e velocidade. Uma
tempestade surgira a minha volta. Desta maneira vou criando coragem para abrir
meus olhos e ver o que acontece.
Abro meus olhos, mas vejo
que algo não está certo, algum problema está acontecendo comigo. Não sinto
minhas pernas, tento me levantar e não consigo, deixo meu corpo cair com um
estrondo batendo fortemente minha costa contra o chão, estou ardendo por
dentro, tudo está dolorido e começo a me desesperar.
Onde estou? O que
aconteceu comigo? Onde estão todos, minha família e meus amigos? Por que tudo o
que enxergo não há cores, não há vida? Me controlo e tento esquecer as dores
existentes em mim para analisar onde estou; nada, não consigo enxergar nada,
tudo é cinza, está frio e chovendo, não tem ninguém por perto, tudo o que vejo
são sombras escondidas por debaixo do grande mar de cinzas.
A chuva começou a ficar
mais densa enquanto escorria pelo meu corpo e tomava cor, vermelho. Sinto dores
fortes em minha cabeça e quando levanto meus braços vejo o sangue sobre mim, o
sangue a minha volta, o único lugar com alguma cor onde eu estiva. O que está
acontecendo aqui?
Ergo meus olhos para os
céus, sinto a chuva forte sobre minha face que não consigo abrir meus olhos
corretamente e tento enxergar Aquele que sei que nunca me abandonaria em
nenhuma circunstância.
- Meu Deus, o que
acontecera aqui? Por que sozinho aqui estou? Onde se encontram todos e por que
tudo o que vejo é o nada? Meu corpo está machucado, não sinto partes de meu
corpo e estou a sangrar.
Meu espírito se encontra
perdido, não consigo escutar a Voz de Deus; lágrimas começam a escorrer pelo
meu rosto e o desespero toma conta de mim. Seria este o fim da minha vida?
Abandonado no profundo vazio, com frio e abaixo de uma tempestade horrível?
Onde estaria Deus que me deixaste para morrer no relento? Por que estou aqui?
Foi quando como um flash,
tudo se passara diante de meus olhos, tudo o que acontecera retornou à minha
mente. Com muito esforço me sento e coloco a mão sobre meu peito e não o sinto,
meu sinal da vitória não estava mais ali, olho o mais longe que consigo e o
avisto juntamente de minha Bíblia, ambos restando apenas pedaços, pois se
queimaram e o que restara foi apenas suas cinzas.
Abaixo lentamente minha
cabeça. Minha família, meus amigos, todos me abandonaram.
Não sentindo mais nada em
mim mesmo, nem meu corpo e nem mais a vontade de viver, finalmente ouço a voz
de Deus em minha mente: “Nada temas,
porque estou contigo, não lances olhares desesperados, pois eu sou teu Deus; eu
te fortaleço e venho em teu socorro, eu te amparo com minha destra vitoriosa”
(Is 41, 10).
- Obrigado Senhor. – Eu
disse em meu interior, recordando em mim o verdadeiro sentido do qual estou
vivendo – Aqui estou, pois Tu mesmo me chamastes a caminhar contigo. Tu
chamaste meus familiares e amigos, porém, nem todos quiseram vir comigo quando
Tu nos enviaste a levar a sua Boa Nova.
Elevo minha cabeça e olhando
para os céus lembrei de dias atrás, quando Deus aparecera em uma noite de festa
de minha família em sonho para mim e meus amigos nos chamando para irmos ao
encontro daqueles que mais precisam de uma palavra de conforto, nos lugares
mais remotos do mundo. “Ide por todo o
mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será
salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16, 15-16) disse o Senhor a
nós naquela noite.
- Muitos temeram o pior
ao lhe servir, pois são fracos e mesquinhos com seus bens materiais e por isso
lhe renegam meu Pai – digo então à Deus – os que aceitaram vir comigo, aqui não
estão mais, pois ao chegarmos onde tu mandaste não nos quiseram por perto,
fomos aterrorizados pelo medo, nossas vidas estavam correndo perigo, mas mesmo
assim Tu nos fortalecia e nos prometeria a salvação para aqueles que o amassem
e não temessem, pois Tu estaria conosco.
Eis as palavras de
fortificação que Deus nos dissera: “Erguerei
ante esse povo sólida muralha como o bronze. Será atacada, mas não conseguirão
vencê-la, pois estarei a teu lado para proteger-te e te livrar” (Jr 15, 20).
Embora Deus estivesse
conosco, meus próximos se aterrorizaram ao encarar a morte em suas frentes e de
lá fugiram. Sozinho fiquei, mas forte em Deus permaneci.
Naquela mesma noite
atacado fui no meio da floresta, não havia população por perto que poderia me
escutar gritar, gemer de dor e por fim morrer, a morte veio e respirou sobre
meus poros, mas nada temi. Na fraqueza Deus se fez forte em mim, tentaram me
humilhar acabando com tudo aquilo que me marcava como um cristão, queimando meu
crucifixo e minha bíblia, destruíram grande parte do meu corpo.
Quando eu não sentia mais
o meu corpo e caído no chão já estava, os avistei chegando lentamente para
terminar o serviço, então vi o pavor em seus olhos fixados para longe, onde
brilhava uma grande luz. Meu corpo adormeceu e juntamente dele meus olhos se
fecharam e não vi mais nada. Minha vida não conseguiram tirar, pois a
verdadeira marca do cristão habitava em meu coração.
Agora sozinho me encontro
abaixo da chuva e do mar de cinzas, me arrasto até onde se encontrava os restos
de minha bíblia, recolho meu crucifixo queimado e o coloco sobre o meu peito.
Deus me protegera e agora em frente irei, seguirei o caminho de meu Senhor,
pois nenhum mal é capaz de derrotar o verdadeiro adorador.
Olho para o leste e os
avisto lá, meus companheiros que fugiram na tarde anterior. Os pegaram antes de
mim e lá mesmo os mataram, empilhando-os em cima um do outro como lixos. Fiquei
em choque, pois eu poderia estar lá juntamente deles naquele instante.
Ouço passos atrás de mim
vindo ao meu encontro. Voltaram para acabar comigo e me jogar junto com meus
amigos. Viro lentamente minha cabeça para acolher a morte de braços abertos.
Olho para aquilo que estava vindo ao meu encontro e o vejo, Jesus com suas
vestes que resplandeciam de brancura e seu rosto brilhava como o Sol, Ele está
de braços abertos. O Senhor me acolhe hoje para a eternidade, nenhum mal temi,
pois o Senhor esteve comigo”.
Amados, por que esta
história acima? No evangelho de hoje, Jesus escreveu por meio de outra parábola
como é o Reino dos Céus, e como devem ser as pessoas das quais frequentarão o
mesmo. O convite de Jesus para permanecer no Reino dos Céus, é feito para todo
mundo de bom coração e de boa vontade, mas exige uma resposta decisiva e
incondicional. Muitas pessoas da sociedade atual se encontram em dúvidas ao que
escolher para si, Reino dos Céus ou valores pessoais, como seus bens; como
também há os que nem ao menos pensam na proposta do Reino Celestial. As pessoas
que aceitam viver em Deus, mas não deixam seus valores pessoais, vivem uma
duplicidade, participando do banquete, mas sem as vestes apropriadas.
“Porque
muitos são chamados, e poucos são escolhidos” (Mt 22,14)
Na reflexão de hoje,
mostra bem a radicalidade do evangelho de devemos ter em nosso dia a dia. Por
mais que estejamos sendo ameaçados de morte por viver a nossa Fé Cristã, não
devemos temer mal algum, é necessário ter um estilo de vida que coloquemos em
prática os ensinamentos de Jesus. Se Jesus morreu em uma cruz para salvar toda
a humanidade, por qual motivo fugimos da mesma? Foi pela cruz que a salvação
veio e é para ela que os salvados devem ir.
Só é possível compreender
o verdadeiro sentido da Salvação na Santa Cruz, se a vivermos em nossa
sociedade. Levar o evangelho deve ser nosso caminho, a morte pode ser uma
consequência, porém, a vida eterna será nosso destino.
Sinto essa mão que comigo está,
quando não tenho forças
É a mão que vem me levantar
É a mão que vem me levantar
quando chegam ás provas
Foi essa mão que ajudou Moisés
Foi essa mão que ajudou Moisés
a dividir o
mar em dois
É a mesma que hoje me acompanha,
É a mesma que hoje me acompanha,
a mão de deus
É a que me sustenta quando eu vou cair
É a que me dá forças para resistir
A que me alcança, que nunca falha
Me move com poder
A mão de Deus.
(Cleiton Saraiva – A Mão de Deus)
É a que me sustenta quando eu vou cair
É a que me dá forças para resistir
A que me alcança, que nunca falha
Me move com poder
A mão de Deus.
(Cleiton Saraiva – A Mão de Deus)
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