A Bíblia e a Lectio Divina

(Por Géssica Casimiro)

“A meditação é uma ação da mente que procura com ardor, sob a guia da razão, o conhecimento da verdade escondida” (Guigo II, monge da Grande Cartuxa)

Irmãos e irmãs em Cristo, boa tarde!
A Lectio Divina é um método de oração muito praticado na Igreja desde os seus primórdios. O primeiro a utilizar a expressão Lectio Divina foi Orígenes- teólogo e escritor cristão, aproximadamente nos anos de 185-253 D.C. Orígenes afirmava que, para ler a Bíblia com proveito, era necessário fazê-lo com atenção, constância e oração.
No ano de 1150, Guigo II, monge e prior da Grande Cartuxa, escreveu um livro intitulado “Escada de Jacó- Tratado sobre o modo de orar, escada dos monges e escada do paraíso”, onde expunha a teoria dos quatro degraus, na sua Scala Claustralium, a saber: a Lectio (leitura), a meditatio (meditação), a oratio (oração) e a contemplativo (contemplação). Guigo afirmava que “essa é a escada pela qual os monges sobem desde a terra ate o céu”.
No primeiro degrau a Lectio, a mente deve estar livre de quaisquer preocupações ou inquietações. Deve ser escolhido um texto bíblico, de preferência curto. Ele deve ser lido, bem lenta, pausada e cuidadosamente, precisamos ouvir interiormente a Palavra com toda a atenção. A leitura do texto bíblico pode ser repetida quantas vezes se fizerem necessárias, até que a palavra faça morada no coração de quem a lê. O leitor-orante não pode se esquecer de que ele é um ouvinte da Palavra de Deus. Durante a leitura do texto, como forma de nos ajudar na aproximação com a palavra de Deus, devemos nos fazer a seguinte pergunta: O que diz o texto?
No segundo degrau a Meditatio,        é preciso deixar o texto bíblico agir e, para que isso aconteça, é necessário “digerir” a Palavra de Deus até descobrir o que Deus quer nos falar através da sua Palavra. Segundo o monge Guigo II, “a meditação é uma ação da mente que procura com ardor, sob a guia da razão, o conhecimento da verdade escondida”. Para isso é preciso haver um diálogo com o texto, fazendo assim, uma atualização do texto para mim mesmo, a pergunta a ser respondida é: O que diz o texto para mim hoje, agora?
No terceiro degrau a Oratio, o leitor-orante é o protagonista do dialogo. Se antes era Deus quem lhe fazia a proposta, agora, através da oração, é ele quem responde a Deus. Ele passa a conversar com Deus a partir do texto bíblico. Aqui poderá ser imitada a atitude de Maria: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A pergunta a ser respondida é: O que o texto me faz dizer a Deus?
No quarto degrau a Contemplatio, é o resultado natural a que se chega pelos passos percorridos anteriormente. Agora as palavras já não se fazem necessárias. Basta o silêncio oracional. É preciso calar-se e entregar-se a Deus. É preciso permitir que seja ele a agir. É um momento de adoração.
O monge Guigo II, afirmava que: “A Leitura procura a doçura bem-aventurada; a Meditação encontra-a; a Oração pede-a e a Contemplação saboreia-a. A Leitura conduz o alimento à boca; a Meditação mastiga-o e digere-o; a Oração formula o desejo e a Contemplação atinge o gosto e a doçura; a Contemplação é uma elevação do espírito acima de mim mesmo; suspensa em Deus, ela saboreia as alegrias da doçura eterna”.
Irmãos, a leitura orante da Bíblia, ou a Lectio Divina, é um alimento que se faz necessário para nossa vida espiritual, pois, a partir desta oração e conscientes do plano de Deus, podemos produzir os frutos espirituais em nossa vida. Portanto, a Lectio Divina é deixar-se envolver pelo plano libertador e amoroso de Deus.
Santa Teresinha do Menino Jesus dizia, em seu período de aridez espiritual, que quando os livros espirituais não lhe diziam mais nada, ela buscava no Evangelho o alimento de sua alma.
Santo Ambrósio dizia: “Quando tomamos nas mãos, com fé, as Sagradas Escrituras e as lemos com a Igreja, a pessoa humana volta a passear com Deus no paraíso”. Essas palavras nos ajudam a compreender como é importante a prática da Leitura Orante das Sagradas Escrituras.
A Exortação Apostólica Verbum Domini, dando especial atenção a Lectio Divina, afirma que esse método “é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra viva e divina. ” (VD 87).
“De modo particular, é necessário que a escuta da Palavra se torne um encontro vital, segundo a antiga e sempre válida tradição da Lectio Divina: esta permite ler o texto bíblico como palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência. ” (São João Paulo II, Novo Millennio Ineunte, 39).
Irmãos, agora que sabemos a importância da Lectio Divina em nossa caminhada, que possamos praticar essa leitura orante da Palavra de Deus, buscando nos aproximar ainda mais do nosso amado e assim estabelecermos uma intimidade maior com Deus.

Santo dia a todos, Deus nos abençoe.

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