(Por
Rodrigo Damasio)
"Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe,
durante a noite, e partiu para o Egito" Mt 2, 14
Amados, prosseguindo com as nossas reflexões sobre as dores de Nossa
Senhora, nós adentraremos hoje a segunda dor, que foi a fuga para o Egito que
vemos narrada no começo do Evangelho de São Mateus. Tentando não enrolar muito
eu gostaria de apontar alguns fatos dentro da narrativa de Mateus que são
importantes para mergulharmos no mistério de Maria nesse contexto.
Primeiramente, é necessário notar que foi algo forçado, porque havia o
desejo de Herodes em matar Jesus (cf. Mt 2, 16). Depois, notamos ainda que além
de algo forçado, foi bastante repentino (cf. Mt 2, 14). E por último, podemos
ver ainda que foi uma mudança que Deus pediu a família de Nazaré por um tempo
indeterminado, pois as palavras do anjo foram simplesmente "fica lá até que eu avise" (Mt 2, 13). Paremos para
pensar um pouco no tamanho da loucura e da violência que essas coisas
humanamente representam.
Maria e José, judeus, eram arbitrariamente chamados a irem de volta para
a terra onde o seu povo outrora fora escravizado, para escapar de uma ordem que
ainda não havia sido emitida (se seguirmos a cronologia que Mateus apresenta) a
respeito do seu filho que tinha um futuro completamente além da sua
compreensão. Hoje em dia espera-se um tempo para que recém-nascidos possam sair
de casa para o mundo, imagine quanto tempo uma mãe de hoje gostaria de esperar
para que seu filho pudesse fazer uma viagem da Palestina para o Egito,
suportando frio e calor, provavelmente tendo por transporte um jumentinho.
Imagine qual não era a insegurança para uma família que já tinha poucos meios
em abandonar tudo para ir para outra terra, com outra cultura e religião. Me
pergunto às vezes quantas vezes na vida de Maria passou pela sua cabeça a
pergunta feita a Gabriel diante da vontade de Deus "Como é que vai ser isso [...]?" (Lc 1, 34). Quanta
violência não sofreu o coração da nossa mãe diante dessa situação, diante de
tanta insegurança, diante dos riscos para o seu filho, diante de uma realidade
nova e imprevisível que se estendia em seu horizonte?
Cada uma dessas vezes que me pergunto sobre quantas vezes Maria se
questionou acerca da vontade de Deus, sempre me admiro porque sei que a sua
resposta foi sempre a mesma dada a Deus por Gabriel "Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua
palavra" (Lc 1, 38). Diante de todos os obstáculos que a sua
humanidade apresentava, Maria sempre escolhia livremente a obediência, diante
de toda a dor, do sofrimento, Maria escolhia a confiança. Maria foi obediente a
vontade de Deus manifesta a José (sendo assim também obediente ao seu marido),
foi confiante na providência de Deus que os sustentaria diante de todas as
realidades adversas, e diante da dor, foi resiliente na consciência de que tudo
deveria suportar para cumprir o chamado que Deus lhe havia feito, que toda a
aparente violência escondia por trás o caminho para a consumação do amor.
Todas as situações apresentadas são bastante humanas, essa dor de Maria
em particular não envolveu nada sobrenatural, então eu lhe pergunto, como a sua
humanidade tem reagido a vontade de Deus? Será que você tem tido a coragem de
cruzar os desertos que Deus lhe chama ou prefere os seus confortos? Será que a
sua segurança tem sido nas promessas de Deus ou nas suas posses que você pode
ver? Diante das provações, qual tem sido a sua postura? Até nas situações mais
difíceis, Maria vêm a nós como um exemplo de abandono incondicional na vontade
de Deus, de entrega inequívoca, de adesão perpétua aos planos de amor de Deus,
mesmo sem os entender.
Hoje, meditando com todas essas coisas, peçamos emprestado a Maria o seu
coração orante (Lc 2, 19) para que possamos ver nas nossas vidas onde existe
essa necessidade de conformidade com os planos de Deus, de coragem diante do
incerto, de confiança diante da dor, para que unidos ao Imaculado Coração de
Maria possamos dar a cada dia um novo sim a Deus e aos caminhos pelos quais
esse sim nos leve.
Que pela intercessão de Nossa Senhora, nós sejamos capazes de, diante da
dor e do incerto, dar a Deus uma resposta de fidelidade e confiança.
Shalom!
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