(Por Stella Araújo)
“Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é a força salvadora de
Deus para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego.
Nele se revela a justiça de Deus, que vem pela fé e conduz à fé, como está escrito:
O justo viverá pela fé” (Rm 1,16).
A Carta aos
Romanos foi escrita pelo apóstolo Paulo durante a terceira viagem missionária,
quando ele ficou três meses na Grécia (Corinto), pouco antes de sua volta à
Jerusalém em 57/58 d.C. Acabara de resolver os conflitos com as comunidades de
Filipo e Corinto, e considerava terminada a evangelização da parte oriental do
império romano: as comunidades cristãs que fundara nas maiores cidades se
encarregariam de irradiar o Evangelho para as províncias. Assim, podia
finalmente visitar os cristãos de Roma e seguir de lá até a Espanha, a
província ocidental do Império. E essa ida à Espanha, é o real motivo da Carta.
Pois somente com os cristãos de Roma unidos, Paulo poderia contar com o apoio
para a evangelização da Espanha. É sobretudo por esta razão que quer visitá-los
e preparar a visita que lhes escreve.
Antes da
evangelização da Espanha, Paulo quer entregar aos cristãos de Jerusalém a
coleta de solidariedade, que desde o “concílio”, organizou nas suas
comunidades. No entanto, ele receia não ser bem aceito. Afinal, é em Jerusalém que
mais o contestam, pois não há da parte dele nenhuma exigência para que os
gentios abracem certos preceitos da Lei Judaica para serem cristãos. Portanto,
aceitação da coleta em Jerusalém levaria na prática, ao reconhecimento das suas
comunidades; e, com uma unidade eclesial de judeus e gentios, assim obtida,
seria mais fácil a missão na Espanha.
A distinção
da Carta aos Romanos em relação às outras cartas de Paulo é o gênero. Pois essa
carta não é motivada por circunstâncias ou perguntas das comunidades, como 1 e
2 Coríntios e Gálatas, mas expõe uma questão teológico-pastoral. Paulo admitia
à comunidade de Cristo todos aqueles que realmente tivessem fé, sem que
primeiro passassem pelo judaísmo, como dito anteriormente. E isso suscitava um questionamento:
a pessoa alcança a “justificação” com
base nas “obras da Lei”, como
sustentavam muitos judeus e judeus-cristãos, ou a “justificação” era alcançada de forma gratuita, e virtude da fé em
Cristo, sem considerar tais “obras”?
Paulo responde de forma clara a esse questionamento: é pela fé, exclusivamente
que se alcança a justificação, ou seja, a amizade de Deus.
Em relação à
essas obras citadas pelo apóstolo Paulo, devemos entender que ele rejeita as
obras que contabilizamos para apresentar a Deus como mérito, impondo-nos a Ele.
Essa atitude configura orgulho inaceitável. No entanto, Paulo não rejeita a
nova atuação que surge da fé e da graça: a “lei
do espírito” e as obras do amor fraterno, cumprimento de toda a Lei.
O apóstolo
Paulo começa a carta com um “credo”
primitivo (Rm 1,3-4). Depois em Rm 1,16-17 é formulada a tese da justificação
pela fé, que dá origem ao seguinte argumento: Primeiramente, Paulo mostra que todos,
pagãos e judeus estão sob o pecado, e que a salvação realizada por Deus é
universal e exclusiva, sendo obtida somente pela fé, uma vez que sem Cristo,
nem sequer os judeus estão em condições de cumprir a Lei e salvar-se, assim
pelos próprios meios. A Lei apenas faz conhecer o pecado, o que realmente
justifica a pessoa é a promessa de Deus aceita na fé, como mostra o exemplo de
nosso pai na fé, Abraão. Sendo assim,
Deus envia Teu Filho para nos salvar, restabelecendo o que foi perdido desde o
primeiro homem, Adão. Logo, vivemos, pois, uma vida nova em Cristo, conforme a
Lei do Espírito.
Na parte
final da Carta contém orientações práticas para a vida cristã. Paulo exorta à unidade, que provém da
participação comum no amor de Cristo e se manifesta no bom relacionamento entre
aqueles que estão dentro e aqueles que estão fora da igreja e, sobretudo, na
aceitação da sensibilidade e diversidade próprias de cada um. Assim, temos aqui
o Evangelho em sua expressão prática.
Paulo não se
envergonhava do Evangelho e ele queria proclamar a Boa-Nova de Cristo a todas
as nações. Em sua Carta aos Romanos, ele expressava o desejo de anunciar ali: “Daí o meu ardente desejo de anunciar o
evangelho também a vós, que estais em Roma. ” (Rm 1,15). E ele sabia o quão
era difícil ser cristão em Roma, a cidade eterna, como era designada, uma
cidade voltada ao prazer a qualquer preço, basta lembrar uma das frases de
Júlio César: “Quero ser o homem de todas
as mulheres, e a mulher de todos os homens”. E por essas dificuldades com
as quais os cristãos se deparavam, que o apóstolo demonstrava sua gratidão. “Primeiramente, dou graças ao meu Deus, por meio
de Jesus Cristo, por todos vós, pois no mundo inteiro se faz o elogio de vossa
fé” (Rm 1,8).
Irmãos, o
apóstolo Paulo é um exemplo a ser seguido por todos nós. Não se envergonhava do
Evangelho de Cristo. Não se importava com a distância, com as dificuldades, não
fazia acepções entre as pessoas. Simplesmente seguia levando a Boa-nova. Que o
Senhor nos conceda a graça de proclamar a Tua Palavra. Que em nosso coração
também possa arder o desejo de anunciar o evangelho. Seja em Roma, na Espanha,
no Brasil, no bairro em que moramos. O lugar o Senhor nos indicará! Agora não podemos
deixar que os obstáculos apresentados pela vida nos impeçam de levar adiante o
anúncio da Boa-Nova. Senhor, faça de nós instrumentos vivos e eficazes da Tua
Santa Palavra! Amém!
“Paulo, servo do Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado
para o evangelho de Deus – evangelho que Deus prometeu por meio de seus
profetas, nas Sagradas Escrituras, a respeito de seu Filho. Este, segundo a
carne, era descendente de Davi, mas segundo o Espírito de santidade foi
declarado Filho de Deus com poder, desde a ressurreição dos mortos: Jesus
Cristo, nosso Senhor. Por ele recebemos a graça da vocação para o apostolado, a
fim de trazermos à obediência da fé, para a glória de seu nome, todas as
nações, entre as quais também vós, chamados a pertencer a Jesus Cristo. – A vós
todos que estais em Roma, amados de Deus e santos por vocação: graça e paz da
parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor, Jesus Cristo” (Rm 1,1-7).
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