Missionários Vicentinos: doação e amor aos pobres

(Por Madalena Nascimento)

“Quando veio a esse mundo escolheu como tarefa principal o ‘cuidar e assistir os Pobres’. E se perguntássemos a Jesus: O que viestes fazer aqui na terra? Ele responderia: assistir os Pobres”. E eram os pobres que sempre estavam na companhia de Jesus. (São Vicente de Paulo)

“Só caridade não basta. Cura as feridas, mas não acaba com os golpes que as causam… Caridade é o Samaritano que derrama azeite nas feridas do viajante que foi atacado. O papel da justiça é impedir os ataques. ” E é com essa frase de Frederico Ozanam que inicio esse texto. A paz do Senhor meus queridos. Antes de adentrarmos ao nosso assunto, quero que vocês pensem missão, e se questionem qual seria a missão do cristão?
Então, podemos dizer que missão é experimentar a presença de Deus na própria vida; valorizar o dom da vida concedido por Deus; ajudar as pessoas a darem um sentido autêntico à própria vida; é voltar-se para Jesus Cristo, para Nele descobrir o verdadeiro rosto de Deus; aprender a olhar a vida e as pessoas com os olhos de Jesus; acolher os outros como Jesus acolhia; ser um agente multiplicador da proposta de Jesus. E a missão do cristão será sempre o amor expresso no compartilhar; amor dom de si para que o outro tenha mais vida. 
Dessa forma, adentro no nosso tema de hoje, os Missionários Vicentinos, pessoas que dedicam a sua vida ao cuidado dos pobres, daqueles que foram escolhidos por Jesus para experimentar do seu grande amor. Seguindo Jesus, a missão do vicentino é de aproximação, compaixão, compreensão da vida e necessidade desses filhos de Deus.
A Congregação da Missão foi fundada por São Vicente de Paulo, no século XVII, em 17 de abril de 1625. O Carisma vicentino é amar e servir o Cristo na pessoa dos Pobres, evangelizando e servindo para libertá-lo de todas as misérias. É a promoção social e espiritual. A santificação, para o vicentino, acontece pela prática à caridade. Ser missionário vicentino é a viagem de sair de si e ir ao encontro dos Pobres  os preferidos de Jesus Cristo.

São Vicente de Paulo e Frederico Ozanam são chamados de místicos da ação, porque para eles a evangelização e o resgate da dignidade humana são a mesma coisa. “Vamos aos Pobres!” percebam a intensidade desse chamado. Não é simplesmente encontrar com os pobres, dar algo para suprir aquela necessidade momentânea. É um chamado forte. Ir aos pobres é se deixar experimentar a vida de Jesus, a missão do próprio Jesus. É cuidar, zelar, e ajudar a ponto de modificar suas vidas. Vemos hoje muitas pessoas, grupos diversos “indo aos pobres”. Em muitas dessas ações vemos o assistencialismo acontecendo. É a entrega de cestas básicas, presentes, roupas, cobertores, mas sempre em períodos específicos, datas comemorativas. Será que essas pessoas não precisam desses mesmo cuidados durante o resto do ano?
Como afirma o Documento de Aparecida “O encontro com Jesus Cristo através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo. Da contemplação do rosto sofredor de Cristo neles e do encontro com Ele nos aflitos e marginalizados, cuja imensa dignidade Ele mesmo nos revela, surge nossa opção por eles. A mesma união a Jesus Cristo é a que nos faz amigos dos pobres e solidários com seu destino” (DAp 257). Por isso que para os Vicentinos, o “Vamos aos pobres” é em particular o caminho para a concretização e fidelidade à Vocação e Missão para qual o Senhor nos chama.
São Vicente de Paulo visava as seguintes bases dogmáticas: Visão Cristológica: “O Senhor me enviou para evangelizar os pobres”; “Cristo é o enviado do Pai”. A visão cristológica de São Vicente de Paulo é profundamente marcada pelo mistério do Verbo Encarnado e pela Sua Redenção. Cristo pregou e serviu os pobres. É um testemunho do amor de Cristo pelo anúncio libertador do Evangelho e pela ação concreta em prol dos necessitados, promovendo a dignidade humana. Visão Antropológica: considerar o pobre na sua realidade humana e saber que Cristo nos é apresentado nesses pobres, tendo como modelo a prática de Jesus. Visão Eclesiológica: A Igreja, para São Vicente, deve ser missionária, anunciando a Boa Nova a todas as pessoas mas, sobretudo, aos pobres. Pelo seu empenho na construção de um mundo melhor, o missionário vicentino é um semeador de esperança na construção do Reino de Deus. O missionário age irmanado com aqueles que caminham com os mesmos objetivos, de forma organizada e fundamentada na fé e no carisma de Vicente de Paulo, apoiando-se e incentivando-se na oração e na ação.
Frederico Ozanam em suas cartas, salienta a importância da oração para que os missionários se mantenham firmes em sua ação. E isso serve para todos nós, se não estivermos abastecidos, não teremos impulso para prosseguir na nossa caminhada de fé, as tentações que ficarão mais fortes, e tenderão a nos derrubar, por isso “para ter forças e ser bem orientado na sua ação, o missionário precisa ser uma pessoa de oração: tornar-se fermento no meio da massa” (Frederico Ozanam).
O missionário vicentino deve sempre deixar claro ao seu assistido que se interessa pelo seu bem. É trabalhar pelos direitos dos pobres, zelar pelo seu bem estar, num doação total sem esperar nada em troca, assim como Jesus fez sua vida, dessa forma promovendo a vida em abundância. Sendo assim, o missionário vicentino não pode justificar o critério de ajuda pelo comportamento dos assistidos. Onde houver mais problemas e desajustes é onde mais se precisa investir e ter esses casos como prioridade. Agir com misericórdia e humildade. Mas quantas vezes nós “corremos” das situações quando elas se complicam? Quantas vezes fugimos dos problemas, porque inicialmente não vemos resoluções para eles? Ninguém nunca disse que seria fácil, o fardo é pesado, mas Deus não dá um fardo maior do que o que podemos carregar.

Assim encerro esse texto, sobre essa linda missão, que deve nos inspirar, afinal viemos ao mundo para seguir os passos de Jesus, e muitas vezes nos deixamos desviar pelo caminho. Mas não podemos esquecer desse pedido de Jesus, “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36), afinal o exercício da caridade, nos aproximará cada vez mais de Jesus Cristo.

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