Sacrosanctum Concilium - Princípios gerais à reforma da Liturgia (parte I)


(Por Bruno Fachi)

“Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados, como está escrito: Quão formosos são os pés daqueles que anunciam as boas novas (Is 52,7)?” (Rm 10, 14-15)

Boa tarde amados, que a paz de Jesus e o Amor de Maria estejam convosco. No texto de hoje, daremos início ao estudo da Constituição sobre a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, documento que se refere à Reforma Litúrgica.
A Constituição foi aprovada pelo II Concílio Ecumênico do Vaticano, na III Sessão pública, celebrada no ano de 1963.
O Sagrado Concílio possui o propósito de melhorar mais a vida cristã dos fiéis. Esta renovação/reforma é uma ação divina e humana, pois a nossa fé reconhece nela a mão de Deus, enquanto a razão é atribuída aos homens. A reforma litúrgica é um ato do qual o Senhor vai corrigindo com o tempo, dizendo-se uma reforma conciliar, ou uma reforma de Paulo VI (antiga reforma litúrgica), pois estaria reformando “erros” da Constituição anterior.
Promovendo tudo o que pode para a união dos crentes de Cristo, o Sagrado Concílio contribui para chamar a todos para o seio da Mãe Igreja, na realidade de uma ação do Espírito Santo que orienta o povo de Deus. O Sagrado Concílio chama a atenção para novas normas que devem ser aplicadas não apenas aos ritos romanos e sim a todos os outros ritos, embora as normas práticas parecem se referir apenas ao rito romano. Toda a tradição é fielmente respeitada, e todos os ritos legitimamente reconhecidos são considerados iguais em direitos e dignidade.
Deus quer que todos os homens se salvem e reconheçam a verdade, por isso, trouxe seu único filho ao mundo, o Verbo encarnado, para evangelizar os pobres, curar os doentes, acolher os aflitos. A sua humanidade, foi o instrumento para a nossa salvação, por isso, Cristo transformou-se na nossa reconciliação, nos dando a plenitude do culto divino. Esta obra de redenção dos homens se deu por meio de Jesus Cristo, que ao morrer destruiu a morte, e ao ressuscitar restaurou a vida, nascendo o Sacramento admirável de toda a Igreja.
Assim como Deus enviou seu filho, Cristo enviou seus apóstolos para ir ao mundo e pregar o evangelho a toda a criatura, deixando esta missão também a nós, que pelo sacramento do seu batismo nos tornamos um com Jesus. Somos mortos com Ele, sepultados com Ele e ressuscitados com Ele. Transformados em verdadeiros adoradores que Deus tanto procura.
Assim como em Pentecostes, quando seus apóstolos estavam reunidos em um mesmo local partilhando de sua palavra e da fração do pão, a igreja se manifestou ao mundo, pois foram batizados aqueles que receberam as palavras de Pedro. Desde então, a Igreja jamais deixou de se reunir em uma assembleia para celebrar o mistério pascal, lendo aquilo que Deus se refere à todas as criaturas, celebrando a Eucaristia, presente de Jesus pelo seu triunfo e vitória sobre a morte, e dando graças a Deus pelos seus dons inefáveis inspirados pelo Espírito Santo.
Cristo está presente em toda a Igreja, principalmente nas ações litúrgicas, pois Ele mesmo nos diz em sua Sagrada Escritura: “Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18, 20). Cristo está presente em quem batiza, onde Ele estará batizando; Cristo está presente em quem celebra a transfiguração eucarística, pois Ele mesmo está sendo sacrificado; Cristo está presente naqueles que estão lendo, pois são em seu nome que estão proclamando; Cristo está presente em quem reza, em quem canta, está presente em tudo.
A Sagrada Liturgia não se prende apenas às ações da Igreja, primeiramente de tudo, ela deve partir do homem, de seu apelo de fé e conversão, “Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé?” (Rm 10, 14). É por este motivo em que a igreja anuncia a mensagem de salvação para os não crentes, para que todos possam conhecer a Deus; possam se preparar para os Sacramentos; estimular para as obras de caridade; e mesmo não pertencendo a este mundo, sejamos a Luz no mundo para a glorificação do Senhor, pois participando da Liturgia terrestre, nos preparamos para a Liturgia Celestial.
É através da Liturgia, especialmente da Eucaristia, que brota em nós o desejo de vivermos unidos no amor, de viver a graça recebida em nosso batismo e obter a máxima eficácia de santificação em Jesus Cristo. Porém, para recebermos tais eficácias, nós devemos celebrar a Sagrada Liturgia com uma retidão espiritual, unindo nossa mente às palavras que serão proclamadas, cooperando com as graças de Deus para que não a tenhamos recebido em vão. É necessário que nós fiéis participemos da Liturgia consciente, ativa e frutuosamente.  
No entanto, nossa vida espiritual não se limita apenas à participação da Sagrada Liturgia, é necessário que nós como cristãos também em nosso quarto, possamos conversar, rezar a sós com o Pai Celestial, criando tal intimidade da qual será refletida na Santa Missa, uma intimidade que será possível ver em cada palavra dos leitores, em cada música da equipe de canto, em cada gesto litúrgico que o Padre realiza, a presença e ação de Jesus Cristo.
É desejo da Mãe Igreja que todo o povo cristão chegue a uma plena e consciente participação das celebrações litúrgicas, que em sua própria natureza do batismo, um dever e direito de todo cristão. E é esta plena participação do povo de Deus que é dada com maior atenção à Reforma Litúrgica, onde é a primeira fonte da qual o povo cristão bebe do Espírito Santo. Porém, não devemos esperar que isto aconteça, se os nossos sacerdotes não estiverem embriagados do Espírito Santo e da virtude da liturgia, da qual nela devem se tornar mestres.
Assegurando em primeiro ligar que é indispensável a formação litúrgica do clero, este Sagrado Concílio estabelece o seguinte:
- Os professores que são destinados a ensinar a Liturgia em seminários, casas de estudos de religiosos, faculdades de teologia, devem estar devidamente preparados para esta função.
- A disciplina da Sagrada Liturgia em seminários, casas de estudos de religiosos, deve ser considerada a mais importante e necessária; e nas faculdades de teologia, como a disciplina principal. Acima de tudo deve-se ressaltar o mistério de Cristo e a história da Salvação, de modo a ver claramente a conexão entre a Liturgia e a unidade de formação sacerdotal.
- Os sacerdotes que já trabalham na vinha do Senhor, tanto seculares como religiosos, sejam ajudados por todo meio oportuno a compreender mais plenamente o sentido de suas ações e funções sagradas, viver a liturgia e partilhar com os fiéis que lhe são confiados.
- Os sacerdotes estimulem com zelo a formação litúrgica e participação ativa dos fiéis segundo suas próprias características, guiando seu rebanho não apenas com palavras, mas também com exemplos.

- A transmissões televisivas ou radiotelefônicas das ações sagradas, principalmente o Sacrifício Eucarístico, devem ser feitos com discrição e dignidade, a cargo de uma pessoa competente que para isto, seja designada pelos Bispos.

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