Sagrada Liturgia - Ato de glorificação à Deus


(Por Bruno Fachi)

Boa tarde, amados! Que a proteção divina esteja sempre ao vosso alcance. Hoje e em todas as próximas quintas-feiras nós estaremos em um melhor aprofundamento no gesto de Amor que Jesus nos deixou para estarmos em um íntimo contato com Ele, a Sagrada Liturgia.
Nosso maior pecado hoje em dia, é diminuir a Liturgia a apenas simples conjuntos de rituais e orações realizadas na missa que nos levam ao céu. É percebível esta automação religiosa a cada domingo quando vamos à missa, as pessoas vão até a celebração da palavra e eucarística sem saberem o motivo de estarem ali, nem ao menos o que de fato está acontecendo naquele lugar.
Este talvez seja um dos motivos do qual nós católicos somos tão criticados. Os denominados “católicos” que estão presentes na Santa Missa como meros espectadores de uma peça teatral, destroem todo o verdadeiro sentido litúrgico presente que é destinado àqueles que realmente querem assumir um compromisso em plenitude com o mistério que Cristo Ressuscitado confiou à sua Igreja. Porém, nosso dever como aqueles que buscam a Deus como o centro de nossas vidas, é ser um reflexo de Deus e mostrar a eles a verdadeira paixão que é estar ali participando do banquete celestial.
“Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como Ele é” (IJo 3,2). Cristo está presente em nossa história desde o seu início, pois tudo foi criado n’Ele. Estando presente no tempo da promessa, vindo ao mundo em sua encarnação se tornando história, e ao subir aos céus deixou a sua divina misticidade em nossos tempos, tempos da sua igreja, até a consumação dos tempos. Hoje esta sua presença mística, está manifestada em seus sacramentos – a liturgia, manifesto de amor que nos faz ver a sua verdadeira face misericordiosa de Pai.
A Sagrada Liturgia é a forma mais viva de expressão da vida da Igreja, continuando para sempre a ser o símbolo da vida cristã, a forma mais original de dizermos ao mundo que a salvação nos foi dada. Visando lembrar que a palavra “salvar” em Teologia significa “unir em Deus”.
A liturgia é ao mesmo tempo “humana e divina” (SC 2), sendo importante para a sua compreensão, estuda-la antes de tudo na palavra de Deus. Os textos bíblicos utilizados na liturgia são a característica da concepção que a Igreja tem a respeito da Liturgia. Portanto, nossos estudos não serão feitos em poucas semanas com poucos textos, pois a riqueza por trás da sagrada Liturgia é imensa, devemos e vamos juntos nos apaixonar cada vez mais por toda a criação que Deus deixou para nós. Os textos litúrgicos do qual estão presentes na liturgia, exprimem uma determinada visão teológica dos dons de salvação que a Igreja Católica é portadora, e são precisos fazer emergir sobre a sociedade, conhecer com toda a alma o projeto de salvação de nossas vidas. A liturgia precisa ser redescoberta, celebrada e principalmente vivida.
O termo hoje escutado, Liturgia, é um termo recente encontrado nos documentos oficiais da igreja, não antes do século XX. Na cultura da igreja grega, o termo liturgia possuía um significado restrito e preciso: designava exclusivamente a missa e seus diversos formulários.
A palavra Liturgia possui a sua origem do grego clássico, possuindo a composição de duas raízes:
LietLeosLaos: povo, público – ação do povo, obra pública, ação feita para o povo, em favor do povo.
Ergomai (ergom): operar, produzir (obra), ação, trabalho, ofício, serviço...
Traduzindo literalmente leitourghía significa: “serviço prestado ao povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”, serviço público.
Antes desta palavra ser usada pela Igreja, os gregos já a utilizavam para designar ações que o povo realizava em favor do povo, como muitas das ações voluntárias vistas em nosso cotidiano, ações feitas em mutirões.
Este primeiro significado a respeito da liturgia nos ajuda a buscar o que hoje deve ser a verdadeira Liturgia Cristã em nossas comunidades, ainda mais em tempos onde por séculos, a liturgia era apenas obra dos ministros ordenados em favor do povo, que apenas “assistiam” e não participavam, e muitas vezes, não compreendiam o que estava acontecendo. Porém, graças ao Concílio Vaticano II, o sentido genuíno da liturgia foi aplicado: Ação do povo batizado com chamado ao louvor a Deus e a transformação e santificação da vida e de toda a história. Seria então, não apenas uma ação destinada aos ministros ordenados, mas uma ação conjunta de todo o povo de Deus com a parceria do próprio Deus em uma relação mais ativa, consciente, plena e frutuosa.

Efetivamente, a Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, “se realiza a obra da nossa Redenção”, contribui em sumo grau para que os fiéis, pela sua vida, exprimam e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que tem como característica ser, simultaneamente, humana e divina, visível e dotada de realidades invisíveis, empenhada na ação e dedicada à contemplação, presente no mundo e todavia peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos. Deste modo, a Liturgia edifica cada dia os que estão na Igreja para fazer deles um templo santo no Senhor, uma habitação de Deus no Espírito, até à medida de Cristo na sua plenitude, e ao mesmo tempo robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo, e assim mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para congregar na unidade à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor.
(Sacrosanctum Concilium – 2 – A Liturgia no mistério da Igreja)

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