“Maria tinha ficado perto do túmulo, do lado
de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para olhar dentro do túmulo.
Ela enxergou dois anjos, vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o
corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Os anjos perguntaram: “Mulher,
por que choras? ” Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o
colocaram”. Dizendo isto, Maria virou-se para trás e enxergou Jesus em pé, mas
ela não sabia que era Jesus. Jesus perguntou-lhe: “Mulher, por que choras? Quem
procuras? ” Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: “Senhor, se foste tu
que o levaste, dize-me onde o colocaste, e eu irei buscá-lo”. Então, Jesus
falou: “Maria! ” Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: ‘Rabûni!’” (João 20, 11 – 16)
Amados,
continuando as nossas formações da sexta-feira, é uma alegria muito grande
poder falar com vocês de algo que foi um presente na minha vida e que também o
é para a Igreja de Cristo nesses tempos contemporâneos. Durante as próximas
semanas estaremos falando sobre os Escritos da Comunidade Católica Shalom,
dando a conhecer alguns pontos do Carisma e ao mesmo tempo mostrando como ele
nos enriquece de várias maneiras mesmo que não seja o nosso chamado. Quando
estive na feira das vocações na JMJ eu pude ver claramente a vasta quantidade
de caminhos o Espírito Santo deu a Igreja de entrarmos na comunhão do seu corpo
vivo na forma dos carismas, e é com muito prazer que me proponho a dividir com
vocês algumas coisas a respeito desse carisma que me toca o coração de maneira
tão forte, mas antes de entrar propriamente nos Escritos, é necessário falar da
fonte da vocação, do princípio e destino último de sua vivência.
Quem
já teve alguma experiência com o Shalom ou já escutou em algum lugar o
testemunho de nosso fundador Moysés Azevedo, deve ter provavelmente em sua
memória uma parte da história onde o Moysés, depois dos eu encontro com Deus,
se dirige a uma amiga e fala “Deus me ama!” ao que ela responde “Moysés, ele
ama todo mundo...” mas o ele insiste “Ele me ama”, e a maneira como o Moysés
fala essas palavras carrega uma convicção profunda, são palavras de quem teve
uma experiência pessoal com o Ressuscitado que passou pela Cruz. O Moysés vem de
uma família tradicionalmente católica, fez as catequeses todas, e ainda assim,
a sua vida só fui mudada em verdade depois desse encontro. Deus nos deu
inteligência e a razão, instrumentos que nos permitem compreender algumas
verdades fundamentais da nossa vivência cristã, mas que não são suficientes
para uma verdadeira mudança de vida. Por mais que sejamos chamados a aceitar as
verdades dogmáticas, somente o encontro pessoal com Jesus, a experiência
sensível e concreta com o amor e a misericórdia de Deus podem nos conduzir ao
verdadeiro desejo de conversão. Só é capaz de amar plenamente quem se sente
plenamente amado.
Achei
significativo colocar essa passagem do encontro de Maria Madalena com o
Ressuscitado para ilustrar um ponto. Maria Madalena esteve presente durante
grande parte da pregação de Jesus, estando entre o grupo de mulheres que o
acompanhava, ela foi testemunha em muitas oportunidades da mensagem do
evangelho, e de fato já tinha mudado algumas coisas na sua vida depois de ter
encontrado Jesus antes da ressureição, mas se encontrava num momento de
tristeza, chegaria a dizer até que desolada, sem esperança, sem saber bem o que
seria daqui para frente. É engraçado né? Ela provavelmente conhecia
inteligivelmente as promessas que Jesus tinha feito, os caminhos que Ele tinha
dado para serem seguidos, mas isso não foi suficiente para que ela deixasse de
estar ali lamentando e fosse se dedicar a viver o ensinamento do seu Mestre. É
interessante notar também Jesus revela a si mesmo, Ele toma a iniciativa de ir
ao encontro de Maria e a chama pelo nome! Como não lembrar nesse momento do
Moysés reconhecendo o amor de Deus de forma pessoal por ele. Maria Madalena,
depois desse encontro, saiu para evangelizar, e segundo a tradição da Igreja
morreu na França, tendo vivido nos seus últimos dias se alimentando
exclusivamente do pão eucarístico. A verdadeira mudança de Madalena ocorreu não
somente pelo encontro com Jesus em vida ou por saber o ensinamento, mas pela
força da Ressureição, pela prova que o Amor é capaz de vencer a morte que a
convence de que de fato aquele amor vale a oferta de sua vida.
O
carisma Shalom começou a brotar no coração do Moysés a partir desse encontro
(embora não de forma consciente ou imediata), da convicção profunda do ser
amado que gerou no seu coração um desejo de corresponder a esse amor, de se
consumir por ele. Mas esse encontro é algo que Deus destina a todos nós que
somos seus filhos, um encontro com a força da sua ressureição, que é capaz de
vencer tudo dentro de nós que é morte, tudo dentro de nós que é pecado, um
encontro com o amor que deseja não só ser conhecido, mas sentido e
transfigurado em vida, que é a força transformadora que impele a evangelização
e ao serviço, que gera o desejo de corresponder. O carisma Shalom surge como
sendo, antes de mais nada, uma resposta ao encontro com o Ressuscitado, que ao
nos deixar contemplar as chagas gloriosas do amor que é forte como a morte, vem
inflamar os nossos corações e nos chamar a uma vida nova, uma vida ofertada,
desejosa de corresponder a esse amor real e concreto com que fomos amados.
Jesus é o verdadeiro Shalom do Pai, aquele que traz consigo toda a sorte de paz
e que vem nos dar a plenitude, que vêm nos encher com essa paz para que nós
possamos transbordar no mundo, que nos faz discípulos e ministros da paz
verdadeira.
Esse
encontro que está no cerne do nosso carisma, está também no cerne da Igreja. A
Igreja vive para ser sinal vivo do amor de Cristo e de sua presença entre nós,
mas é preciso que desejemos ir além do que é inteligível e racional para ir ao
encontro do Ressuscitado que só se contempla de maneira integral pelos olhos da
fé. Jesus anseia por esse encontro, para que ouçamos Ele que nos chama pelo
nome como chamou a Madalena e para que toquemos as suas chagas gloriosas como
fez Tomé, mas de nossa parte é necessário busca-lo, seja onde for que Ele nos
chamar, em retiros, na eucaristia, num seminário de vida, ou mesmo nas próprias
escrituras vistas pelos olhos da fé. Somos chamados a esse encontro pessoal com
o Ressuscitado que é capaz de fazer viver em nós as suas virtudes, de nos
conduzir a vivência verdadeira e radical do evangelho que vai além do conhecer
e aceitar. Somos chamados, como Shalom ou como Igreja, a tomar parte nessa
ressureição e não a sermos meros conhecedores e expectadores. Que aqueles de
nós que já tiveram esse encontro de amor possam viver na certeza constante desse
amor e ser presença viva dele, buscando sempre corresponder a esse amor imenso
que nos conquista e nos abraça, e que aqueles de nós que ainda não tiveram
possam buscar essa vivência de Jesus como pessoa, real e concreta, que ama além
de tudo e que é paz verdadeira, que vem para nos curar e libertar, mas que nos
impele a sermos como Ele é na vivência radical do Evangelho.
Rogo
a ti, Senhor, que se faça sempre presente no meio de nós como no meio dos
Apóstolos, que possamos nós também ouvir e sentir o teu Shalom, e nos sabendo
amados e pacificados pela tua presença, possamos ser amor e paz para esse mundo
que geme e chora esperando a manifestação dos filhos de Deus!
Shalom!
“A conversão a Jesus Cristo é o caminho para
a verdadeira paz. Porém não só a conversão simplesmente intelectual, racional;
não uma conversão baseada somente numa aceitação de verdades dogmáticas, não a
conversão estéril, mas a conversão que nasce da experiência pessoal com Jesus
Cristo, o Deus Vivo, que penetra nossas vidas, inundando-as do amor do Pai, uma
experiência que não é só sentimental, mas que invade as nossas vidas,
transformando o nosso ser e prolongando-se através da oração, da palavra de
Deus, dos Sacramentos, do testemunho de vida e do serviço aos irmãos”.
Moysés
Azevedo – Escritos da Comunidade Católica Shalom
(R. D - Minions Católicos)
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