O Carisma Shalom no coração da Igreja (Parte 4): A Pobreza



Felizes os pobres no Espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. (Mateus 5, 3)

            Amados, continuando nossa jornada pelo Carisma Shalom e a sua contribuição para a Igreja, vamos falar hoje sobre algo que é muito caro ao Carisma, nomeadamente o concelho evangélico da pobreza. Tradicionalmente nós vemos dentro da Igreja a vivência da pobreza como algo de certa maneira limitado a ordens religiosas (como os franciscanos ou outras ordens mendicantes) e por isso louvo e bendigo a Deus porque em sua misericórdia nos chamou nesse carisma que não é configurado em uma ordem a viver também a imensa riqueza que é ser pobre. Esse novo de Deus que se revelou através desse Carisma é profundamente marcado pela pobreza.

            “Ser pobre é em primeiro lugar estar nas mãos de Deus, ser Seus operários e, como fruto do nosso trabalho, esperar o pão de cada dia” Escrito Pobreza, 7.

            Creio que esse seja o coração da pobreza evangélica. Enquanto no mundo a visão que temos de pobreza está quase que diretamente atrelada a uma realidade material objetiva e pejorativa, a pobreza a que somos chamados no evangelho é, antes de mais nada, uma condição de confiança e abandono. Dentro do Shalom isso se configura de maneira mais perfeita na Comunidade de Vida, onde os membros vivem inteiramente devotados a evangelização e têm seu sustento na providência. O que é verdadeiramente importante notar é que a pobreza não é meramente a ausência de bens, mas antes uma maneira de ordenamento para o amor. Ser verdadeiramente pobre é dar a Deus o seu devido lugar como o primeiro em nossas vidas, dar o segundo lugar aos nossos irmãos que são objeto do nosso amor ancorado em Deus, e ocupar, com felicidade e confiança, o terceiro lugar (como nos colocaria em outras palavras Catherine Doherty). A pobreza é uma condição de confiança e de experiência profunda do amor de Deus, que se encarrega de tudo aquilo que nos é essencial na medida que nos doamos no que Ele nos propõe. Ao contrário da vivência da pobreza como uma situação de instabilidade e insegurança, a pobreza evangélica permite a vivência de um amor confiante como o de uma criança, como nos diz Hans Urs von Balthasar “o amor é também o que permite à criança não vivenciar sua absoluta indigência como ameaça, porque a experimenta como a situação em que de novo se realiza e emerge o amor sempre latente de seu pai”.

            “A sobriedade no comer, no vestir, deve ser uma marca da pobreza em nós. Não digo que não tenhamos as nossas diversões e lazeres, mas ao nosso modo, revestidos da nossa pobreza, da nossa simplicidade, sem sermos escravos deles, considerando-os como acréscimos de Deus” Escrito Pobreza, 12

            Ao mesmo tempo que vivenciamos a pobreza de maneira interior enquanto forma de confiança e experiência de amor, é necessário que essa pobreza passe a revestir tudo aquilo que nós fazemos, especialmente no mundo de hoje em dia onde as marcas do exagero e da ostentação estão presentes em tantas coisas. Nas vestimentas, o que vemos hoje em dia é cada vez mais uma busca de chamar atenção para si mesmo, dando espaço livre para a vaidade e para a sensualidade, e o chamado que a pobreza faz para nós é precisamente um chamado de modéstia, de não cegar os outros com uma luz que é nossa, mas nos contentar em resplandecer a luz de Deus através da simplicidade. Em momento algum isso quer dizer que eu vá propositadamente buscar vestimentas de pobreza extrema, mas que eu busque aquilo que é necessário e condizente com a minha condição para agradar a Deus, se resguardando de excessos. Já no caso da alimentação, o desperdício alimentar é uma marca dos tempos hodiernos, que assistem a milhares de pessoas morrendo de fome, e o chamado da pobreza é a administrar com sabedoria os bens da providência, evitando excessos e partilhando sempre que possível, sendo nós também instrumentos da providência para os nossos irmãos. Acho que mais além disso para nós jovens que vivemos no mundo, mas que não somos do mundo é observar bem as nossas diversões e lazeres, é neles evitar tudo aquilo que prejudique a vivência da sobriedade e mostrar ao mundo que não são necessárias piscinas de champanhe, baladas gigantescas e extravagâncias alimentícias para se divertir. Viver a pobreza nos nossos lazeres é maneira de revestir de santidade a nossa diversão e assim ser sinal vivo do Reino de Deus!

            “Os que não são escravos do seu conforto próprio e estão dispostos a tudo investir, esses, embora poucos, foram escolhidos por Deus para manifestar a sua glória” Escrito Pobreza, 21.

            No nosso mundo marcado pelo individualismo e pelo materialismo nós recebemos em nosso coração o apelo à pobreza que nos ordena para o amor, para manifestarmos o Reino de Deus que já é presente no meio de nós em Jesus Cristo. Esse chamado nos conduz a confiança amorosa em Deus Pai que se manifesta no afastamento dos excessos e na vivência da sobriedade, somos chamados à doação aos nossos irmãos, que há de nos fazer abrir mão de vários de nossos confortos excessivos para que todos possam viver de maneira mais igual e a assim recebermos o maior prêmio de todos, a honra do servir a Deus e ser sinal do seu amor providente para com a humanidade redimida por Cristo! Tenhamos a coragem de seguir esse ordenamento para o amor que o Senhor nos oferta na vivência da pobreza e assim sermos verdadeiramente felizes e livres!
Shalom!

(R. D - Minions Católicos)

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