“Felizes os pobres no Espírito, porque deles
é o Reino dos Céus”. (Mateus 5, 3)
Amados, continuando nossa jornada
pelo Carisma Shalom e a sua contribuição para a Igreja, vamos falar hoje sobre algo
que é muito caro ao Carisma, nomeadamente o concelho evangélico da pobreza.
Tradicionalmente nós vemos dentro da Igreja a vivência da pobreza como algo de
certa maneira limitado a ordens religiosas (como os franciscanos ou outras
ordens mendicantes) e por isso louvo e bendigo a Deus porque em sua
misericórdia nos chamou nesse carisma que não é configurado em uma ordem a
viver também a imensa riqueza que é ser pobre. Esse novo de Deus que se revelou
através desse Carisma é profundamente marcado pela pobreza.
“Ser pobre é em primeiro lugar estar nas mãos de Deus, ser
Seus operários e, como fruto do nosso trabalho, esperar o pão de cada dia”
Escrito Pobreza, 7.
Creio que esse seja o coração da
pobreza evangélica. Enquanto no mundo a visão que temos de pobreza está quase
que diretamente atrelada a uma realidade material objetiva e pejorativa, a
pobreza a que somos chamados no evangelho é, antes de mais nada, uma condição
de confiança e abandono. Dentro do Shalom isso se configura de maneira mais
perfeita na Comunidade de Vida, onde os membros vivem inteiramente devotados a
evangelização e têm seu sustento na providência. O que é verdadeiramente
importante notar é que a pobreza não é meramente a ausência de bens, mas antes
uma maneira de ordenamento para o amor. Ser verdadeiramente pobre é dar a Deus
o seu devido lugar como o primeiro em nossas vidas, dar o segundo lugar aos
nossos irmãos que são objeto do nosso amor ancorado em Deus, e ocupar, com
felicidade e confiança, o terceiro lugar (como nos colocaria em outras palavras
Catherine Doherty). A pobreza é uma condição de confiança e de experiência
profunda do amor de Deus, que se encarrega de tudo aquilo que nos é essencial
na medida que nos doamos no que Ele nos propõe. Ao contrário da vivência da
pobreza como uma situação de instabilidade e insegurança, a pobreza evangélica
permite a vivência de um amor confiante como o de uma criança, como nos diz
Hans Urs von Balthasar “o amor é também o
que permite à criança não vivenciar sua absoluta indigência como ameaça, porque
a experimenta como a situação em que de novo se realiza e emerge o amor sempre
latente de seu pai”.
“A sobriedade no comer, no vestir, deve ser uma marca da
pobreza em nós. Não digo que não tenhamos as nossas diversões e lazeres, mas ao
nosso modo, revestidos da nossa pobreza, da nossa simplicidade, sem sermos
escravos deles, considerando-os como acréscimos de Deus” Escrito Pobreza, 12
Ao mesmo tempo que vivenciamos a
pobreza de maneira interior enquanto forma de confiança e experiência de amor,
é necessário que essa pobreza passe a revestir tudo aquilo que nós fazemos,
especialmente no mundo de hoje em dia onde as marcas do exagero e da ostentação
estão presentes em tantas coisas. Nas vestimentas, o que vemos hoje em dia é
cada vez mais uma busca de chamar atenção para si mesmo, dando espaço livre
para a vaidade e para a sensualidade, e o chamado que a pobreza faz para nós é
precisamente um chamado de modéstia, de não cegar os outros com uma luz que é
nossa, mas nos contentar em resplandecer a luz de Deus através da simplicidade.
Em momento algum isso quer dizer que eu vá propositadamente buscar vestimentas
de pobreza extrema, mas que eu busque aquilo que é necessário e condizente com
a minha condição para agradar a Deus, se resguardando de excessos. Já no caso
da alimentação, o desperdício alimentar é uma marca dos tempos hodiernos, que
assistem a milhares de pessoas morrendo de fome, e o chamado da pobreza é a
administrar com sabedoria os bens da providência, evitando excessos e
partilhando sempre que possível, sendo nós também instrumentos da providência
para os nossos irmãos. Acho que mais além disso para nós jovens que vivemos no mundo,
mas que não somos do mundo é observar bem as nossas diversões e lazeres, é
neles evitar tudo aquilo que prejudique a vivência da sobriedade e mostrar ao
mundo que não são necessárias piscinas de champanhe, baladas gigantescas e
extravagâncias alimentícias para se divertir. Viver a pobreza nos nossos
lazeres é maneira de revestir de santidade a nossa diversão e assim ser sinal
vivo do Reino de Deus!
“Os que não são escravos do seu conforto próprio e estão
dispostos a tudo investir, esses, embora poucos, foram escolhidos por Deus para
manifestar a sua glória” Escrito Pobreza, 21.
No nosso mundo marcado pelo individualismo
e pelo materialismo nós recebemos em nosso coração o apelo à pobreza que nos
ordena para o amor, para manifestarmos o Reino de Deus que já é presente no
meio de nós em Jesus Cristo. Esse chamado nos conduz a confiança amorosa em
Deus Pai que se manifesta no afastamento dos excessos e na vivência da
sobriedade, somos chamados à doação aos nossos irmãos, que há de nos fazer
abrir mão de vários de nossos confortos excessivos para que todos possam viver
de maneira mais igual e a assim recebermos o maior prêmio de todos, a honra do
servir a Deus e ser sinal do seu amor providente para com a humanidade redimida
por Cristo! Tenhamos a coragem de seguir esse ordenamento para o amor que o
Senhor nos oferta na vivência da pobreza e assim sermos verdadeiramente felizes
e livres!
Shalom!
(R. D - Minions Católicos)
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