"- mas quem é a Feiticeira Branca?
- ora, ela é
quem manda na terra de Nárnia. Por causa dela aqui é sempre inverno. Sempre
inverno e nunca natal. Imagine só."
(Conversa entre Lúcia e o fauno Tumnus)
Amados,
uma santa sexta-feira a todos! Pensei longamente em não continuar as reflexões
sobre Nárnia essa semana, afinal, o Natal do Senhor demandava algo mais
específico, porém a profundidade da obra de Lewis e as inspirações divinas que
ela contém não cessam de me surpreender, cabendo até mesmo nessa que é das
maiores (se não a maior solenidade para nós cristãos. A reflexão de hoje tomara
como referência trechos contidos na crônica "O Leão, a feiticeira e o
guarda-roupa" mas cabe apenas uma clarificação vinda da crônica “O
Sobrinho do Mago”. Nessa primeira crônica, que seria o equivalente de um
Gênesis bíblico para o mundo de Nárnia, a entrada da Feiticeira Branca em
Nárnia é vista como a entrada do mal (pecado, corrupção) naquele mundo que
acabara de ser criado, e essa informação acerca dela é importante para
compreender o diálogo acima e consequentemente aquilo que vamos refletir a
seguir.
Eu
acho que já vi os filmes e li os livros de Nárnia mais vezes do que consigo contar,
mas eles sempre me conduzem a visões interessantes, quer acerca de Deus ou do
homem. “Sempre inverno e nunca Natal” essas palavras de Tumnus acerca da Nárnia
governada por Jadis (Feiticeira Branca) podem iluminar bastante da experiência
humana na ausência de Deus. O que o fauno coloca para Nárnia eu poderia
facilmente traduzir para a nossa vida de muitas maneiras como: sempre
sofrimento e nunca bonança, sempre tristeza e nunca alegria, sempre
insatisfação e nunca contentamento. Basicamente, uma existência humana onde
sempre faltaria algo e não se haveria esperança pois não há um horizonte
transcendente para onde olhar. A condição humana vivida sem o horizonte da
eternidade, sem a esperança da escatologia futura e realizada na salvação de
Cristo, sem algo que vá além do efêmero, é precisamente o que os Narnianos
viviam no reinado da Feiticeira, sempre inverno e nunca natal. É um retrato de
existência onde o jugo do pecado, da morte, da tristeza, da frieza é tudo que
se pode vislumbrar, onde essas realidades têm a última palavra e, portanto,
definem o escopo da existência humana que se encontra distanciada da realidade
do amor e da misericórdia de Deus, quando não de sua existência de maneira
absoluta. Esse, infelizmente, é o mundo onde muitos passarão esse Natal,
marcado pelo inverno sem fim que caracteriza de maneira tão gráfica a vida do
homem na ausência de Deus.
“Ele vem botar tudo nos eixos. Assim diz um velho
poema que costumamos cantar:
O mal será bem quando Aslam chegar
Ao seu rugido, a dor fugirá
Nos seus dentes, o inverno morrerá,
Na sua juba, a flor há de voltar”
(Castor falando acerca da vinda de Aslam)
A
vinda de Aslam, especialmente como retratado nesse trecho, remonta de maneira
muito interessante as profecias de Isaías sobre a vinda do Emanuel, do
Deus-Conosco que viria para restaurar o povo de Deus. Aslam é associado com a
vinda da primavera, com o tempo em que os narnianos voltariam a cantar, dançar,
e viver as suas vidas em torno daquilo que era seu verdadeiro sentido. É
precisamente isso que aconteceu no momento da encarnação, a alegria que vem
estar conosco, vem nos devolver o sentido, vem reestabelecer a nossa ligação
com Deus. O natal, antes de mais nada é esse ponto de admirar o choque que se
dá na existência do homem no mistério da encarnação, homem esse que transita da
realidade de um “inverno sem natal” para a vivência de uma realidade humana que
por mais que seja difícil, é cheia de esperança por ter sido tocada e redimida
pelo Deus que se abaixa até nós para reestabelecer essa relação de amor.
O
meu convite para vocês, amados, não só nesse natal, mas em todos os dias, é de
relembrar esse mistério. Relembrar, mesmo diante das realidades humanas mais
difíceis, mesmo diante das chagas mais dolorosas, não vivemos num inverno sem
natal, mas na esperança e vivência constante da primavera anunciada pelo
mistério da salvação. A nossa vida cristã é essa constante primavera, animada
pelo calor da presença do Deus que se faz homem para reordenar a humanidade
para si e devolver todo o sentido da nossa existência. Que possamos viver nesse
natal a alegria esperançosa que ressoa no choro do menino-Deus que vem fazer
nova a minha e a sua vida.
Um
feliz e santo Natal!
Shalom!
(R. D - Minions Católicos)
Comentários
Postar um comentário
Fale conosco através do email: minionscatolicos@gmail.com