O Carisma Shalom no coração da Igreja (parte 5): O Shalom do Pai

(Por Rodrigo Damasio)

“Jesus, assim, é o próprio Shalom do Pai. Ele vem nos dar a perfeita felicidade, a salvação. Ele é o Shalom que tanto os corações como o mundo necessitam. É Ele que nos conduz a única e verdadeira paz. Não à paz que o mundo oferece ou que os homens ingenuamente querem estabelecer, baseada somente em si próprios, como uma conquista da humanidade, pelo estabelecimento da ‘justiça humana’, ou apenas pela ausência da guerra. Não a paz que o mundo dá, pois ela não é verdadeira, é uma ilusão que engana o coração do homem, mas a paz que Jesus traz (Jo 14, 27), a paz da reconciliação com Deus, a paz da conversão, do voltar-se para Jesus, de reconhecê-lo como Salvador e Senhor da humanidade, único caminho da verdadeira paz, da verdadeira justiça (o evangelho), do verdadeiro amor” Escrito Shalom, 03.

Amados, acho que essa citação (talvez um pouco longa) é suficientemente densa para falar desse escrito inteiro, que foi redigido em 1986 para deixar claro o que era o essencial do carisma e da sua evangelização. Antes de mais nada, cumpre explicar a questão do nome Shalom. Shalom é uma saudação hebraica que expressa o desejo da plenitude dos bens materiais e espirituais, que era proferida comumente pelo povo judeu com um certo cunho escatológico, do desejo desses bens na esperança da vinda do Messias, que traria essa plenitude, sendo ao mesmo tempo um desejo honesto e uma esperança profunda. Quando Jesus aparece ressuscitado aos seus apóstolos, não por acaso, a primeira expressão é justamente essa: “Shalom”. Nós, Cristãos, acolhemos nas palavras do Cristo ressuscitado não somente uma esperança como antes o era, mas a certeza dessa paz, do amor mais forte que a morte, e assim somos chamados a anunciar essa esperança.
Ser Shalom é ser discípulo e ministro da paz. Exatamente o que isso quer dizer fica mais claro nas palavras do Moysés “a nossa vocação tem a união das duas célebres vocações: a da contemplação e a da ação”. A contemplação é precisamente o lugar do encontro com Deus, onde através da vida de oração e do contato com a palavra nós somos constantemente ouvintes da saudação do Ressuscitado e plasmados na sua imagem. Através da vida de oração nós podemos renovar a nossa vivência com essa paz, entregar tudo a Ele que é tudo, e ecoar as palavras de Teresa d’Ávila quando nos diz a verdade profunda de que “só Deus basta”. A contemplação é fundamental na medida que na escola de Cristo, não existe ministério sem discipulado, nós simplesmente não somos capazes de anunciar aquilo que não é vivido, que não é a realidade mais profunda das nossas vidas. E essa mesma contemplação nos impele na direção dos irmãos, da humanidade que geme e chora esperando a manifestação dos filhos de Deus, pois ao provarmos o amor de Deus, nós vemos nascer em nosso interior a necessidade de gritar como Francisco de Assis “o Amor não é amado”, e de consumir a nossas vidas para que esse amor passe a ser conhecido e amado.
Por último, é necessário assinalar que somos precisamente os mensageiros desse Deus que é amor, que é misericórdia, que é verdadeira e unicamente a nossa paz. Somos mensageiros daquele que em terra não teve medo de se aproximar dos leprosos e dos pecadores públicos, que veio precisamente para aqueles que mais necessitavam. Esse Deus nos chama, antes de mais nada, a ser rosto vivo dessa paz e desse amor, a sofrer com os que sofrem, chorar com os que choram, amar os não amados, enxergar em cada realidade humana um filho de Deus, cuja necessidade mais desesperada é a de voltar para a casa de seu Pai. Eu pessoalmente tenho cada vez mais compreendido que é dessa paz que a humanidade necessita. Todas as realidades nefastas com as quais nos deparamos, seja fome, guerras, o secularismo ateu e relativista, o flagelo das drogas ou a abominação do aborto não são em si só o mal, mas sim sintomas. Tudo isso são sintomas de uma humanidade com o coração ferido, distanciada de seu criador e de sua própria natureza, incapaz de conhecer a si mesma e abraçar com verdade a sua identidade, anestesiada pelo materialismo, hedonismo e comodismo. Essa realidade, a meu ver, clama justamente por essa paz verdadeira que somente pode ser encontrada em Jesus Cristo, clama não somente por uma doutrina sólida ou por uma apologética bem argumentada, mas por vidas ofertadas a serem essa paz e irem na direção dos que sofrem, pois todo mal e pecado esconde um coração ferido.
Ao meu ver, o mais belo e o que gostaria que ficasse a todos dessa vocação em particular, é precisamente a convicção da necessidade humana da paz que só se encontra em Cristo. Esse é o ponto. Conhecendo essa paz, nós precisamos ser sinal para o mundo, precisamos buscar viver esse amor que contemplamos, precisamos evangelizar não só com palavras, mas com a vida, ser páginas vivas do Evangelho, constantemente falando do amor do Deus Amante. O ser humano tem muitas necessidades, mas quando vive na desordem do pecado, tudo termina por se desvirtuar, seja o Estado, as ideologias ou os projetos sociais, fazendo com que a primeira e mais fundamental necessidade do homem seja a de receber a paz e o amor que jorram do lado aberto do Ressuscitado, que o pacifica e o ordena para o amor.
Sejamos nós sempre esse sinal vivo dessa paz que contemplamos para irmos ao encontro da humanidade que necessita ouvir e experimentar o Shalom do Pai!

Shalom!

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