“Amado, falou o glorioso ser, não fora o teu anseio
por mim, não terias aspirado tão intensamente, nem por tanto tempo. Pois todos
encontram o que realmente procuram” (Aslam ao calormano Emeth em A Última
Batalha)
Amados, minhas ideias acerca de que
rumo prosseguir nessas nossas andavam meio escassas ou talvez demasiadamente
complexas, até que Deus decidiu manifestar o seu amor por mim de maneira
bastante simples, com as histórias de criança escritas por C.S Lewis nas
Crônicas de Nárnia, me dando assim um direcionamento claro. Desde os meus
tempos de ateísmo o livro e os filmes me acompanhavam, sem que eu fizesse ideia
do sentido que eles verdadeiramente comportavam, sem que eu compreendesse que
por trás da terna e poderosa face do leão Aslam se escondia a face do Cordeiro
de Deus. Decidi empreender esse esforço ao lado de vocês para justamente
adentrar as imagens que Deus coloca no meu coração acerca de si mesmo e da
verdade do homem através da obra de Lewis nas próximas semanas do futuro
previsível (enquanto Ele for me inspirando com as passagens do livro). Estarei
recorrendo sempre as palavras de Lewis no livro e quando possível a passagem
das Sagradas Escrituras que por acaso sejam convenientes, de modo a mostrar
precisamente a imagem de Deus que se esconde na obra e os ensinamentos a que
nos conduz sobre o homem.
Para
dar um pouco de contexto sobre a obra e a citação acima. Aslam é, em todo o
contexto da obra, uma figura crística, desde seu papel na criação dos mundos em
“O Sobrinho do Mago” até a vinda apocalíptica na “Última Batalha”. Além disso,
é sempre colocado como o Filho em relação ao Pai (imperador de além-mar), e que
age na criação muitas vezes por meio de seu sopro (não curiosamente, a mesma
maneira com a qual o próprio Jesus infunde o Espírito Santo sobre os seus
apóstolos). Nessa passagem em particular o encontro de Aslam é com um
personagem chamado Emeth, que poderia ser comparado a um gentio do tempo de
Jesus, uma vez que era uma pessoa que vinha de uma terra distante (Tashbaan na
Calormania) e venerava uma divindade que não era o próprio Aslam (os calormanos
no universo de Nárnia veneram Tash). Não obstante, Aslam entra em diálogo com
esse personagem e assim vai nos revelando coisas importantes.
Deus
sempre é impelido na direção do homem e o homem sempre é impelido na direção de
Deus, que é a razão última da sua existência. Nessa fala de Aslam pode ser
vista essa verdade. O contexto da conversa consiste precisamente do calormano
falando de como não conhecia Aslam, de tudo que havia feito em seu passado, de
como havia buscado outras divindades, outros meios de ser feliz, de ser amado
(uma busca que essencialmente faz parte da história de todo homem). Aslam,
sabiamente, coloca aquela verdade com a qual muitas vezes nos deparamos em
nossa caminhada: tudo em nossa vida esconde um desejo de Deus. O ser humano
viaja por muitos extremos bons e ruins na sua busca pelo amor, pela felicidade,
pela realização, e se isso tudo não encerrasse um desejo por algo mais
profundo, mais pleno, um dia nossas energias se acabariam. Impossível não
lembrar das palavras de Agostinho de Hipona “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o
nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti.”. Aslam, imagem de
Deus-Amante, nos coloca diante dessa profunda verdade.
“E desde então, reis e damas, ando perambulando à
procura dele, e minha felicidade é tão imensa que me enfraquece como uma
ferida. E a maravilha das maravilhas é ter ele me chamado de amado, a mim que
não passo de um cão...”
Emeth ao falar aos amigos de Nárnia sobre Aslam
Nesse
ponto, depois do encontro com o amor de Deus (Aslam) a postura do homem é
completamente mudada e note que o seu tesouro mais precioso passa a ser precisamente
a sua identidade enquanto alguém amado. Lewis, através do personagem,
mergulha-nos numa profunda pedagogia do encontro, da realização da essência
humana na busca e encontro desse amor transcendente.
Escolhi
começar as minhas reflexões com uma passagem do último livro e de um personagem
que para o universo como um todo é insignificante, mas que ao mesmo tempo
demonstra uma identidade quase arquetípica da natureza do homem manchado pelo
pecado e nos leva a uma reflexão profunda. Qual o meu olhar para o homem? Será
que eu o vejo como uma criatura essencialmente corrupta e que gosta de viver
chafurdando na lama do pecado, ou eu sou capaz de como Jesus e Aslam, ver além
das aparências e perceber que todo homem, independentemente de sua condição,
esconde em seu coração um desejo de Deus? Esse diálogo entre Aslam e Emeth
ilustra precisamente a universalidade da missão de Jesus, Aquele que veio
buscar o que estava perdido e dar vida nova, fazer novas todas as coisas. Nessa
estória encontramos muito do que deve ser o nosso olhar, inspirado pelo olhar
de Deus, para ir não ao julgamento, mas ao resgate de todos aqueles que no seu
desejo de Deus buscam caminhos errados, um olhar que faz com que o mundo não
seja povoado por feras corruptas, mas por criaturas perdidas e feridas que no
mais fundo de sua essência anseiam pela mesma coisa que eu.
Espero
que através dessas reflexões nós possamos ir cada vez mais adentrando juntos o
coração de Deus e a natureza do homem e que sejamos capazes de ter esse olhar
compassivo e amoroso sobre os nossos irmãos como Deus teve conosco. Que como
Aslam, saibamos reconhecer o que existe no interior do homem e ser mensageiros
da verdade profunda de que nossa busca só será satisfeita quando formos nós a
nos saber amados por Deus!
Shalom!
(R. D - Minions Católicos)
Que texto lindo!
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