Ah, o amor... como dizia
Luís Vaz de Camões, “o amor é um fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e
não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer”.
Quem nunca sofreu por amor, ou pela ausência dele? Quem nunca se sentiu
totalmente perdido quando foi ferido? Pois é... Vocês já pararam para pensar
que a nossa forma de amar pode ser a errada?
O ser humano é um ser
totalmente relacional. Nós não nascemos para viver sozinhos. Precisamos de
relações afetuosas, precisamos nos sentir emocionalmente conectados, e é aí que
mora o “x” da questão. Quando essa necessidade não é satisfeita ou é vivida de
maneira desiquilibrada acabamos entrando num sofrimento psicológico e emocional
que acaba gerando em nós feridas. Essas feridas, que estão ligadas a experiência
do amor, a sua ausência ou a sua forma errada de expressão vivenciada, só podem
ser curadas através do próprio amor. Mas não é qualquer amor. É o amor puro,
verdadeiro e que nos devolva à vida.
Para começar a entender
todo esse processo, precisamos entender que o amor tem alguns graus. Os antigos
gregos distinguiam o amor, basicamente, em três graus: eros, philia (amor de
amizade) e ágape. Exemplificando o
amor de amizade, seria aquele amor descrito por São João em seu evangelho para
expressar a relação de Jesus e os seus discípulos. Mas não vai ser sobre esse
grau de amor que eu irei falar com vocês hoje, mas sobre o eros e o ágape.
O eros é o “amor
sensorial, de emoção, de sensações, carnal, sensual, que busca na outra pessoa
a satisfação pessoal”, poderíamos dizer aqui que é o amor dos apaixonados. Já o
ágape é o “amor que não busca nada para si mesmo, que se entrega inteiramente à
pessoa amada com plena gratuidade, sem esperar nada em troca”, que é
exemplificado pelo amor de Deus por nós. Como diz o padre Raniero Cantalamessa
em uma das suas pregações, o amor vem sendo secularizado e com isso há uma
separação do amor humano do amor de Deus, e por isso vem se tornando algo “profano”
e Deus é deixado de lado, e chega até a incomodar.
O eros sem o ágape é um
amor romântico, mas que ignora toda a dimensão de doação de si, de sacrifício e
fidelidade. E é o que a gente vê na nossa realidade, é o que nós temos vivido
em nossas relações, algo extremamente egoísta. O ágape sem o eros é um amor
frio, em que não tem a participação do ser inteiro. Ou seja, para viver o amor
nas nossas relações de forma correta, eros e ágape não podem ser separados. Um
está ligado ao outro.
Como eu disse antes, na
nossa realidade, o eros é muito mais valorizado, demonstrado nos filmes, nos
livros. Porém, essa “falsa divinização do
eros, priva-o da sua dignidade, desumaniza-o” (Papa Emérito Bento XVI –
Deus Caristas Est). O que acontece na nossa realidade é a degradação do corpo
humano, onde há a exaltação do corpo e se esquece dos outros aspectos (a alma)
que envolvem o homem. Bento XVI ainda vai dizer que o eros “precisa de disciplina, de purificação para dar ao homem, não o prazer
de um instante, mas uma certa amostra do vértice da existência”. Ou seja,
para viver o eros da forma correta, requer sacrifícios, purificações e
saneamentos.
Como eu disse lá no
início, eros e ágape são graus do amor. Para experimentar o ágape, é necessário
passar pelo eros. Ou seja, vamos passar por pelo amor interesseiro, pela
atração, pela fascinação da promessa de felicidade, mas à medida que se
aproxima do outro, procurará a felicidade do outro, se preocupará em fazer a
felicidade do outro, se doará e desejará existir para o outro. Porém, o amor
não é só dar. O amor é um dom e dom dado é dom ofertado. Bento XVI vai dizer
que o homem pode tornar-se fonte de onde correm rios de água viva, porém ele
deve buscar antes a fonte de onde tudo se origina, que é Jesus Cristo, cujo o
coração trespassado brota o amor de Deus.
Portanto, antes de tudo,
somos chamados a uma abertura verdadeira à experiência do amor de Deus, amor
esse que nos acolhe como somos e nos satisfaz em nossas necessidades afetivas. Após
isso, como uma consequência, nos abriremos a experimentar o amor humano da
forma pura e verdadeira. É fácil? Nem um pouco. Todo esse processo requer paciência
e constantes iniciativas de amor.
(M.
N. S – Minions Católicos)
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