A importância do olhar


Amados, enquanto estava fazendo uma parte específica do roteiro espiritual “Tecendo o fio de ouro” me deparei com essa questão do olhar e decidi vir partilhar com vocês um pouco acerca desse fato que é talvez a parte mais negligenciada da comunicação humana. Nós homens temos a habilidade de nos comunicar não só através de palavras e gestos mas também do olhar, e somos marcados por esses olhares que tantas vezes deixam feridas em nós que nem alcançamos a extensão, feridas que também só podem ser curadas pelo olhar, mas um olhar diferente.
            É algo muito interessante perceber que antes mesmo de eu aprender a falar ou me expressar bem, eu olho e sou olhado, sendo o olhar a primeira forma de comunicação do homem. Um filho certamente ao nascer não compreende no momento que a mãe diz que o ama, mas percebe que seu olhar é amor, é algo que transparece. Quantos olhares não existem de tanta alegria na história de uma pessoa? Os olhares dos pais, da família, dos amigos, olhares que assistiram nossas conquistas, que se orgulharam de nós, que nos miraram com carinho e afeto. Quantas vezes só pelo olhar não conseguimos perceber numa pessoa íntima que ela não está bem? Minha mãe por exemplo era especialista nisso. O olhar é muito revelador porque é algo muito espontâneo, eu muitas vezes programo meus gestos e meu discurso, mas o meu olhar não pode ser mudado tão simplesmente, é como se fosse uma impressão da alma.
            Da mesma maneira que olhares podem nos marcar positivamente, também podem o fazer de maneira negativa, e como fazem! Quantas vezes não fomos olhados com desaprovação, tristeza, com desprezo, suspeita, rejeição, desdém ou tantas outras coisas ruins que o olhar também pode carregar. Me lembro claramente de uma vez (nos meus anos rebeldes) que minha mãe tinha pagado para eu ir para um retiro e viajado, quando retornou e viu que eu não tinha ido a tristeza nos seus olhos foi tão visível, tão marcante, que naquele momento eu arrumei minhas coisas e fui para o retiro sem precisar palavras. O olhar quando aliado a palavras duras, quando dentro de situações em que não é orientado para o amor pode gerar feridas profundas, marcas que permanecem conosco mesmo sem saber, que deformam a nossa autoimagem, danificam as nossas relações e até mesmo a nossa capacidade de amar. Diante das feridas do olhar nós nos sentimos tantas vezes humilhados, despidos da nossa dignidade, indignos, e essencialmente perdidos no meio de tantos olhares a nossa volta que não refletem o ponto focal das nossas vidas.
            Uma música (não sei exatamente de quem) diz “tantos olhares me olhando e eu querendo o teu” e essa é a essência do grito do coração humano por Deus. Tantos olhares mundanos exigindo que estejamos dentro de um padrão de beleza, que tenhamos sucesso nos estudos e no trabalho, que tenhamos o melhor celular, a melhor roupa, e o coração humano implora por um olhar que possa ver além do aparente, que transpasse o seu coração e revele a sua verdade, e esse olhar só pode vir de Jesus. Muitas vezes na minha vida eu retornei a passagem do jovem rico na minha bíblia (é uma das que mais me marcou) porque na tradução que eu tenho é descrito o olhar de Jesus, fala que Jesus olhou para aquele jovem e o amou. Não fala que Jesus abraçou o cara, nem que o tocou de qualquer maneira, mas que num simples olhar o amou. Esse simples olhar é aquele que tem o poder de curar as feridas causadas por qualquer outro, é o olhar que através do amor dignifica, restaura, revela a maior verdade da condição humana: somos amados! O olhar de Jesus coloca a existência humana no seu verdadeiro contexto que é o amor, vida humana que desce do seio do amor da trindade para a terra e que aí também é amparada em tudo pelo amor amante de Deus que se manifesta em tudo que é bom e belo. O olhar de Jesus é o único que pode restaurar toda a deformidade que tantos olhares humanos causaram em nós e assim começar a inserir a nossa vida naquilo que Santo Agostinho chama de Ordo Amoris, no ordenamento para o amor.
Esse olhar de Jesus é presente para nós na oração, na adoração eucarística e em tantos outros momentos através das pessoas, mas eu preciso desejar ser atingido por esse olhar que mesmo quando eu viro a cara ousa me olhar nos olhos. É preciso que nos coloquemos diante de Jesus como as crianças, que talvez não entendem tantas vezes a maneira como ele fala, mas que tem a capacidade de compreender o olhar que ama. É necessário a nós a simplicidade de não desejar somente amar a Deus, mas nos permitir transpassar pelo seu olhar de amor, chegar diante do sacrário e dizer “eis-me aqui, Senhor! Me olhe! Me ame com o seu olhar de amor! Invade com a luz dos teus olhos cada chaga da minha humanidade ferida, ilumina cada contorno e transforma tudo em amor!”. É essencial para que sejamos plenamente curados de tantas feridas do olhar esse deixar-se contemplar pelo olhar de Jesus. Eu recomendo rezar com o rosto de Jesus Misericordioso e ousar olhar o amor nos olhos, assumir a vulnerabilidade que é própria de quem ama e deixar-se contemplar por inteiro.
Peçamos hoje ao Senhor essa graça de perceber que o olhar que é marca definitiva na nossa vida não é o do homem, mas o de Deus, que vem restaurar a nossa essência que é o amor e nos dar vida nova! Deixemo-nos contemplar sempre e em todas as situações pelo amor para que assim tudo seja vivido nele e também o nosso olhar possa ser instrumento de amor na chaga aberta da humanidade!
Shalom!

(R. D – Minions Cattólicos)

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