Amados,
hoje vamos interromper ligeiramente as nossas reflexões sobre as Crônicas de
Nárnia para adentrar um tema diferente e que me chamou muita atenção quando li:
a relação do homem com os dons de Deus. Frei Raniero Cantalamessa, autor da
obra em que encontrei a analogia das árvores que norteara a nossa reflexão, é
pregador da casa pontifícia e amplamente envolvido com a renovação carismática.
Cantalamessa é muito conhecido por suas pregações acerca do Espírito Santo e é
precisamente sobre Ele que vamos falar. O autor apresentou algo que me
questionou muito no livro “Sober intoxication of the Spirit” ao colocar o
contraste em uma vida com demonstrações do Espírito e uma vivida no Espírito e
para ilustrar as diferenças traçou a analogia entre uma árvore de natal e uma
árvore que cresce a beira de um rio.
Quando
falamos da figura da árvore de natal, imediatamente nos lembramos não de uma
continuidade, mas de um momento, de algo que por vezes é apresentado de maneira
muito bela, mas que termina sendo guardado em janeiro (ou jogado fora no caso
de alguns países). A árvore de natal é algo belo por fora, mas por dentro é
artificial, sem vida e não dá frutos, é algo sempre estático, não cresce, não
muda. Já a arvore que cresce na beira do rio permanece o ano todo, mesmo diante
das mudanças que passa conforme as estações, está em constante mudança, sempre
no movimento da vida, mesmo quando o inverno chega e as aparências não são as
melhores. Mais do que tudo, a árvore do rio dá frutos, está constantemente
alimentada através das suas raízes e alimentando a humanidade seja com o
oxigênio da fotossíntese ou com os seus frutos no tempo oportuno. Acho essa
analogia de Raniero das árvores perfeita para falarmos um pouco do nosso
relacionamento com o Espírito Santo.
Se eu sou como uma árvore de natal
(ou uma árvore Nutella em termos atuais), eu posso dizer que eu tenho sim um
relacionamento com o Espírito Santo, mas não posso dizer que vivo com ele.
Sendo eu essa árvore, eu seria uma pessoa que vive de temporadas limitadas, de
retiro em retiro, as vezes mostrando de maneira muito bela as obras de Deus,
mas sempre de maneira aparente porque eu não tenho vida, eu não tenho raízes. É
preciso perceber que na árvore da nossa vida, o dom de Deus, o Espírito Santo,
não é dado para ser um simples adorno, não é simplesmente algo para me
embelezar por um tempo e ficar guardado o resto do ano, não é e não pode ser
uma vida aparente. Ser árvore de natal é entrar na linha daqueles a quem Jesus
chamou hipócritas, sepulcros caiados, que tem todo o embelezamento exterior,
toda a aparência, mas que não dão frutos autênticos de amor, não vivem. Ser
árvore de natal é ainda viver com Deus uma vida ilusória, abraçar o Espírito
Santo nos momentos da beleza, da alegria e se eximir de viver os momentos onde
os a beleza não é aparente, onde há as dificuldades do vento e da chuva, as
intempéries do tempo, é buscar a comodidade de uma sala de estar, os holofotes
de um shopping, e um tempo limitado ao invés da realidade do cotidiano.
Já a arvore que cresce a beira do rio
tem toda uma dinâmica diferente, pois ela vive não um momento, mas uma vida
inteira. Viver essa vida inteira é abraçar a presença do Espírito em tudo, é se
alegrar com o florescer da primavera e com os frutos de amor que são os dons
que Deus nos dá, é viver com ousadia o verão onde Deus mostra de maneira clara
a beleza de seu amor, é entrar no outono e aceitar que caia de nós o que é
velho e não mais nos pertence e ser grato no inverno porque mesmo quando a
aparência não é das mais belas a vida do Espírito nos alimenta e nos sustenta
até a nova primavera chegar. Ser árvore é assumir que a sua função não é ser a
mais bela, mas ser a que serve, que dá fruto e sombra, que é abrigo e alimento.
É viver não no extraordinário de um tempo, mas no ordinário de cada dia, a
beleza de ser alimentado, sustentado por Deus. Essa árvore, que devemos ser, é
aquela que busca ter raízes profundas na oração, na vivência dos sacramentos,
na vida comunitária e na oferta de vida, que deseja realizar sua vocação.
Amados, em tempos da internet
marcada pelo duelo “raiz x Nutella”,
é olharmos um pouco para a nossa relação com Deus. Deus é Aquele que deseja nos
dar através do Espírito Santo o sustento diário, o alimento em todas as
situações, que deseja ardentemente orientar a nossa vida para o amar e para o
servir, mas para isso eu preciso decidir quem eu sou diante de d’Ele. Preciso
na minha liberdade escolher não por momentos, mas por uma vida inteira ofertada
em busca da santidade, decidir por viver o real e não um embelezamento
artificial, uma vida sem comprometimento e sem frutos. Preciso assumir a minha
necessidade de um relacionamento diário, que se dá a cada simples segundo, com
esse Deus amoroso que quer, muito mais do que eu, que eu receba a plenitude da
graça no Espírito e que leve para o mundo os frutos desse amor.
Desde
já oro por todos (e peço que orem por mim) para que possamos crescer
diariamente a beira do rio da Água Viva e não viver da beleza artificial dos
momentos como uma árvore de natal. Que o Ressuscitado que passou pela Cruz
possa nos unir diariamente a sua cruz que é árvore de vida para que assim
vivamos tudo com Ele e carreguemos a força da sua vida em nós!
Shalom!
(R. D – Minions Católicos)
Comentários
Postar um comentário
Fale conosco através do email: minionscatolicos@gmail.com