Olá, meus irmãos!
Espero que todos estejam bem e vivendo santamente esse período favorável à
nossa conversão e salvação. Hoje continuaremos com o nosso estudo sobre a obra
“Quem me roubou de mim?”, do Padre Fábio de Melo. Nos dois textos anteriores
abordamos sobre a questão da subjetividade e os casos em que ocorrem o seu
sequestro. No texto de hoje, discorreremos sobre o encanto de ser pessoa, um
dos subtítulos encontrados no livro.
Sabemos que fomos
criados a imagem e semelhança de Deus e foi Ele quem inflou em nós, o sopro da
vida, e nos concedeu a dignidade de sermos seus filhos. “Novo Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e de seu amor, Cristo
manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação.
Em Cristo, “imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), foi o homem à “imagem e
semelhança” do Criador. Em Cristo, redentor e salvador, a imagem divina,
deformada no homem pelo primeiro pecado, foi restaurada em sua beleza original
e enobrecida pela graça de Deus”(CIC §1701).
Em Adão tivemos nossa
imagem maculada pelo pecado original, mas em Cristo obtivemos a redenção e a
reparação dessa imagem que nos assemelha a Deus. “A imagem divina está presente em cada pessoa. Resplandece na comunhão
das pessoas, à semelhança da unidade das pessoas divinas entre si” (CIC §1072).
Meus queridos irmãos,
nosso valor é inestimável, fazemos parte de um projeto divino, fomos pensados
e desejados por Deus. “Dotada de alma
“espiritual e imortal”, a pessoa humana é “a única criatura na terra que Deus
quis por si mesma”. Desde sua concepção, é destinada à bem-aventurança eterna”
(CIC §1703). Quão isso é magnífico! Deus nos quis por nós mesmos, e nos
criou para o céu.
Em seu livro, Padre
Fábio explica “a palavra pessoa é muito
comum entre nós. Apesar de a repetirmos o tempo todo, nem sempre a aplicamos
com a devida consciência de seu
significado. Geralmente a compreendemos somente como referência primeira ao ser
humano, mas creio que valha a pena mergulhar um pouco mais nos significados
profundos para os quais a palavra pode apontar”.
Ele também esclarece
que a palavra ‘pessoa’, a qual deriva do latim persona e do grego prósopon era
utilizada em referência aos ‘disfarces teatrais’, e por essa razão, ficou
associada à personalidade representada pelo autor. Assim, os gregos, que foram
grandes inventores do teatro transmitiram essa palavra com a seguinte
derivação: “pessoa é a máscara que o ator
sustenta no rosto”. No entanto, o padre diz que o contexto cristão foi além
dessa concepção e atribui-lhe um sentido mais profundo.
“Segundo
a Antropologia teológica cristã, o conceito de pessoa deve ser compreendido a
partir de dois pilares: ser pessoa consiste em “dispor de si” e depois “estar disponível”. Dispor de si é o mesmo que “ser de si, ter posse do que se é. Esse
primeiro pilar refere-se diretamente a tudo aquilo que já mencionamos a
respeito da subjetividade. O eu primeiro, irrenunciável que nos caracteriza em nossa singularidade”.
Para Padre Fábio, “a singularidade é um tesouro que não se
esgota”. Ele diz que estamos constantemente, vivendo a aventura , que
consiste em desvendar nossos territórios. “É
como se todos os dias fizéssemos uma caminhada pelo espaço onde está localizada
a nossa casa, e sempre descobríssemos lugares nunca antes percebidos. Uma vez
descoberto, o território passa a incorporar o que somos. Olhamos e dizemos:
isso é meu! Descobrir não é o mesmo que inventar. Nós já estamos em nós; o único
esforço é descobrir o que somos”(Padre Fábio de Melo).
Estamos em um processo
de autoconhecimento, redescoberta de nós mesmos. E Padre Fábio declara: “Cada pessoa é uma propriedade já entregue,
isto é, dada a si, mas ainda precisa ser conquistada. É como se pudéssemos
reconhecer: “Eu já sou meu, mas preciso me conquistar”, porque, embora eu tenha
a escritura nas mãos, ainda não conheci
a propriedade que a escritura me assegura possuir”.
Vamos agora ao segundo
pilar do conceito de pessoa, que consiste em “estar disponível”. “O que dispõe de si estabelece relações.
Depois de assumida a propriedade, aquele que se possui passa a ter condições de
receber visitas. Ser visitado é também um jeito de reconhecer o que
possuímos. A presença do outro nos indica quem somos. O encontro nos diferencia
num primeiro momento para depois nos congregar. No processo da diferenciação
está a posse de si mesmo” (Padre Fábio de Melo).
“Nisso
consiste os dois pilares do conceito de “pessoa”. Possuir-se para disponibilizar-se.
É a vida na prática, é a trama da existência e sua riqueza
insondável. Encontros e despedidas. Passagens transitórias, chegadas
definitivas. Vida se desdobrando em pequenas partes. Eu me encontrando, surpreendendo-me,
como se ainda não soubesse nada sobre mim. Eu misturando minha vida na vida do
outro, encontrando-o, permitindo que nossos significados nos congreguem. Eu
abandono a solidão de minha condição de posse de mim mesmo para alcançar a
proeza de ser com o outro. Antes, a solidão do eu; depois, o estabelecimento do
nós. Encontro de pessoas. Um eu que
se encontra com um tu e que juntos
estabelecem um nós”
(Padre Fábio de Melo).
Padre Fábio faz referência
a Martin Buber, e traz em seu livro o pensamento desse homem, que ele intitula
como o grande nome da filosofia personalista: “No encontro entre um eu e um tu, uma
terceira pessoa de existência própria se estabelece. Nossos olhos não podem
enxergá-la, mas a nossa sensibilidade nos aponta para ela. O nós é o que sobra do encontro entre o eu e o tu.”
Enquanto pessoas, estamos
sempre em busca de conhecermos a nós mesmos, a nossa essência, os nosso
limites, tomando posse de quem somos, e também
estabelecemos conexões, relações com outras pessoas. No entanto, temos que ter
essa posse de nós mesmos, ter a consciência de quem somos verdadeiramente, para
que nesses encontros que a vida nos proporciona, não corramos o risco de ter
nossa subjetividade sequestrada, mas sim, crescermos, em virtude dessas
relações que cultivamos ao longo do tempo.
Quanta beleza, quanto
encanto há em ser pessoa! A vida sendo essa arte dos encontros e permitindo que
nós, pessoas, acrescentemos, agreguemos na vida uma das
outras. Que Deus nos conceda a graça de
reconhecermos o nosso valor, o valor de ser pessoa, o valor inestimável de
sermos sua imagem e semelhança, e nos conceda também a virtude de termos um
coração semelhante ao d’Ele, a graça de contribuirmos com cada pessoa que
cruzar o nosso caminho, para sempre somarmos em sua vidas.
Paz e bem!
“É muito interessante perceber que onde existe uma pessoa de verdade,
isto é, no sentido exato do termo, ali outras pessoas também estão sendo feitas.
Isso se explica por uma razão muito simples. O processo e tornar-se pessoa é
contagiante. Quando encontramos alguém que verdadeiramente está desbravando seu
universo de possibilidades e limites, de alguma forma nos sentimos
motivados a fazer o mesmo.
Não me leve de mim.
Leve-me até mim.”
(Do Livro “Quem me roubou de mim?” – Padre Fábio de Melo)
(S.
A – Minions Católicos)
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