Amor?

“(...) Não desperteis nem perturbeis o amor, antes que ele o queira” (Cântico dos Cânticos 2, 7)

Chegamos ao nosso penúltimo texto sobre o livro “Quem me roubou de mim? ”, do Padre Fábio de Melo. Hoje falaremos sobre o amor, mais propriamente sobre o mito do amor romântico, um dos subtítulos dessa riquíssima obra, que estamos analisando.
Para começarmos a discorrer sobre o assunto, trarei um fato que acrescentará o nosso texto. Ano passado, uma prima minha ficou noiva, então, escrevi uma mensagem para ser lida aos noivos, naquele momento tão especial. Deixarei aqui parte de seu conteúdo: “O amor! Ah! O amor! Existem pessoas que passam uma vida inteira à sua procura. Já tem outras que suspiram ao ver esse amor nas telas do cinema, nos romances dos livros. Mas, o amor verdadeiro não é essa doce ilusão dos filmes e dos livros. O verdadeiro amor é bem real! Esse é provado nas adversidades do dia-a-dia, nas divergências de ideias, no ceder, no fazer o outro feliz! ”.
O amor reproduzido nos filmes, nos romances é um amor romantizado. Para Padre Fábio os contos de fadas expressam o mito do amor romântico. “Sabemos, por experiência, que contos de fadas são histórias fascinantes. Eles evocam o sonho que o ser humano tem de protagonizar uma história de amor perfeito: amores homéricos entre príncipes e plebeias, bela adormecida, princesa acorrentada na torre esperado por seu príncipe que virá montado em um cavalo branco” (Pe. Fábio de Melo). Para o padre, “tudo isso é construído para ilustrar o profundo psicológico de um povo que precisa resolver suas carências e necessidades. O amor e seus personagens fascinantes protagonizam aquilo que a humanidade gostaria de experimentar na carne real da existência”. Mas afinal, em que consiste esse mito do amor romântico? 
Padre Fábio explica que esse mito parece ter entrado na sociedade ocidental durante a Idade Média, e conforme algumas pistas, a sua primeira aparição na literatura foi por meio do conto de amor vivido entre Tristão e Isolda. Assim como no livro, não entraremos no mérito dessa história, mas sim, observaremos um pouco da influência desse mito na sociedade.
“O mito do amor romântico é muito mais que uma forma de amor. É todo um conjunto psicológico, tecido de expectativas e idealizações, onde pessoas e realidades são inseridas”. Além disso, “no mito do amor romântico a paixão prevalece. Assim, cria-se a ilusão de que o foco da paixão condensa todas as soluções dos problemas existentes na vida. O outro acaba se tornando uma construção, cujo tijolos foram retirados dos insondáveis terrenos de nossas carências e necessidades” (Padre Fábio de Melo).
Para continuar o esclarecimento acerca desse mito, Padre Fábio elucida que nesse mito, “a pessoa amada é vista, de forma consciente ou não, como a primeira responsável pela satisfação dos desejos e necessidades de seu amante. Uma forma de encantamento parece inibir a percepção da realidade de maneira que a relação passa a representar um perigo para aqueles que dela fazem parte” (Padre Fábio de Melo).
É muito interessante quando o Padre clarifica que “o mito do amor romântico prevalece no momento em que a realidade é construída a partir de seres humanos idealizados”. E para ele, essa idealização que fazemos do outro é uma forma de sequestro. Pois, como ele mesmo considerou, “no ato de imaginar, o outro constrói a pessoa ideal, e essa pessoa ideal não existe, pois, o próprio conceito já nos diz. Ideal só existe na ideia”. Ademais, “não existe pessoa “ideal, mas sim pessoa “certa(Padre Fábio de Melo).
Não podemos ficar presos aos ideais que fazemos da pessoa amada, tampouco nos deixar levar pelo mito do amor romântico, pois “a vida real não corresponde aos relatos dos contos de fadas. Não estamos acostumados a encontrar fadas madrinhas que transformam, num toque de mágica, a borralheira em princesa admirável. O processo humano é doloroso. Nossos sapatos não são de cristais, nossos cavalos são mancos e não há carruagens paradas às portas de nossas casas esperando para nos levar aos destinos de nossos sonhos. A vida nos mostra que transformações mágicas não existem, da mesma forma como amores perfeitos estão distantes de nossos olhos” (Padre Fábio de Melo).
Parece duro, não? Pode-se dizer, até desolador, mas essa é a realidade, você não encontrará alguém perfeito, o príncipe ou a princesa que fará de sua vida, um mágico conto de fadas. Você encontrará alguém comum, com qualidades e defeitos, alguém que é humano, que vai errar, mas que lutará para que esse amor real se solidifique. Alguém que caminhará contigo lado a lado, mostrando que o verdadeiro amor é provado enfrentando os “dragões” do dia-a-dia. Não pare em sua ideia de um amor perfeito, mas sim, na concretude de um amor humano, que traz em si a beleza da realidade e não a fantasia do imaginário.

“Amar é exercicício de descobrir o que o outro tem de maislindo, mas também de mais vergonhoso. Amores perefeitos só existem nas projeções. Ou nos jardins...”
(Padre Fábio de Melo)


(Stella Araújo – Minions Católicos)

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