Amados, na sua
exortação apostólica Evangelii Nuntiandi
o Santo Padre Paulo VI se referiu a Mãe de Deus como a “Estrela da
Evangelização” e esse título carrega uma riqueza de sentido gigantesca sobre a
qual vamos elaborar um pouco hoje. O mesmo Paulo VI afirmo que “Evangelizar é a
graça e a vocação própria da Igreja, sua identidade mais profunda” e aí podemos
ver como é fundamental seguir essa estrela que vai a nossa frente no caminho,
afinal, “Na anunciação, Maria é a primeira evangelizada, e na visitação, é a
primeira evangelizadora que leva a Boa Notícia” (Emmir Nogueira, 2013). Em
Maria, Jesus nos dá como que um caminho perfeito da atividade evangelizadora
que se estende no tempo e é ela que devemos ter por espelho.
Ao falar da evangelização, Emmir Nogueira nos diz que
“não se trata tanto de pregar o Evangelho em vastos espaços num tempo curto,
mas de transformar profundamente o interior do homem” (2013) e é precisamente
desse ponto que eu quero partir hoje. A evangelização, para que possa tocar e
transformar o coração dos homens, necessita de ser encarnada, não subsiste
simplesmente das nossas palavras. No modelo de Maria vemos alguém que foi
evangelizada e somente depois parte para evangelizar, mas o evangelizar de
Maria não vem somente do conhecimento da Boa Nova, não é algo puramente
intelectual, mas algo que é visto na sua vida, que pode ser tocado. Irmãos,
para podermos ser evangelizadores como Maria, precisamos primeiramente ser os
evangelizados, diariamente, continuamente! Precisamos permitir que o Evangelho
com a sua força transformadora molde as nossas vidas, vá adentrando a nossa
carne na medida que nós vamos livremente nos submetendo ao senhorio de Jesus. É
necessário compreendermos que a evangelização verdadeira não pode alimentar-se
somente de um conhecimento humano, de uma habilidade para falar ou de um dom
para lidar com pessoas, ela precisa beber diariamente da Água Viva, precisa dar
tempo para uma vida de oração profunda onde o amor de Deus que há de ser
anunciado se renove a cada dia. É preciso permitir que esse Evangelho lido,
meditado, orado, transforme a minha vida, a minha humanidade, a minha carne,
que através dele o Senhor possa imprimir seu rosto na minha vida e assim se
tornar visível para a humanidade que geme e chora esperando a manifestação dos
filhos de Deus. Se eu não permitir que o Evangelho transforme a minha vida,
como eu posso crer que ele pode transformar a vida dos outros? Como posso
recomendar para alguém algo que não me atinge? O Evangelho pregado necessita
ser vivido em primeira pessoa, sempre e a cada dia para que seja pregado de
maneira eficaz e fecunda, como nos diz Emmir “Acolher Jesus no espaço da
própria humanidade não é ameaça para o homem, mas a única estrada real a
percorrer para viver e anunciar com eficácia o Evangelho”.
Uma vez que esse Evangelho é vivido, encarnado, e
admitido como a força que move as nossas vidas, o caminho de Maria nos mostra
que o coração é impelido ao anúncio. Maria vai com pressa ao encontro de
Isabel, não consegue conter esse amor que habita dentro de si, que é a
esperança das nações, o amor mais forte que a morte. O Evangelho, quando toca a
concretude da vida do homem, gera no coração a urgência do anúncio, o desejo
ardente pela salvação de todas as almas. Maria nos ensina a nos pôr a caminho,
“ela é a missionária que se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da
vida, abrindo os corações a fé com seu afeto materno” (Evangelii Gaudium, 287).
Esse pôr-se a caminho é algo que nos move para fora de nós mesmos, que orienta
a nossa oferta de vida para os nossos irmãos, mas que pede de nós uma oferta
generosa. Irmãos, o que vemos no mundo de hoje, e particularmente no Brasil, é
uma sociedade bastante dividida, cheia de ideologias contrastantes (e tantas
tão avessas ao Evangelho de Jesus) e de pessoas que em larga enxergam uns aos
outros segundo as lentes das ideologias e não segundo as lentes da humanidade.
Ser evangelizador aos moldes de Maria é ter a coragem de ir ao encontro
daqueles que necessitam, não dos que me são confortáveis, é ter a capacidade de
olhar com ternura aos menos desejáveis e ver neles não a absoluta corrupção do
pecado mas a miséria humana que aguarda por ser salva pelo choque da
ressurreição. O Evangelho encarnado nas nossas vidas precisa ser luz para todos
os que passarem pelo nosso caminho, mas não um pisca-pisca que só aparece em
época de festa e quando quer! Esse Evangelho precisa ser farol que guia a todos
os que o veem para o porto seguro da salvação da Cruz de Cristo. O mundo tem
urgência dessa salvação, precisa ver a Cristo na minha e na sua vida!
Uma das maneiras mais belas em que contemplo a Estrela da
Evangelização é nas suas diversas aparições ao redor do mundo, nessas ocasiões
em que a estética por vezes é diversa, mas o anúncio é o mesmo. Maria é a
imagem do evangelizador que sabe se fazer próximo do outro, que sabe adaptar o
que é possível sem perder o que é necessário, que não trata o Evangelho como um
conceito que não pode ser vivido, mas como algo a ser incorporado na realidade
de cada povo. Maria, que é a mesma de Guadalupe a Xangai, de Aparecida a Fátima,
é prova concreta que Deus nos dá de que a salvação contida na Boa Nova de Jesus
pertence a todos (Fátima inclusive, por providência divina, era o nome da filha
de Maomé). No mundo de hoje nós podemos ver traços cada vez mais fortes de
divisão, fronteiras sendo reforçadas, discursos xenófobos, e Maria vem mostrar
a todo o cristão que oferta a sua vida na atividade evangelizadora (que deveria
ser absolutamente todo o cristão) que o nosso papel e ser ponte, é deixar-nos
levar pela sopro do Espírito a todos os cantos do mundo, sem restrições, e
permitir que a caridade ardente que consome os nossos corações possa ser sal
para essa humanidade que perde o sabor ao se distanciar de Deus cada vez mais.
Amados, com coragem, disposição e docilidade, coloquemos
nossos olhos em Maria, a Estrela da Evangelização, para que sejamos inseridos
de maneira plena na dinâmica transformadora do Evangelho encarnado e anunciado
por amor. Que com os olhos fixos nela possamos fazer a cada dia a experiência
pessoal do amor no Evangelho e assim transbordar para o mundo sedento e
necessitado de amor.
Shalom!
(Rodrigo
Damasio – Minions Católicos)
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