Maria, a serva humilde - Reflexões sobre o Magnificat parte 1

Amados, no começo desse mês mariano, venho propor que façamos um itinerário de conhecimento de Maria através do Magnificat, que é quase uma impressão digital da alma da Virgem de Nazaré. De tantas coisas que o Magnificat nos fala a respeito de Maria eu escolhi começar pela servidão humilde, daquela que se assume pequena e que nada toma para si mesma, mas tudo coloca nas mãos de Deus, como nos diz Emmir Nogueira (2013) “A alegria de Maria vem de Deus e para Ele remete todo o seu ser virginal”.
Uma das coisas que eu acho mais interessantes nos Cântico de Maria, e também nas maneiras como tantas vezes nos referimos a Maria, é que sempre se utilizam conceitos de referência, sempre se remete a Deus: o ser Mãe remete ao Filho, a esposa que só existe em relação com o Esposo, a serva que só existe em relação com o seu Senhor. Para mim é aí que encontramos grande parte da beleza de Maria, numa existência que até em termos de nomenclatura é firmemente ancorada em Deus, mutuamente dependente. É precisamente nessa servidão humilde que se encontra em Maria algo das experiências primordiais da humanidade antes da queda dos nossos primeiros pais, a comunhão perfeita com Deus.
Contrário aos conceitos de servidão que hoje conhecemos, que tem uma conotação essencialmente negativa, a servo de Deus aos moldes de Maria é essencialmente um servo alegre, pois como aponta Emmir Nogueira (2013) “O servo é aquele que encontrou o caminho mais curto e eficaz para o amor concreto”. A servidão de Maria não é sob o peso do julgo da lei que frustra e condiciona a liberdade, mas na suavidade do amor, na convicção plena do ser amado que reconhece que Deus “olhou para a humilhação da sua serva”. Se eu pudesse apontar algo como mais importante seria isso: Maria no Magnificat nos ajuda a compreender que a essência da servidão a Deus é o amor. O meu servir a Deus passa, e precisa sempre passar, pela existência em mim de um coração traspassado pelo amor de Deus, pois somente esse coração é capaz de saber que “o seu serviço aos homens é um transbordamento amoroso da sua caridade para com Deus” (Emmir Nogueira, 2013). Somente a convicção do amor de Deus por nós, a experiência constante da humildade em admitir a sua eleição de misericórdia tem a capacidade de nos transformar, porque nos coloca numa servidão que não constrange a nossa liberdade, mas que a conduz a plenitude na vontade de Deus.
O uso dos conceitos de relação quando falamos de Maria é ainda uma testemunha de sua profunda humildade, de uma alma que tudo remete a Deus, que reconhece que Ele faz e que se reconhece não como merecedora, mas como vítima do amor de Deus. Maria, em sua humildade, vem quebrar o desejo de autossuficiência do homem, vem romper muitas vezes com a lógica veterotestamentária de que o homem era capaz de se purificar, de merecer a salvação, e entra, mesmo antes da ressurreição de Cristo, na compreensão da primazia da Graça, da gratuidade do amor e da iniciativa divina. Maria vem fazer ressoar no meu coração e no seu que somos vítimas da ação divina, que podemos cooperar com ela, mas que no final, Ele é o protagonista, Ele realiza as maravilhas. E é precisamente a fé de Maria em Deus que nos convida a sair da lógica da autossuficiência, a sair dessa vida onde podemos fazer tudo por nós mesmos, e assumir uma vida como a dela, humilde, totalmente relacional com Deus, na fé de que conforme vamos aderindo a Sua vontade, Ele fará maravilhas, e já faz!
No mundo de hoje ninguém quer ser servo e a humildade nem sempre é vista como necessária e é por isso que convido a todos a voltar o nosso olhar para Maria. Voltemos o nosso olhar para ela que deixou-se traspassar pelo amor de Deus e ali encontrou a verdadeira alegria do servir. Permitamos, e peçamos com fervor a Maria, que o nosso coração seja rasgado, atingido, dilatado pelo amor que nos fará encontrar a verdadeira felicidade que vai além de tudo que o mundo pode oferecer e que se encontra no servir a Deus e aderir a Sua santa vontade. Voltemos o nosso olhar para Maria que soube entender que na humildade, no reconhecimento da verdade da nossa condição é que se constrói a verdadeira e pura relação do homem com Deus, pois assim damos a Ele o lugar que lhe pertence. Peçamos a intercessão da Mãe para que possamos não só reconhecer ou compreender, mas viver na nossa carne essa existência humilde e relacional a Deus, que grita o Seu nome a cada mínimo ato, que tudo faz pela Sua glória e em tudo reconhece a sua graça.
Que o nosso coração possa, ao contemplar o coração servil e humilde de Maria, reconhecer que é nessa servidão que se encontra o caminho da felicidade terrena e da eternidade!
Shalom!

(Rodrigo Damasio – Minions Católicos)


Referências:

Nogueira, Maria Emmir Oquendo (2013). Mãe da Nossa Fé. Edições Shalom: Aquiraz.

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