Se perguntarem porque vivo, diga que vivo por Amor


            Amados, essa é a questão provavelmente mais complexa que o ser humano enfrenta: qual a razão da minha existência? Por que eu vivo como vivo, faço o que faço? Essas perguntas, numa época ou outra, de maneiras diversas, se apresentam a nós. Nós, homens, buscamos oferecer várias respostas que estão adaptadas à nossa realidade, aos nossos sonhos, a vontade de Deus para nós (que nem sempre é a coisa mais simples de se discernir), e eu humildemente venho dar a minha resposta, talvez não como habitualmente viria numa sexta-feira para formar, mas simplesmente para partilhar coisas que Deus vem plantando no meu coração.
            A razão da minha existência, como o título do texto deixa claro, é o Amor. Descobrir que era isso não foi um caminho fácil, pois o Amor não se acha sozinho, é preciso que ele se mostre, ou melhor, que eu o deseje ver. A experiência do Amor se radica na profundidade do ser amado, do descobrir-se querido, predileto, desejado, e para uma pessoa como eu que passou uns bons 9 anos sendo ateu, essa experiência era incompleta. No mero Amor humano eu não consigo afirmar que eu vivo por Amor, porque o Amor humano nada mais é do que reflexo do Amor de Deus, e por mais belos que os reflexos sejam, eles não chegam aos pés da realidade que representam. Ao encontrar com o Amor de Deus, esse Amor que ao mesmo tempo está fora e dentro, que é Outro em mim, eu pude ver que o Amor era a razão da minha existência não porque eu o tinha escolhido, mas porque Ele me escolheu, e me escolhia novamente a cada dia! Foi chocante ver que antes de eu ser, Ele era, antes de eu querer, imaginar, pensar sobre mim mesmo, Ele amava, tinha planos de Amor, sonhava com a minha felicidade. Dizer que vivo por Amor é, antes de mais nada, o mais genuíno reconhecimento de que eu sou amado, desde sempre e para toda a eternidade, é dizer que antes de protagonista, eu sou vítima de um Amor que se dispôs a dar tudo por mim e assim me ensinar a amar. Viver por Amor é encontrar na profundidade do ser amado uma força mais forte que a morte e que é capaz de gerar em mim o desejo de amar.
Viver por Amor é aceitar que eu não vivo para mim mesmo! Como poderia viver para mim mesmo se o Amor, até por ser verbo, precisa de um objeto? O primeiro era Ele, claro! Tinha (e tem) que ser Ele o objeto primeiro, pois nas chagas do seu coração ferido e aberto foi que eu descobri o que era Amor, e que eu era feito para amar. Mas ao mesmo tempo, Ele não se confinava num lugar, numa pessoa, e me desafiava, porque se eu verdadeiramente quero dizer que vivo pelo Amor, preciso viver por Ele onde quer que o encontre! E Ele se deixa encontrar e tocar em cada homem, em toda a humanidade, tanto nos que o amam quanto nos que ainda não sabem o que é o Amor, e em cada um deles me chama, grita por mim! Como não gritaria? Ele me ama e pertence ao Amor, eu só pertenço realmente a Ele quando amo, quando permito que o dom gratuito do seu Amor infinito seja a minha oferta, quando sou eu o vazo que se quebra para derramar os perfumes, o incenso que se consome e perfuma o ar ao seu redor. A cada encontro com Ele eu sou inflamado por esse Amor que só me pertence verdadeiramente na medida que é dado, e seduzido por esse Amor eu desejo dá-lo, eu percebo que esse Amor vale uma vida, e mais do que isso, vale a minha vida.
Assumir que eu vivo por Amor é também permitir que o Amor entre em tudo, é não ter posses para que Ele tudo possua em mim. Viver por Amor é desejar transfigurar-se a cada dia mais nesse Amor, permitir que sua luz tudo toque, tudo exponha, e na sua luz, permitir que tudo se faça novamente, se molde na imagem do Amor. Esse Amor é o comprometimento de uma vida, pois permeia tudo, é razão de tudo, está em tudo, e eu desejo que esteja! Se ele não está em algo, também eu não deveria estar a partir do momento em que professo que Ele é a razão do meu viver. É um caminho muito difícil, pois o Amor vem para educar uma liberdade rebelde (nem sei se chamaria de liberdade), que se debate, que deseja possuir coisas e pessoas, que nem sempre se acostuma com a insegurança, que queria respostas fáceis. Mas mentiria também se não dissesse que o Amor ao olhar a verdade quebra a escravidão da liberdade rebelde. O Amor é interessante, porque viver por ele não furta as dificuldades, não tira todas as dúvidas, não me exime de sentir dores, mas ao mesmo tempo transforma tudo! O Amor enche tudo de esperança, enche tudo de si mesmo, e ao fazê-lo, enche a mim da consciência de que Ele basta, e isso é suficiente.
Shalom!

“O Amor está ao meu lado sempre
Ele caminha comigo
Ele me ensina tudo
Por isso eu amor o Amor
Onde quer que o encontre”
A Buamêi – Wilde Fábio Alencar

(Rodrigo Damásio- Minions Católicos)


Comentários