Na Solidão ou na Companhia: como devo andar ao encontro da minha vocação – o Exemplo de Santo Inácio.
“De que serve o homem ganhar o universo se vier a perder sua alma?”
Santo Inácio
Caros
correspondentes em Cristo, durante nossa vida religiosa surgem diversas dúvidas
e dilemas: que ministério servir, que pastoral devo me por a aprender e ajudar,
onde devo ir e, principalmente qual vocação devo seguir. Muitas são as aflições
e as crises que assolam a nossa alma sobre os quais? Quando? Como devo atuar na
minha vida religiosa? Qual das vocações devo seguir? Muitas vezes todas essas
dúvidas temos, vivenciamos e guardamos para nós mesmos. Não sabendo se é melhor
discernir sozinho ou partilhar com alguma outra pessoa, a fim de buscar um
melhor direcionamento sobre a nossa situação ou vocação.
As viagens
Pois
bem é nesse momento que chegamos na terceira parte da vida de Santo Inácio
(vocês podem ler a primeira aqui e a segunda aqui). Nessa altura o nosso
peregrino já estava muito decidido que deveria partir até a Terra Santa e
seguir as pegadas de Jesus. Mas em toda sua jornada, Inácio sempre optou em
fazer tudo sozinho pois dizia: “prefiro estar só para apreciar a companhia de
Cristo”[1].
E
mesmo sobre advertências Inácio partiu sozinho para a Terra Santa. Logo
encontrou grandes dificuldades pois não queria companhia e muito menos aceitava
dinheiro e provisões para viajar. Acreditava que se aceitasse era “não confiar
na providencia”[2]. Não era fácil viajar até a Terra Santa. Entre os
muitos percursos o mais comum utilizado pelos peregrinos era viajar entre os
mares ou rios de um país para o outro e das cidades romanas chegar até o
Oriente[3].
Insistente
em não levar dinheiro ou provisões, quase nenhum barco permitia que Inácio
embarcasse, somente após o conselho de um confessor, esmolou pelas ruas e com o
que conseguiu embarcou em um pequeno navio.
Um
grande problema acontecia nesse período era a época que se exigia vistos de
saúde para evitar uma nova epidemia de peste negra[4]. Inácio que não tinha o visto e por falta de
forças (em decorrências dos grandes jejuns), não conseguia voltar e conseguir
um visto. Passou a noite rezando e Cristo o confortou. Assim quando preciso
encontrava a suserania da cidade para entrar[5], ou muitas vezes passava sem ser notado (ou
sequer visto) pelos guardas.
Nesse
ponto de sua vida Inácio começa a aceitar caminhar com outros viajantes e
peregrinos, mas isso não significava que ele estava em companhia dos mesmos...
Quantas vezes estamos sozinhos em meio a tanta gente? Quantas vezes ficamos
calados com dúvidas e aflições e não partilhamos com o próximo ao nosso lado?
Após
participar da Semana Santa e com a Bênção e permissão do Papa Adriano IV ele
partiu para Jerusalém.
Chegando
em Jerusalém tentou se estabelecer junto aos Franciscanos, mas devido as
dificuldades que a ordem encontrava frente aos turcos otomanos eles não puderam
atender. Quando o Provincial Franciscano chegou, Inácio tentou argumentar e
demonstrar que “estava com o firme propósito de ficar ali e seguir os passos de
Jesus”[6]. Entretanto o Provincial explicando novamente a
situação, ordenou-lhe que partisse da Terra Santa e que tinha ordem Papal para
decidir quem devia ficar ou partir daquela região[7].
Antes
de partir por vontade própria, Inácio foi ao Monte das Oliveiras e teve uma
experiência ao ver as pegadas de Cristo. O buscaram e arrastaram de volta ao
convento e sobre essa experiência teria dito: “recebeu de nosso Senhor grande
consolação: parecia-lhe que via sempre a Cristo sobre ele”[8].
Entre livros e prisões
Após
voltar para Barcelona, decidiu que deveria se dedicar tanto aos estudos de
teologia, quanto a da filosofia e da Sagrada Escritura, para unir junto a Unção
do Espírito Santo. E como Inácio queria de uma forma muito ferrenha, continuar
a praticar as virtudes teologais: caridade, fé e esperança, Inácio utilizava
somente o necessário para conseguir o material para estudos, o restante doava
aos pobres e vivia em jejuns. Primeiro estudou com meninos e após concluir os
estudos partiu para a famosa universidade de Alcalá, para estudar filosofia.
Nesse
período em Barcelona, conheceu e encantou algumas pessoas que seriam seus
discípulos e depois o encontrariam em Alcalá. Inácio que andava descalço (com
um sapato sem sola, para ninguém perceber), junto aos seus discípulos começou a
pregar a doutrina Cristã e dar como fruto os Exercícios Espirituais...
Notem
que os Exercícios era “uma novidade”, Inácio teve várias revelações que lhe
explicavam e lhe faziam compreender assuntos teológicos complexos como a
Santíssima Trindade, de uma maneira muito simples. E ele ainda estava estudando
filosofia e não tinha feito teologia.
E
vocês devem estar pensado, mas ele era santo, via Cristo, ou conheço vários
irmãos que não estudaram, mas que “manjam” muito da Bíblia ou da teologia... E
o que isso importa? TUUUDOOOOO! Lembrem que nesse período (1527) era época da
Reforma Protestante (1517 – 1560), onde baseado nas teses protestantes, se
fazia uma livre interpretação bíblica sem ter a comunhão com a tradição e o
magistério da Igreja Católica[9]. Imaginem cada pároco, bispo ou superior de
ordem, que ouvia um ex guerreiro sem formação tradicional e muito menos sem ser
um religioso. Imaginam a confusão?
Inácio
foi preso diversas vezes em cada lugar que passou: Alcalá, Salamanca, Paris...
Dispensava advogados pois: “Aquele por cujo amor entrei aqui, me tirará se for
disso servido”[10]. Grandes professores viam nele a figura “de Paulo
entre os ferros”[11]. Seus discípulos que também eram presos, em certa
ocasião em Salamanca todos os presos fugiram menos os dois.
E por
diversas vezes Inácio foi submetido ao julgamento de Inquisidores ou doutores
em teologia[12], que lhe perguntavam desde a complexidade da
Trindade, apresentavam casos de direito eclesiástico e pediam para reproduzir o
ensinamento que faziam ao povo[13]. E toda vez que apresentava os Exercícios
Espirituais a um erudito ou um filho de fidalgo e esse passava por uma mudança
radical, viam nele e em seus gestos uma ameaça!
E que fazer?
Com
muitas dificuldades Inácio termina os estudos, seus discípulos também. E como
muitos de nós quando alcançamos certa etapa da vida, nos perguntamos: o que
fazer? Para onde ir? O que devo decidir? Nessas encruzilhadas da vida só Cristo
vai nos ajudar!
Inácio
ainda tinha o firme propósito de voltar a Terra Santa e servir com muita
caridade os Peregrinos e demais pessoas nessa terra dominada por outros povos.
Entretanto
devido as durezas que passou nessa altura Inácio via o valor daqueles que o
seguiam, seus bem aventurados companheiros sobre tudo com dois grandes
companheiros: Pedro Fabro e Francisco Xavier e se juntariam outros como Diogo
Laynes, Afonso Salmerón, Nicolau Afonso e o português Simão Rodrigues. Pessoas
que comungavam dos Ideais de Inácio e eram fortalecidos pelos Exercícios
Espirituais. Se reuniram na Festa da Assunção na Igreja de Montmatre[14]. O único sacerdote Pedro Fabro celebrou a missa e
durante a comunhão fizeram os votos de castidade perpétua, pobreza voluntária e
da viagem a Palestina, ou de se por a disposição do Santo Padre. Todos iriam
praticar os Exercícios Espirituais e seguir o “irmão mais velho”. Nascia assim
a Companhia de Jesus. E continuaram a passar por dificuldades, em certa ocasião
novamente foram levados perante o Inquisidor por conta dos Exercícios
Espirituais. E esse quando o examinou ficou tão encantado que não quis terminar
o processo e ainda pediu uma cópia do Livrinho. Inácio voltou com a declaração
de que os Exercícios eram isento de qualquer erro doutrinário[15].
Inácio,
agora com seus companheiros jamais desistiam ou desvaneciam... seguiam firmes
na consulta um do outro com propósito de servir a Cristo e anunciar o
“Evangelho com doçura, com fraternidade, com amor”[16].
“De que serve o homem ganhar o universo se vier a perder sua alma?”
Santo Inácio
Oração das Cinco Chagas (São Francisco Xavier)
Meu Senhor Jesus Cristo, em cuja mão são todas as coisas, e ninguém
pode resistir à sua vontade, que você se dignou a nascer, morrer e ser
ressuscitado: o mistério do seu Corpo Santo, e as cinco chagas, e o
derramamento de o seu precioso sangue.
Lamente para nós, como você sabe o que você precisa em nossas almas
e em nossos corpos; livra-nos das tentações do diabo e tudo que você ver que
nos aflige; e conserva-nos e fortalece-nos até o fim, em seu serviço, e dar-nos
uma verdadeira alteração, e espaço de verdadeiro arrependimento e perdão de
todos os pecados após a morte; e fazer-nos a amar os nossos irmãos, irmãs,
amigos e inimigos; e com todos os santos regozijar para sempre no seu reino,
com Deus Pai e o Espírito Santo vive e reinado, Deus para todo o sempre. Amém.
Derlei
Andriotta – Minions Católicos
[1](Inácio)
autobiografia
[2](Plínio
Solimões) Santo Inácio de Loyola o Guerreiro de Cristo
[3](Mario
Martins SJ) Peregrinações e livros de milagres da Nossa Idade Média.
[4](Mudanças
e Rumos no Ocidente Medieval)
[5](Plínio
Solimões) Santo Inácio de Loyola o Guerreiro de Cristo
[6](Inácio)
Autobiografia
[7]Nessa
época os Turcos além de dominarem a terra santa, aprisionavam peregrinos
exigindo resgates, sendo que muitas vezes as ordens, instituições religiosas ou
mesmo a igreja eram obrigadas a paga-las. (Franco Junior) Peregrino, Monges e
Guerreiros
[8](Inácio)
Autobiografia.
[9]Para
saber mais o livro da Reforma a Contrarreforma dá um bom panorama do contexto
histórico do Período. Outra leitura interessante é as resoluções canônicas do
Concilio de Trento.
[10](Inácio)
Autobiografia
[11](Plínio
Solimões) Santo Inácio de Loyola o Guerreiro de Cristo
[12]Em
especial os Dominicanos eram grandes teólogos desse período
[14]Local
onde São Dinis foi Martirizado.
[15](Inácio)
Autobiografia
[16](Papa
Francisco) Homilia de 3 de Janeiro de 2014 em agradecimento a Canonização de
Pedro Fabro.
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