"No princípio Deus criou
o homem, e o entregou ao seu próprio juízo; deu-lhe ainda os mandamentos e os
preceitos." (Eclesiástico, 15: 14-15)
Inspirado no testemunho
de Vida De Marcelo e Kelly. E no testemunho de vida de Rosabel e Salvador
Caros correspondentes
em Cristo, vocês já devem ter ouvido, com certeza, que num momento em que
alguém próximo a nós está passando por uma dificuldade muito grande, por uma
desolação ou mesmo por uma grave enfermidade – seja ela física, psicológica ou
até mesmo espiritual. Nos aconselham a entregar essa pessoa a Deus! Pois bem em
face a esses dois belos testemunhos de vida (que acompanhei de perto). Refleti
muito o quão pode ser mal interpretado esse “ato de entregar na oração uma
pessoa”.
Como eu, você já ouviu
dizer que tal pessoa ficou sofrendo no hospital ou na cama, porque um familiar
não o entregou! Já ouviram isso? É certo? É dogmático? Convido vocês a ponderar
peso que essa “ultima” pessoa terá se ela “não entregar” o seu ente querido ou
de quem “entregou” o enfermo por último. E então o enfermo falece!
O que se passará na
cabeça dessa pessoa – dor, culpa, negação, frustração e revolta com Deus. Ainda mais se essa pessoa pediu uma cura. E
mesmo que depois alguém venha tentar corrigir falando que foi “modo de dizer”.
Será uma ferida na alma. Por isso convido a vocês a refletirem no que a Bíblia
em conjunto com a Tradição e o Magistério nos tem a dizer sobre a Oração, a Vontade
e o Ato de Entrega.
Deus a nos criar com
esplendor da vida nos deu de início dois presentes inestimáveis, A vida e o
Livre arbítrio[1].
Ou seja, a cada um e somente a essa pessoa de forma direta, cabe querer seguir
os passos de Deus[2].
Já que “Em seu coração o homem planeja o
seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos” (Provérbios
16:9).
Entre as nossas duras experiências aprendemos que a oração nos ajuda a viver
melhor e aproveitar ao máximo a nossa vida. Aliás a vida é dada por Deus e nela
nos é precipitada a vontade de ser, querer, fazer[3].
E isso é ir de encontro “a verdade que nos torna livres” (Jo 8,32) sendo
que “É para liberdade que Cristo nos
Libertou” (Gálatas 5:1). Nós somos livres
para fazermos jus as nossas escolhas. E sempre devemos fazer com o juízo puro
confidente em Deus para termos as nossas decisões claras em nossa consciência e
assim: "Dou graças a Deus, a quem
sirvo com pureza de consciência, tal como aprendi de meus pais, e me lembro de
ti sem cessar nas minhas orações, de noite e de dia." (II Timóteo, 1:3).
E como ter a certeza
que nós faremos as escolhas certas? Bem é ai que entra a dádiva da oração ensinada
desde o Pentateuco, seja com Abraão nos momentos de provação[4],
ou na intercessão para salvação dos homens[5].
Ou nas orações contemplativas de Moisés[6] ou
o fervoroso clamor de Elias[7]. O
próprio Cristo orava as vezes a noite toda[8] e
ainda nos aconselha e nos ensina a orar[9]com
pureza de coração[10].
Aprendemos então que Novo Testamento que “a
oração é plenamente revelada e realizada em Jesus”[11]
Já que “A oração é a elevação da alma para Deus ou
o pedido feito a Deus de bens convenientes[12]”.
Devemos dizer que nossa vida é auxiliada com o penhor da oração[13] e que muito nos é conduzida pela força e graça
do Espírito Santo: “Vós não viveis
segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus mora
em vós.”( Romanos 8:9). E qual oração o Senhor
atende?
O Senhor atende a
oração do Justo[14]!
E essa oração tem grande Eficácia... E somos nós justos? Pedimos algo para nos
satisfazer? Para nos livrar do apuro? Com velocidade instantânea? Para saborear
a palavra de Deus? Para nos submetermos a Deus?
Vejamos o que Deus
ainda nos ensina sobre sermos pacientes e misericordiosos: “Tomai, irmãos, por modelo de paciência e de coragem os profetas, que
falaram em nome do Senhor. Vós sabeis que felicitamos os que suportam os
sofrimentos de Jó. Vós conheceis o fim em que o Senhor o colocou, porque o
Senhor é misericordioso e compassivo” (Tiago 5, 10 – 11).
A nossa oração e a
nossa vontade[15]
têm que estar submetida a vontade[16]
de Deus. Não importa o momento em que vivemos, seja na alegria ou na tristeza: “Alguém entre vós está triste? Reze! Está
alegre? Cante. Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes
façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé
salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados,
ser-lhe-ão perdoados. Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns
pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia”
(Tiago 5, 13 - 16).
E aquela pergunta desde
os tempos de catequese: “tudo, que foi criado deve estar sobre a vontade de
Deus, sendo que até as folhas e os frutos das árvores”[17]? Sim!
Atentem ao exemplo dado por Jesus: “Aproximando-se,
nada achou senão folhas; porque ainda não era tempo de figos. Disse-lhe: Nunca
jamais coma alguém fruto de ti; e seus discípulos ouviram isto”. “Olha, Mestre,
secou-se a figueira, que amaldiçoaste! Tornou-lhes Jesus: Tende fé em Deus. Em
verdade vos digo que quem disser a este monte: Levanta-te e lança-te no mar, e
não duvidar no seu coração, mas crer que se faz o que ele diz, assim lhe será
feito. Por isso vos afirmo: Tudo quanto suplicais e pedis, crede que o tendes
recebido, e tê-lo-eis” (Marcos 11, 12-14; 20-24).
Aprendemos que em nossa
oração devemos nos entregar a Deus. Assim nossa vontade deverá ser guiada pela oração[18]! Só
podemos entregar o que nos pertence, ou seja, nós mesmos. “Na oração, o homem deve aprender o que verdadeiramente pode pedir a
Deus, o que é digno de Deus. Deve aprender que não pode rezar contra o outro.
Deve aprender que não pode pedir as coisas superficiais e cómodas que de
momento deseja”[19]. Devemos
entregar a nossa VONTADE a Deus e a nossa vontade sobre o que queremos,
desejamos para nós e para as outras pessoas.
E isso é para nós muito
difícil. Entender que só podemos entregar a nossa VONTADE o que desejamos ou
queremos sobre a outra pessoa e NÃO ela em si. Mesmo num momento de extrema
pressão, desolação, enfermidade ou confusão, nós temos que entregar a nós mesmo
e o que desejamos a Deus: “e como
certifica a experiência cristã sobretudo na oração, quanto mais dóceis formos
aos impulsos da graça, tanto mais crescem a nossa liberdade interior e a nossa
segurança nas provações, como também perante as pressões e constrangimentos do
mundo exterior”[20]
E mesmo nos momentos em
que você esteja na loucura e perdendo a razão. Não ache que o silêncio de Deus
é por que ele não te ouve[21]!
Deus está! A nossa Vida tem começo meio e fim. E Deus nos mostra sinais e
milagres tanto quando uma criança vive ou um idoso falece e eles tocam a nossa
vida. Eu dou testemunho dos milagres que Deus fez na vida dessas pessoas, nas
orações Deus Agiu e eu presencie os milagres! “Deus dá a sua graça aos humildes” (1P 5,5), então não tenha medo
de se entregar[22]!
E quando se entregar entenderá que Deus também acolherá o outro. Já que a outra
pessoa pertence a Deus: "É a mim que
pertencem as vidas, a vida do pai e a vida do filho... O homem justo - que
procede segundo o direito e a equidade[23]".
Portanto: “Numa só palavra de Deus
compreendi duas coisas: a Deus pertence o poder, ao Senhor pertence a bondade.
Pois vós dais a cada um segundo suas obras”. (Salmos 62 – 11,12).
“Caros irmãos e irmãs, a
nossa oração abre a porta a Deus, que nos ensina a sair constantemente de nós
mesmos para sermos capazes de nos aproximar-nos do outro, especialmente nos
momentos de provação, para lhes levar a consolação, a esperança e a luz. O
Senhor nos conceda ser capazes de uma oração cada vez mais intensa, para
fortalecer a nossa relação pessoal com Deus Pai, abrir o nosso coração às
necessidades daqueles que estão ao nosso lado e sentir a beleza de ser “filhos
no Filho”, juntamente com muitos irmãos!” (Bento XVI)[24]
Derlei
Andriotta – Minions Católicos
[1] Ou como diz Santo Irineu de
Leão: “O homem é racional e, por isso, semelhante a Deus, criado livre e senhor
dos seus atos” (Contra as Heresias)
[2] (Leão XIII) Libertas. O Papa nos
ensina que ao homem cabe como senhor dos seus atos escolher se deve ou não
seguir a Deus e como seguir. E complementa que é dever santificado do homem
prestar culto a Deus.
[3] Filipenses 2:13
[4] Genesis 15, 2 – 3
[5] Genesis 18, 16 – 33
[6] Êxodo 3, 1 – 10.
[7] 1º Reis 18, 1 – 46.
[8] Lucas 6, 12 – 13.
[9] Mateus 6, 6 – 13.
[10] Mateus 6, 14 – 15 e Compendio do
Catecismo da Igreja Católica nº 544
[11] (Bento XVI) Jesus Em Oração
(catequeses), na Audiência Geral de 30 de novembro de 2011 e C.I.C. 541
[12] (São João Damasceno) Fontes do
conhecimento
[13] (Inácio de Loyola) Exercícios
Espirituais
[14] Thiago 5:16
[15] O Homem é livre de juízo e tem
liberdade de sua vontade e reponde por seus atos, o princípio do livre arbítrio
em como o homem exerce suas escolhas perante sua própria razão é uma das
belezas da Dignidade Humana. Cf. (Paulo VI) Dignidade Humana e C.I.C. 1730 –
1736.
[16] O homem é livre para escolher se
quer ou não submeter a sua vontade a Deus. A própria Igreja nos ensina que
colocar nossa vontade em harmonia com a de Deus não será fácil. Cf. C.I.C. 1742
e Oração da coleta do 32º domingo do Missal Romano
[17] Ezequiel 17:24
[18] (Irineu de Leão) Contra as
Heresias, (Leão XIII) EXEUNTE AM ANNO.
[19] (Bento XVI) O Esplendor da Fé
[20] C.I.C. 1742
[21] (Bento XVI) Oração e Silêncio:
Jesus o mestre da Oração (catequeses), na Audiência Geral de 07 de março de
2012
[22] (Leão XIII) EXEUNTE AM ANNO, se
entregar é se refugiar no criador cf. 22, 25,27
[23] Ezequiel 18, 4ª - 5
[24] (Bento XVI) A oração diante da
ação benéfica e curadora de Deus (catequeses), na Audiência Geral de 14 de
dezembro de 2011
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