Irmãos, atualmente a
Igreja celebra o mês das missões, mês onde a dimensão missionária da Igreja se
faz mais visível a todos nós. Hoje eu vivo como missionário na cidade de
Montevideo, Uruguai, e queria partilhar com vocês um pouco da experiência da
misericórdia dentro da dimensão missionária, pois contemplo a cada dia que a
missão não subsiste sem a misericórdia, que a oferta de vida que é própria do
ser missionário necessita constantemente ser lavada pela água do lado de
Cristo.
Antes de mais nada,
vamos deixar algo claro: todo cristão deve ser missionário! A tarefa da
evangelização, a proclamação do Kerigma, pertence a todos os batizados. O
impulso missionário nada mais é do que o reflexo natural de um coração que teve
uma experiência com o amor do Pai, a salvação do Filho e a força do Espírito
Santo. Ou seja, o ser católico e o ser missionário não são coisas que se possa
dissociar. Alguns vão dizer "ah, mas só é missionário quem sai do seu
país, quem deixa tudo", mas isso é uma mentira. Missionário é quem sai de
si mesmo, quem é capaz de contemplar a realidade de que a terra de missão,
antes de ser um lugar distante, é o coração de cada homem que está distante de
Deus e da Igreja, ou mesmo que está na Igreja e distante de Deus. Ser
missionário é, antes de mais nada, ter um coração alcançado pela misericórdia e
desejoso de anuncia-la.
A experiência da
misericórdia é um elemento fundante da missionaridade, porque necessita de dois
elementos: do reconhecimento da miséria da condição humana (minha) e do provar
concretamente a misericórdia de Deus. Quando eu tenho o contato e a consciência
da miséria do homem, o pecado do irmão que está distante não é mais uma
realidade distante, a qual eu posso simplesmente ignorar, mas é uma condição
semelhante a minha. A consciência da nossa miséria gera em nós a empatia pelos
nossos irmãos que também são miseráveis, que também necessitam de Deus, e é
necessária para que haja misericórdia, pois a mesma não existe sem a miséria.
Quando eu não me reconheço como miserável, eu posso simplesmente rejeitar o
irmão que não corresponde aos meus padrões, que não é "santo" como
eu, que não vive o que eu vivo, e eu estou bloqueando os caminhos do meu
coração, porque novamente, não existe misericórdia sem miséria.
Ao mesmo tempo, quando
eu conheço a minha miséria, quando o meu coração pobre, miserável, se rebaixa
ao lugar que lhe pertence, ocorre o mais belo encontro, o coração do homem é o
lugar onde o abismo do nosso pecado abraça o abismo da misericórdia de Deus. Na
experiência da misericórdia nós descobrimos que muito além da nossa miséria,
existe um amor que como misericórdia nos redime, que recobra a nossa dignidade.
Meu pecado não é mais a última palavra na minha vida! E se eu descubro essa verdade fundante da
nossa fé, que a nossa verdadeira dignidade não chega pela nossa perfeição, mas
pela salvação misericordiosa de Cristo, eu preciso anunciar esta que é a
esperança das nações. Quando eu mergulho no mar da misericórdia, eu tenho a
necessidade de levar para esse mar aqueles que ainda estão sujos. A
misericórdia, essa experiência concreta de amor e redenção, não permite que meu
coração e a minha vida fiquem paradas diante da miséria do homem, não permitem!
Um coração misericordiado necessita, sempre e em todos os momentos, estar num
movimento de saída para que o mundo conheça a misericórdia da Cruz. Eu, que
tive uma experiência com Deus, que provo do seu amor, não tenho o direito de
reter para mim as maravilhas que fez o Senhor, escuto Dele as mesmas palavras
que Maria Madalena ouviu "não me retenhas, vai e diz aos meus que eu
vivo", vai e diz ao homem pecador que já chegou o perdão e a salvação, que
o poder da morte não pode mais nos subjugar.
Por fim, irmãos,
peçamos ao Senhor que essa experiência seja constante, diária em nossas vidas.
Que possamos todos os dias, com o coração contrito, olhar e reconhecer a nossa
miséria e deixar que ela seja abraçada pela misericórdia, que não permite que a
minha miséria seja obstáculo ou fonte de paralisia, mas que a transforma num
lugar de encontro com o amor misericordioso de Deus e com os meus irmãos que
também precisam fazer essa experiência. Que sejamos no mundo de hoje
missionários movidos pela misericórdia, com um coração pobre e compassivo, para
andar pelas veredas da terra e proclamar a vitória do amor que é mais forte que
o meu pecado.
Shalom!
(Rodrigo
Damasio – Minions Católicos)
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