“Reino
do Céu sofre violência, e são os violentos que procuram tomá-lo”
(Mt 11:12)
Caros Correspondentes em Cristo,
tudo bem? Que a paz do Deus Trino e a proteção dos santos anjos estejam sempre
convosco. Com o suave alento de nossa Mãe Maria!
Estamos em tempo quaresmal, e
antes de finalizar nosso longo estudo sobre os documentos da Igreja vamos
refletir sobre o tema muito oportuno colocado por nossa Conferência Nacional de
Bispos do Brasil – C.N.B.B., sobre a Superação da Violência.
Primeiro vamos olhar o conceito
de violência: “A violência direta é que
chama mais a atenção. Essa forma de violência acontece quando uma pessoa usa a
força contra outra. Mais de um agressor e mais de uma vítima podem tomar parte
em tal evento. Porém, vemos crescer sempre mais as formas coletivas e
organizadas da prática de violência”[1]
Essa definição que está no texto base da Campanha da Fraternidade desse ano
ainda completa: “De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência se caracteriza pelo uso
intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de
pessoas. Essa violência pode resultar em dano físico, sexual, psicológico ou
morte.[2]”
E se você como muitos, deve
pensar: “não, não... eu sou da paz, fujo de brigas, não dou tapa nem em
mosquito”. Pois bem um famoso Sociólogo Francês chamado Pierre Bourdieu, nos
constata que existe uma forma de Violência sutil, chamada Violência Simbólica[3].
Esse tipo de violência
infelizmente nós sofremos e praticamos muito, pois ela faz parte das nossas
relações estruturais e culturais e influenciam nas pessoais[4].
É difícil de compreender e até mesmo de definir a Violência, pois muitas vezes
nós não nos enxergaremos com praticantes dessas violências. A definição dada pelo
sociólogo francês é: “A violência
simbólica consiste em uma violência que se exerce com a cumplicidade implícita
dos que a sofrem e também, com frequência, dos que a exercem, na medida em que
uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la”
Muito difícil de compreender não.
Como assim eu posso ser cúmplice num ato de violência. Pois bem como diz o
texto base da CF, “Quando uma pessoa usa a força contra outro” esse tipo de
força são as físicas, as culturais, as psicológicas. Quando agredimos,
utilizamos indiretas, não somos compreensivos, somos severos e amedrontamos as
pessoas. Quando nos calamos e não denunciamos acabamos por ser cúmplice dessa
violência simbólica!
E infelizmente em nossos meios
Pastorais, comunitários, paroquiais se faz muito forte a violência espiritual.
Praticado principalmente por lideranças ou pessoas que tem um apreço pelo
poder. Geralmente essas pessoas que detém um certo carisma social se colocam
como grandes portadores de conduta, ou como piedosos seguidores da tradição.
Entretanto essas pessoas utilizam de muita severidade, de muita violência para
fazer com que os membros das pastorais ou movimentos, cumpram a sua vontade.
Correspondentes eu também fiquei
chocado quando um padre amigo, pediu minha opinião sobre esse assunto, por isso
resolvi escrever esse texto. E depois de uma pesquisa descobri que esse é um
mal muito grande em nossa atualidade. Pois são várias as reclamações de que
coordenadores ou líderes ameaçam de forma velada, em geral tirando trechos da
Sagrada Escritura, para desvalorizar a presença e o trabalho dos demais fiéis
ou para tratá-los com severidade, reprovando sua conduta ou mesmo
desaprovando/desmerecendo os seus trabalhos.
Sendo para que essas pessoas,
“nada estará bom” e sempre, sempre colocará palavras ásperas, duras, rudes e
até cruéis e, só depois com pontuais elogios. Quando muito essas pessoas ainda colocam
com ironia bem-humorada, fazendo pequenos chistes e piadas para não qualificar
totalmente o trabalho dos outros fiéis. E tudo isso com o viés de ressaltar e
legitimar o seu poder!
E o que nos permite consentir e
ainda ficar nesses atos de violência? Quando o pensador francês fala do ato de
cumplicidade é exatamente disso que ele quer nos mostrar. A pessoa violenta age
em nossa mente, mostrando que a violência que sofremos é de nossa culpa, por
não ter cumprido os objetivos, por não ter feito como “Deus mandou”.
Que a “coisinha”, “o detalhe”,
aquilo que não fez “ser ótimo” é mostrado com severidade como punição. Os
nossos erros e deslizes são colocado por esses líderes como faltas! Falta de
confiança, falta de humildade, falta de esperança, falta de zelo, falta de amor
à missão, falta de amor à igreja.[5]
E muitas vezes ainda utilizam de
mais violência nos condicionando a versículos bíblicos, textos de santos que
quer nos punir e repreender! E constantemente nos dão indiretas ou diretas, nos
ameaçando punindo com a “perca” de cargos, de coordenações menores, ou até a
remoção temporária ou permanente do movimento ou da pastoral, bem como de outras
missões! Assim o agressor violento age para desqualificar, desmerecer, debochar
e desacreditar a vítima[6].
E em alguns casos esses líderes,
coordenadores ou pessoas que praticam a violência se mostram frágeis – com
problemas sociais, pessoais ou de saúde, usam esse artifício de fragilidade
piedosa, para que compadecemos dele e entendamos que frente a tudo que eles
passaram e passam, os tornam pessoas exigente, difíceis, mas que “estão com
Deus”. E constantemente nos lembram de tudo que perderam e tudo que fazem pelo
“nosso bem”, “pela salvação das almas”[7].
Desse modo ficamos submetidos a essa
pessoa, nos tornamos cúmplices por medo de perder o cargo, ou pior por medo do
julgamento dessa pessoa, do julgamento que Deus faz por essa pessoa. Ficamos
com medo e justificamos que é melhor sofrer essa violência que “ela é pouca”
perto do bem espiritual que nossa missão pastoral ou movimento pode fazer. E
com isso nos aquietamos (acovardamos) o que tem de errado nisso. Consentimos
que a violência seja praticada com mais pessoas. E assim continuam, com a
capacidade de se colocar como “vitima”, de que entendemos errado a manipular a
verdade[8].
A isso São João Paulo II adverte:
“Pretender impor aos outros com violência aquilo que se presume verdade,
significa violar a dignidade do ser humano e, em última instância, ultrajar a
Deus, de quem aquele é imagem”[9]
Esse assunto inclusive já foi
pauta em muitas discussões da nossa Igreja, no Compêndio da doutrina Social da
Igreja e da versão jovem o DOCAT que aponta: “no século XX as pessoas foram
sacrificadas por ideologias. Nem mesmo o próprio princípio da religiosidade
está imune a abusos”[10].
Por isso caros correspondentes que nós possamos denunciar, para o padre ou o
bispo se você passa por algum tipo de violência inclusive a motivada e
provocada pelos meios digitais – facebook, whatsapp e outros.
Desse modo a CF em seus eixos de
ver, julgar e agir, nos convida em nossas casas, nossas comunidades, nossas
ações pastorais de refletir e superar todas as formas de violência!
E possamos seguir o exemplo do
Apóstolo Paulo: “Certamente vocês ouviram falar do que eu fazia quando estava
no judaísmo. Sabem como eu perseguia com violência a Igreja de Deus e fazia de
tudo para arrasá-la” (Gl 1:13) e nos versículos adiante podemos notar o quanto
se arrepende dessa vida de violência e agradece por ser reconhecido como
cristão: “Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora combatia”
(Gl 1:23)
“Como Maria em sua
infinita misericórdia, rezemos juntos por todos os vitimados desse mundo, que o
acalento de seu colo materno encontrem o poder do perdão para “perdoar todas as
suas culpas e curar todos os teu males”[11]
Derlei Andriotta - Minions Católicos
[1]
Texto base da CF 2018
[2]
Texto base da CF 2018
[3]
(Pierre Bourdieu) Poder Simbólico, Razões e Práticas, Sobre a Televisão
[4]
(Pierre Bourdieu) Poder Simbólico e Texto base da CF 2018
[5]
Os comportamentos sintomáticos aqui elencados e ilustrados nos contextos e
situacionais, tanto por que sofre ou quem prática a agressão, foram descritos a
luz do Manual diagnostico e estatístico dos transtornos mentais – DSM-V – e o
Código Internacional de Doenças para transtornos psíquicos (CID 10).
[6]
Os comportamentos sintomáticos aqui elencados e ilustrados nos contextos e
situacionais, tanto por que sofre ou quem prática a agressão, foram descritos a
luz do Manual diagnostico e estatístico dos transtornos mentais – DSM-V – e o
Código Internacional de Doenças para transtornos psíquicos (CID 10).
[7]
Os comportamentos sintomáticos aqui elencados e ilustrados nos contextos e
situacionais, tanto por que sofre ou quem prática a agressão, foram descritos a
luz do Manual diagnostico e estatístico dos transtornos mentais – DSM-V – e o
Código Internacional de Doenças para transtornos psíquicos (CID 10).
[8]
Os comportamentos sintomáticos aqui elencados e ilustrados nos contextos e
situacionais, tanto por que sofre ou quem prática a agressão, foram descritos a
luz do Manual diagnostico e estatístico dos transtornos mentais – DSM-V – e o
Código Internacional de Doenças para transtornos psíquicos (CID 10).
[9]
(São João Paulo II) Mensagem para o dia mundial da paz 2002.
[10]
DOCAT – como agir 215.
[11]
Jovens na CF
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