E
aí, meus queridos amigos. Tudo bem com vocês? Espero que estejamos bem e
felizes no amor e na constância de Deus. Por falar em amor, esse sentimento que
todos nós sentimos ou desejamos sentir ainda mais, fico pensando em como
podemos, de forma CONCRETA definir o
amor de Deus e entendê-lo. Sei que muitos, talvez, pensarão que definir o amor
não é possível. Eu, sinceramente, também penso que definir o amor é impossível
porque ele não cabe nas palavras. Sobretudo, ao se falar sobre o amor de Deus,
não há palavras humanas capazes de descrevê-lo ou de ao menos, defini-lo. Sou
daqueles que acredita que amor é vivido e não definido. Sou daqueles que
defendem a teoria que definir algo é limitá-lo. Sei que talvez, aos olhos
humanos, chega a ser utópico tentar definir um sentimento tão extraordinário,
como o amor. O amor transforma as nossas vidas. O amor é capaz de alterar a nossa
consciência sobre nós mesmos. O amor é aquele sentimento que chega e muda as
concepções que nós tínhamos sobre o mundo, sobre os outros e também sobre nós
mesmos. O amor é aquilo que chega e dá cor ao dia a dia, sentido ao existir,
alegria e razão para viver. O amor é indispensável à condição humana. Porém, o
meu objetivo ao longo deste texto não é apenas definir o amor. Não é isso! É
buscar entender. Entender como um Deus ama assim...
Eu
fico buscando entender como Deus nos ama a ponto de sacrificar a sua própria
vida por mim. Ao olhar para a imagem de Cristo crucificado, que padeceu por
meus pecados, através de olhos meramente humanos vejo um homem, vítima, que
morreu por amor. Mas através de olhos espirituais vejo um Deus que passou da
morte, e morte em cruz (Filipenses 2, 8), para a vida eterna para provar o seu
amor. E percebo que somente o amor é capaz de permanecer. E por isso Cristo
disse: “Permanecei no meu amor” (João 15, 9-17) no momento em que Ele celebra a
última ceia, momento este que ele irá chegar ao ápice de toda demonstração de
amor que a humanidade já viu. E permanecer no amor é amar sempre, desde antes
de eu existir (1 João 4, 10), continuando a me amar mesmo quando eu não mereço,
e me amando de forma tão irrestrita e incondicional após a morte.
Eu
fico tentando compreender esse amor tido como ágape. Como sou digno de receber
esse amor sendo que eu sou tão falho e pecador? Como poderia entender um amor
que se sacrifica por mim sendo que eu não sou capaz de fazer o mesmo por Ele?
Como posso ser digno de que meu Salvador me ame de forma tão máxima quando eu O
ofereço o mínimo de mim mesmo?
João,
ao afirmar que “Deus amou o mundo de tal
maneira que entregou seu filho único para todo aquele que nEle crer não pereça,
mas tenha a vida eterna” (João 3, 16) percebo que o amor de Deus, na forma
de pessoa em Cristo, Jesus, é maior que tudo e que todos. Até mesmo o nosso
entendimento humano. Não posso merecer um amor assim. Mesmo assim se entregou
totalmente por amor. Que ousado amor de Deus! Ousado pois ousa a amar aquele
que não o ama de volta. É um amor incondicional que não se cansa de amar. É um
amor incondicional que não deixa de amar aquele que não O ama de volta. Que
amor é esse? Nós, quando amamos aquele que não nos ama de volta, deixamos de amar.
Então, como compreender o amor assim?
Sei
que muitos filósofos e teólogos tentaram definir o amor de Deus e ajudar os
homens, à luz da razão, a compreender o amor de Deus. Mas, particularmente
falando, quanto mais leio e estudo sobre o amor de Deus, menos consigo
compreender como o amor é grandioso. Sobretudo, quanto mais penso no amor de
Deus, menos consigo entender como Ele ainda consegue continuar me amando mesmo
após ter sido tão falho com Ele.
Sei
que o amor de Deus é ágape, como estudamos através das definições de amor
baseado nos filósofos gregos. Sei também que o amor é forte como a morte
(Cântico dos Cânticos 6,8), sei também que o amor é “paciente, bondoso. Não sente inveja, não é orgulhoso. Não é arrogante.
Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não
guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” E o principal: sei que
o amor jamais acabará (I Coríntios 13, 4-8). Mas embora saiba de tudo isso,
como entender esse amor grandioso de Deus que jamais acaba?
Aristóteles
dizia que Deus move o mundo porque é amado (1). Ou seja, que é objeto de amor
por parte dos homens. Ou seja, que os homens amam à Deus, por dever (“De diligendo Deo”) ou obrigação e por
esse amor, Deus move o mundo. Porém, não é assim. O que move o mundo é o amor
de Deus e não o amor “por” Deus. E além disso, João explica que Deus nos amou
primeiro. Não fomos nós que escolhemos amar a Deus. Deus escolheu nos amar
primeiro. “Nisso está o amor: não fomos
nós que amamos a Deus, mas Ele quem nos amou” (1 Jo 4,10). Disso depende
todo o resto, incluída a nossa própria possibilidade de amar a Deus: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1
Jo 4,19). E à partir de amor, somos criados e à partir desse amor, Ele move o
mundo.
E
sobre isso, São João também afirma: “No
princípio era o amor, o amor estava junto de Deus e o amor era Deus”. E
João diz ainda mais. E esse é o ponto crucial para a compreensão do amor de
Deus. João afirma: “Deus é amor” (1
João 4, 10). Está aí o segredo do amor. Porque ele define Deus como sendo amor.
Logo, o amor também é Deus. Deus é amor! Se entendermos o amor de Deus,
entenderemos à Deus. O amor de Deus é de difícil compreensão justamente porque
é Deus, justamente porque Deus é amor. E se entendermos o amor de Deus, temos
que, inevitavelmente, entender a Deus.
Nesse
sentido, Santo Agostinho chega a nos afirmar: “Se não houvesse, em toda esta carta e em todas as páginas da
Escritura, nenhum elogio do amor além desta única palavra, que Deus é amor, não
precisaríamos de nada mais” (2)
Deus
é amor e isso nos basta. É um amor que não tem interesse, não quer nada em
troca. A vontade vinda desse amor é boa, é agradável para nós. É um amor que
perpassa a história da humanidade e continuará por todos os séculos pois é um
amor sem fim.
Deus
é amor! E não há como mudar isso! E o mais belo: Deus, sendo amor, e Deus, se
encarnando, ou seja, assumindo figura humana, aceitando ser um ser humano, com
todas as condições humanas, exceto o pecado (Hebreus 4, 15), fez com que o Amor
se tornasse uma PESSOA! Ou seja, o amor é uma pessoa: Jesus Cristo. O amor
assumiu um rosto, um nome. O amor tem uma definição: JESUS CRISTO!
Se
por alguma hipótese improvável, Deus existisse mas não fosse amor, nós, seres
humanos, teríamos muito mais a temer do que amar à Deus e nos alegrarmos com
sua existência. E era isso que ocorria com os povos primitivos e civilizações.
Deus
escolheu se encarnar e manifestar o seu amor grandioso por AMOR e PARA AMAR!
Padre Raniero afirma que “Deus é amor em
si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre Ele tem em si um Filho, o Verbo,
a quem ama com amor infinito, que é o Espírito Santo. Em todo amor há sempre
três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une”. Ou
seja, o amor de Deus existe antes de tudo e une Deus Pai e Deus Filho. Mas esse
amor não parou aí. Deus quis continuar amando e por isso criou os homens.
Deus
sendo amor, cria o amor. E por amor, cria o mundo. E nos cria!
E
por que Ele nos cria? Eis a pergunta fundamental e que está presente no
Catecismo da Igreja Católica. O catecismo antigo de Pio X afirma que fomos
criados “para conhecê-lo, amá-lo e
servi-lo nesta vida e desfrutá-lo na outra, no paraíso”. Mas Padre Raniero
afirma que a resposta é parcial. Segundo o pregador oficial da casa Pontifícia,
fomos criados porque Ele nos ama!
E
esse amor, tão grandioso de Deus, obrigou a nos criar. E ele nos criou mesmo
sabendo que iríamos falhar. Mesmo sabendo que iríamos pecar.
Nesse sentido, Santa
Catarina de Siena afirma: “Como criaste,
então, ó Pai eterno, esta tua criatura? […] O fogo te obrigou. Ó amor inefável!
Embora em tua luz previsses toda as iniquidades que a tua criatura cometeria
contra a tua bondade infinita, agiste como se não visses, e pousaste a vista na
beleza da tua criatura, da qual, como louco e ébrio de amor, te enamoraste e,
por amor, a extraíste de ti, dando-lhe o ser à tua imagem e semelhança! Tu,
verdade eterna, declaraste a mim a tua verdade: que o amor te obrigou a
criá-la”.
Padre
Raniero chega a afirmar que esse amor, baseado no enxerto de Santa Catarina,
não é apenas ágape! É eros também. Pois é atração pelo próprio objeto, é
fascínio pela sua beleza.
Eu
fico pensando em como Deus ainda consegue me amar mesmo sabendo do meu pecado.
Eu fico me perguntando como pode me amar mesmo sabendo que eu sou falho, mesmo
sabendo o que eu faço de errado.
“Eu não
entendo um Deus assim
Tão
louco de amor por mim
Eu não
mereço, sou tão fraco,
Por quê
ele me escolheu?
(Diego Fernandes – Eu não esqueço)
E
esse amor continua......”
1.
Aristóteles, Metafísica, XII, 7, 1072b.
2.
S. Agostinho, Tratados sobre a primeira
carta de João, 7, 4.
(Wesley Fernandes Fonseca – Minions Católicos)
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