O tempo!

E aí, meus queridos amigos. Tudo bem com vocês? Como estão? Espero que estejam na santa paz deixada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Adentramos no mês de maio. Como o tempo passa rápido! Ontem mesmo estávamos celebrando o Natal do Senhor. Hoje em dia já estamos no esplendor do tempo Pascal. E como a dinâmica da vida é singular e linda. O tempo nos ensina muito nessa vida. O tempo nos ensina, através das experiências que passamos, a sermos melhores a cada dia. Nada como um dia após o outro, já dizia minha sábia mãe. E, com o passar dos dias, vamos aprendendo. Aprendemos e crescemos, sujeitos às adversidades que a vida nos impõe. O tempo nos ensina e faz com que fiquemos melhores. A partir daí que origina a frase que virou jargão popular: “como o vinho”. Sim, tal como o vinho, o qual com o tempo tende a ficar melhor devido ao processo de fermentação, se armazenado de forma correta, nós também temos a oportunidade de nos aperfeiçoarmos com o passar do tempo.
A dinâmica do tempo sempre me encantou muito, sobretudo como o tempo é retratado na Bíblia e como o tempo é importante para Deus. Deus, em sua magnitude, em toda sua sabedoria, uma vez que é Onisciente, ou seja, aquele que tem o saber absoluto, sabendo de todas as coisas, tinha sabedoria suficiente para criar o mundo instantaneamente. Dito em outras palavras: Deus, se quisesse, poderia ter criado o mundo, incluindo suas criaturas e, incluindo também a nós, seres humanos, num instante só. Deus poderia ter feito isso, já que além de Sábio Plenamente, tem poder para tal, uma vez que é Onipotente. Porém, Deus não agiu de tal maneira. Deus criou o mundo de forma sequencial, obedecendo uma sequência lógica e temporal. O tempo foi imprescindível para a criação do mundo e tudo que nele há, segundo lemos em Gênesis 1. Deus, o motor imóvel que tudo move sem ser movido, tal como afirma São Tomás de Aquino ao centralizar o teorema de Aristóteles, criou, à partir do nada, o tudo. É importante ressaltar, neste ponto, que Deus criou o mundo do nada, tal como afirma o Catecismo da Igreja Católica: “cremos que Deus não precisa de nada preexistente nem de nenhuma ajuda para criar. A criação também não é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente ‘do nada’ (§296)”. E inclusive isso já foi comprado pela ciência, no artigo intitulado “Criação espontânea do universo a partir do nada” publicado pela revista “Physical Review D”. Porém, a criação obedeceu o tempo. Convém recordar que a Bíblia relata a ação do Criador, simbolicamente, como uma sequência de seis dias «de trabalho» divino, que terminam no «repouso» do sétimo dia (Gn 1,1-2,4)" (Catecismo, 337). É o que se observa através dos escritos deixados por diversos santos, tal como São Basílio, São Gregório de Nissa, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, São Jerônimo e São Gregório Magno, embora Santo Agostinho tenha uma visão peculiar neste aspecto.
Porém, o tempo é de fundamental importância. Vale lembrar que em Eclesiastes 3 o tempo é retratado pelo autor sagrado de forma belíssima. Ao afirmar que “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar; tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se.” (Eclesiastes 3, 1-5).
O embate sobre o tempo é interessantíssimo pois muitas vezes não sabemos administrar o nosso tempo. Temos dificuldade e o que mais fazemos é questionar tudo e todos à respeito do tempo. Queremos e exigimos que as coisas aconteçam à nosso tempo e não no tempo Deus. Não temos paciência para, de fato, esperar no Senhor e deixar que no tempo de Deus as coisas possam acontecer, se assim for da vontade dEle. Não sabemos lidar com a dinâmica do tempo e escutamos sempre por aí que o “tempo está passando rápido demais”. Pior ainda: temos o defeito de procrastinar desenfreadamente. A preguiça nos consome. Nós enrolamos a nós mesmos, enrolamos os outros, enrolamos tudo e mais um pouco. Sempre deixamos para depois sendo que sabemos que quando o depois chega, as vezes, já está tarde demais. Deixamos para depois o que poderíamos fazer agora. Deixamos para estudar depois, deixamos para melhorar depois, deixamos para amar depois.
São Bernardo afirmava que “não há nada mais precioso que o tempo; e nada há que seja mais desprezado pelos mundanos". Nós desprezamos o tempo e ignoramos que o tempo também é criatura de Deus. É interessante pensar nisso porque sempre quando o tempo se esgota, o que mais queremos é ter tempo, sendo que ignoramos consideravelmente o tempo, tempos atrás. São Bernardo chega a afirmar ainda: “Desdenhado tempo! Tu serás o que os mundanos desejarão mais na hora da morte!”. E é a mais pura e simples verdade nessa vida. Nesse sentido, São Lourenço chega a afirmar: “ainda que fosse apenas para obter uma única hora, cada um daria todos os seus bens”.
Nós perdemos tempo na vida. Santo Afonso chega a dizer: “Vê o jogador que gasta dias e noites no jogo. Se lhe perguntares: “Que estás fazendo?”, responderá: “Estou passando o tempo”. Vê o ocioso que se entretém horas inteiras nas ruas, a ver quem passa, ou as desperdiça em conversas indecentes ou inúteis. Se lhe perguntares: “Que estás fazendo?”, responder-te-á igualmente: “Procuro passar o tempo”. Pobres cegos, que desperdiçam tantos dias que não voltam mais!”. Embora seja uma frase tipicamente clichê, sou obrigado a escrevê-la: “O tempo não volta atrás, o que volta atrás é a vontade de voltar no tempo”. Nós temos vontade de voltar no tempo e ter atitudes diferentes. Morremos de vontade de voltar no tempo para consertar algum ato ou para evitar algum pecado. Mas o pior: temos muita vontade de voltar no tempo para ter tempo de fazer algo diferente e poder amar as pessoas de uma outra maneira. Me diga: se você pudesse voltar no tempo, você voltaria? E o que faria de diferente? O tempo te ensinou alguma coisa?
Nesse sentido, ainda refletindo sobre o tempo, estamos cansados de ouvir por aí pessoas dizendo frases como: “Eu não tenho tempo para isso” ou frases como “Gostaria que meu dia tivesse mais que 24 horas para poder dar tempo de fazer tudo que eu tenho que fazer”. Irmãos, parece que estamos numa competição. Estamos competindo para ver quem trabalha mais, quem fica mais cansado, quem tem menos tempo disponível para o outro. Parece que ninguém tem tempo de nada. Ninguém tem tempo para servir à Deus. Parece que a desculpa esfarrapada de “Ah, não vai dar. Não tenho tempo” é a segunda frase mais ouvida deste século, perdendo apenas para a frase: “Segue de volta”. Meu Deus do céu, parece que ninguém tem tempo nessa vida. E sabe o que é pior? O que Deus exige de nós é justamente isso: o TEMPO!
Nós precisamos dedicar um tempo para Deus. Esta é a lei natural, lei que rege antes de todos os tempos. Eis o fundamento do terceiro mandamento da Lei de Deus. Ninguém ama uma pessoa e não quer estar com ela. Só é possível se relacionar através do tempo e com o tempo, segundo afirma o padre Paulo Ricardo. Mas muitos de nós tem evitado passar um tempo com Deus justificando que não tem tempo para isso. Aliás, muitos chegam a afirmar que não tem tempo para nada. Viver sempre ocupado não é uma consequência dos nossos tempos. É uma escolha. Já dizia minha avó: “quem quer, de verdade, arruma um jeito, quem não quer, arruma uma desculpa”. A desculpa do tempo de hoje é a falta de tempo. Não temos tempo de encontrar um amigo. Não temos tempo para viver. Não temos tempo para amar direito. Tudo é na correria, na pressa. Há uma frase que diz: “quem não tem tempo para amar, morre por dentro a cada segundo”. Estamos morrendo. Estamos nos matando a cada segundo. É necessário ter tempo para amar porque isto é o que nos difere. É ISTO QUE NOS TORNA ESPECIAIS: O TEMPO!
No livro do Pequeno Príncipe, percebemos como a experiência do tempo é singular e precisa para o amor. A raposa chegou a dizer ao Principezinho: “Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante para ti“. Vocês perceberam a dinâmica do tempo?? Vocês perceberam quão importante o tempo é? E aí? Você tem tempo para o especial chegar e adentrar na sua vida? Mas mais uma coisa me chama a atenção na frase da Raposa. Irei reescrever: “Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante para ti”. Perceberam o emprego do “perdeste”? Será que o tempo é perdido? Lembro-me agora de um poema de Santa Teresinha que diz:
"Viver de Amor, que estranha loucura!"
Diz-me o mundo: "Ah, cessa de cantar,
não percas teus perfumes, tua vida,
Utilmente procura empregá-los!..."
Amar-te, Jesus, que perda fecunda!...
Todos meus perfumes são teus sem retorno,
Eu vou cantar ao sair deste mundo:
"Eu morro de Amor!"
 (Poesia 17, Viver de Amor, Santa Teresinha do Menino Jesus)

A Santa diz que amar Jesus é uma perda fecunda. Padre Paulo Ricardo afirma que “A "perda de tempo" dos que amam a Deus é, portanto, o "santo desperdício" de quem ganha a eternidade!”.  Não há nada mais belo e válido do que gastar nosso tempo com o amor, sobretudo, com o amor à Deus, porque no final, será o único que nos restará e a melhor parte não nos será tirada “Lucas 10, 42).
Santo Afonso escreve que no final “a consciência recordará então àquele homem descuidado o tempo que teve e que empregou em prejuízo da sua alma: todos os convites, todas as graças que recebeu de Deus para se santificar e que não quis aproveitar. Depois verá que lhe faltam os meios de fazer qualquer bem. Exclamará gemendo: “Como fui insensato! Ó tempo perdido! Ó vida perdida! Ó anos perdidos, durante os quais podia santificar-me e não o fiz! Agora já não há tempo…”. De que servirão, porém, estas lamentações e suspiros quando a cena já está no fim, quando a lâmpada está próxima de apagar-se e quando o mundo está próximo do momento terrível de que depende a eternidade?”
Tenhamos pressa de perder tempo com o que é válido nesta vida, pois quem escolhe Jesus não perde nada, ganha tudo, como disse o papa Bento XVI.

(Wesley Fernandes Fonseca – Minions Católicos)

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